segunda-feira, janeiro 13, 2014

Bergman x 17 (1)

A PRISÃO (1949)
Grande acontecimento em Lisboa e Porto: a apresentação de 17 filmes de Ingmar Bergman (1918-2007), a maior parte em cópias restauradas — razões de sobra para rever algumas imagens emblemáticas da filmografia do mestre sueco.

Há qualquer coisa de irónico e premonitório no facto de um dos primeiríssimos títulos da filmografia de Bergman envolver o trabalho do cinema. A Prisão, o primeiro que dirigiu a partir de um argumento de sua autoria, relata a história de um realizador assombrado pela hipótese de fazer um filme sobre o Diabo... Mais do que isso: na sua deambulação iconográfica, emergem imagens como esta que não podemos deixar de aproximar de outras que iriam pontuar de forma radical alguns dos seus trabalhos mais perfeitos  — sendo A Máscara (1966) a primeira e óbvia recordação. Dir-se-ia que, ao assumir-se plenamente como criador, Bergman reconhecia a condição narrativa do cinema como indissociável do primitivismo da lanterna mágica. Será preciso recordar que o seu livro autobiográfico se chama Lanterna Mágica? E que nele o autor nos recorda que um filme não é um "documento", mas um "sonho"? Sendo o sonho, entenda-se, a realidade acedendo à verdade do seu próprio excesso.