quarta-feira, janeiro 15, 2014

Bergman x 17 (2)

UM VERÃO DE AMOR (1953)
Grande acontecimento em Lisboa e Porto: a apresentação de 17 filmes de Ingmar Bergman (1918-2007), a maior parte em cópias restauradas — razões de sobra para rever algumas imagens emblemáticas da filmografia do mestre sueco.

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A geometria dos bastidores é um jogo de espelhos — a partir de uma história de memórias e sua assombração, Bergman constrói um drama cujo lugar de origem é o palco, ou melhor, os artifícios da representação (a partir da personagem de uma bailarina interpretada pela admirável Maj-Britt Nilsson). E não deixa de ser desconcertante como, tantas vezes, dizemos que a sua arte é indissociável de toda uma teatralidade obviamente ligada aos textos de autores marcantes (a começar por August Strindberg). Claro que sim. Mas importa acrescentar também que a importância de tal dimensão nada tem a ver com a "transcrição" do que quer que seja, mas com a reinvenção formal do palco em termos cinematográficos. Daí a pureza visual de imagens como esta — dir-se-ia que os olhares estão ausentes um do outro e, no entanto, compreendemos que cada personagem está também a construir a sua visão da outra.