domingo, fevereiro 16, 2014

"Her": o homem e o computador (2/3)

Her - Uma História de Amor é a prova muito real das singularidades temáticas e criativas do realizador Spike Jonze: desta vez, os enigmas do comportamento humano passam pela identidade das máquinas (e por uma voz de computador...) — este texto integrava um dossier sobre o filme, no Diário de Notícias (12 Fevereiro), tendo sido publicado com o título 'Filmes e máquinas do mundo virtual'.

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A relação que Joaquin Phoenix estabelece com o seu computador é mais uma variação sobre um tema obsessivo da modernidade: a coexistência, ora trágica, ora romântica, de seres humanos e máquinas.
2001: Odisseia no Espaço (1968), de Stanley Kubrick, corresponde a um momento nuclear de tal temática, com Keir Dullea e Gary Lockwood a interpretar dois astronautas a caminho de Júpiter, confrontados com HAL 9000, um computador “demasiado” inteligente e imprevisível. Seja como for, a inteligência dos computadores gerou também narrativas bastante mais ligeiras, como Electric Dreams (1986), de Steve Barron: em tom de comédia romântica [video], desenhava-se um triângulo amoroso formado por uma jovem violoncelista (Virginia Madsen) e aqueles que dela se enamoram: um arquitecto (Lenny Von Dohlen) e um computador de nome Edgar...


A evolução da informática e o “boom” da Internet trouxeram ao cinema muitas narrativas em que o mundo virtual adquire um papel determinante, algures entre a utopia e o apocalipse. Jogos de Guerra (1983), de John Badham, ilustra uma faceta eminentemente popular dessa lógica, cruzando o espírito de aventura e o suspense típico do policial para contar a história de um jovem “hacker” (foi o papel que projectou Matthew Broderick) que julga participar num inofensivo jogo denominado Guerra Termonuclear Global — de facto, está a penetrar no sistema de segurança militar dos EUA [video].


Enfim, inevitável será lembrar a trilogia Matrix (1999-2003) dos irmãos Wachowski: muito para além dos links da Internet, aí deparamos com um universo futurista em que a realidade se confunde com um programa de computador, gerando um conflito potencialmente infinito entre a existência humana e a ilusão de existir. Se estivermos em dia de pessimismo, diremos que os nossos “gadgets” nos estão a encaminhar para essa vertigem fatal.