sexta-feira, abril 04, 2014

Bergman x 17 (9)

EM BUSCA DA VERDADE (1961)
Grande acontecimento em Lisboa e Porto (e mais algumas cidades): a apresentação de 17 filmes de Ingmar Bergman (1918-2007), a maior parte em cópias restauradas — razões de sobra para rever algumas imagens emblemáticas da filmografia do mestre sueco.

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Em Busca da Verdade é o filme charneira na evolução de Bergman, libertando-se definitivamente das résteas de simbolismo metafísico — de que O Sétimo Selo (1957) terá sido o mais forte emblema — e privilegiando os labirintos emocionais das personagens. Surge, aliás, tradicionalmente identificado como o primeiro elemento da trilogia "Deus e o Homem", completada com dois títulos de 1963: Luz de Inverno e O Silêncio. A circunstância de se tratar de uma história rasgada por muitos desequilíbrios familiares — uma mulher (Harriet Andersson) regressa a casa, depois de uma estadia numa instituição para doentes mentais, deparando com um marido distante (Max von Sydow) e um pai ansioso (Gunnar Björnstrand) — é inevitavelmente sintomática. E tanto mais quanto a sombra da loucura remete para a figura perdida da mãe. É o primeiro filme que nos permite vislumbrar o efeito determinante da colaboração com o director de fotografia Sven Nykvist (que, um ano antes, já assinara as imagens de A Fonte da Virgem, ainda claramente ligado aos pressupostos anteriores da caminhada artística de Bergman) e também o primeiro que o cineasta rodou na ilha de Fårö — o novo cenário natural surgiu, aliás, de uma sugestão do próprio Nykvist. Quando observamos a geometria tensa dos actores (da esquerda para a direita: Björnstrand, Sydow e Andersson), podemos pressentir o contributo decisivo do trabalho com Nykvist: a luz, mais do que uma matéria de dramatização, passa a ser um instrumento de permanente recomposição das regras clássicas do plano cinematográfico.