sexta-feira, maio 18, 2012

CANNES 2012: Stéphanie e Alain

Aconteça o que acontecer, a personagem de Stéphanie, em De Rouille et d'Os (à letra: "Ferrugem e Ossos"), de Jacques Audiard, vai ficar como uma das imagens mais fortes da 65ª edição do Festival de Cannes — nela se cruzam a mais comovente vunerabilidade e a mais intensa dimensão trágica.
Stéphanie é, afinal, uma admirável sobrevivente: com as pernas amputadas depois de um brutal incidente com orcas, no parque aquático onde trabalhava, circula pelo mundo como um objecto à deriva, porventura esvaziado da sua identidade. Tão improvável quanto radical, o seu encontro com Alain, um desempregado que se move no interior de um universo brutal (que, por vezes, parece duplicar o Clube de Combate, de David Fincher), vai definir um espaço de estranha confluência entre melodrama e tragédia, como sempre atravessado pelo realismo obsessivo de Audiard. Aliás, mais do que uma história de sobrevivência, trata-se de um ensaio sobre a simples possibilidade do amor e as suas razões sem razoabilidade. Marion Cotillard e Mathias Schoenaerts, são admiráveis nas suas composições de Stéphanie e Alain, revalorizando um modo de estar/interpretar distante de qualquer naturalismo televisivo, sempre orientado para o olhar dominante da câmara. No universo de Audiard, essa pode ser também uma definição do intimismo.