quarta-feira, dezembro 20, 2017

10 FILMES DE 2017 [1]
— Kathryn Bigelow

Na contínua reavaliação das relações documentário/ficção, esquecemo-nos, por vezes, que aquilo que está em jogo excede a banal "alternância" dos dois registos. Daí o lugar central que Detroit, de Kathryn Bigelow, ocupa nas memórias de 2017. Mesmo o rótulo, afinal justificado, de "espelho-crítico" da era Trump está longe de recobrir as especificidades da mise en scène de Bigelow, aliás prolongando as experiências de Estado de Guerra (2008) e 00:30, A Hora Negra (2012): trata-se de criar um fluxo de acontecimentos dramáticos — neste caso, evocando os motins de 1967, em Detroit — que transcenda a mera acumulação "informativa" de muitos tratamentos televisivos, expondo as complexas relações entre os gestos individuais e as dinâmicas colectivas. Num tempo de saturação "política" dos media, a relativa indiferença que se abateu sobre o trabalho de Bigelow é reveladora: escasseia a vontade de pensar, politicamente, o cinema.