terça-feira, agosto 29, 2017

Taylor Swift ou o vazio da comunicação

Revelado nos cada vez mais retóricos prémios MTV, o teledisco de Look What You Made Me Do (tema do álbum Reputation, a lançar em Novembro) é uma tentativa esforçada, tão esforçada que roça o patético, de apresentar Taylor Swift como uma artista de todos os recursos e todas as invenções — dos filmes de zombies à imitação (?) das coreografias de Beyoncé, há de tudo um pouco, como se nem o realizador Joseph Kahn nem ninguém soubesse o que fazer para vender a imagem da sua vedeta.
Assim se agrava o bloqueio criativo já detectável, no arranque de 2016, em Out of the Woods e, antes, em Bad Blood. A canção, convenhamos, não ajuda muito, de tal modo se apresenta como uma variação mega-produzida (leia-se: sem sensibilidade nem pensamento) daquilo que as Spice Girls fizeram há vinte anos, com outra simplicidade e alegria. Estamos perante um exemplo de hiper-comunicação que, de facto, já não trabalha a não ser para disfarçar o seu trágico vazio interior — isto para não evocarmos em vão o nome de coisas mais materiais.
No universo mínimo (nada a ver com minimalista) de Taylor Swift, o "segredo" está em acumular sugestões e situações que, de alguma maneira, remetam para o historial comercial, mediático e "social" da própria protagonista (o que, há que reconhecê-lo, pode dar origem a curiosos relatórios jornalísticos). No final do teledisco, num gesto de desesperada auto-ironia, a intérprete assume perante a câmara todas as "personagens" que interpretou, com a mais "realista" empunhando um prémio da MTV e debitando esta frase exemplar: "Gostaria muito de ser excluída desta narrativa" — é um bom gag, infantilmente brechtiano, sobretudo se o interpretarmos como uma angustiada confissão realista.