terça-feira, abril 25, 2017

Ella 100


Não faltam cognomes e grandes expressões para a referir sem ter sequer de mencionar o seu nome... First Lady of Song (ou seja, Primeira Dama da Canção) e Rainha do Jazz são dois dos mais comuns. Ella Fizgerald foi, de facto, uma das figuras maiores da história da música do século XX e é voz de absoluta referência no jazz.

Nascida em Newport News, na Virginia, a 25 de abril de 1917 e conhecendo depois um conturbado início de juventude, começou a viver bem cedo uma relação com a música ao cantar na igreja da sua congregação, numa altura em que os seus gostos começavam já a apontar para as figuras emergentes do jazz. Depois da morte da mãe a família mudou-se para Nova Iorque e aí começou por cantar na rua, estreando-se em palco em novembro de 1934 numa noite para cantores amadores no mítico Apollo Theatre. Na verdade ia apresentar-se com um número de dança (já que a ideia de ser bailarina estava entre os seus desejos), mas ao reparar noutras artistas que ali se iam mostrar optou antes por cantar. E ganhou o primeiro prémio: 25 dólares. E com ele ganhou também primeiros contratos, antes de começar a viver quilómetros de estradas, por várias cidades norte-americanas, acompanhando primeiro a Orquestra de Chick Webb e, ganhando maior visibilidade ainda ao atuar na mítica sala Savoy Ballroom (no Harlem, em Nova Iorque).

Depois de ter gravado cerca de 150 canções com a banda que fora rebatizada em 1939 como Ella and Her Famous Orchestra após a morte de Chick Webb, iniciou em 1942 uma carreira a solo que a começou por ligar à Decca, onde já antes gravara pela sua banda. Norman Granz, que produzia os espetáculos Jazz at The Philharmonic, tornou-se pouco depois o seu manager, acompanhando-a num tempo em que a mudança de rumos que a música tomava, perante o fim da era das big bands, caminhos que permitiram a Ella Fitzgerald ousar novos desafios e desenvolver a sua forma de cantar. E do esforço continuado dessa demanda surgiu a plena confirmação de um talento que, quando Granz fundou a editora Verve Records, a tomou como figura de proa do catálogo. E convenhamos que Ella respondeu a rigor, criando depois de 1955 alguns dos títulos maiores não só da sua discografia como da história do jazz vocal. Depois de 1963, após a venda da Verve à MGM e de problemas na renegociação do seu contrato, a obra de Ella Fitzgerald progrediu entre várias editoras como a Atlantic, Capitol e Reprise, até que em 1972 se reencontrou com Granz na Pablo Records, que ele então criou. Durante este percurso cantou ao lado de grandes nomes como os de Louis Armstrong, Oscar Peterson, Count Basie ou Duke Ellington.

Ao trabalho nos discos (e nos palcos) a obra de Ella Fitzgerald junta ainda incursões pelo cinema e pela televisão. Entre os papéis que desempenhou conta-se o de uma cantora de jazz em Pete Kelly’s Blues, de Jack Webb (1955) no qual contracenava com Janet Leigh e Peggy Lee. Sofrendo de diabetes há muitos anos, Ella Fitzgerald morreu em sua casa, em Beverly Hills, em 1996, com 79 anos. Os seus arquivos estão hoje integrados no National Museum of American History (da Smithsonian, em Washington, DC) e os originais dos arranjos das suas canções estão depositados na Biblioteca do Congresso. Os livros de culinária que tinham em casa (e parece que eram mesmo muitos) foram doados a uma das bibliotecas da Universidade de Harvard.