sábado, março 11, 2017

"São Jorge" e o realismo

De que falamos quando falamos do Portugal da Troika? Ou ainda: como filmá-lo? São interrogações inerentes a São Jorge — esta nota foi publicada no Diário de Notícias (9 Março).

As legendas inicial e final de São Jorge, de Marco Martins, dão-nos um contexto histórico: o período da Troika em Portugal, com quase toda a gente a ser directa ou indirectamente atingida pelos ditames da austeridade. A personagem central, um pugilista (Nuno Lopes) à deriva num mundo de pobreza e degradação social, seria um símbolo directo das tensões desse contexto. O certo é que o filme parece mais apostado em reduzir essa personagem a uma cópia dos tiques de um certo tipo de anti-herói de “thrillers” americanos do que em ilustrar, ou reflectir sobre, as informações contidas nas legendas.
Obsessivo no detalhe até à facilidade maneirista, com uma evidente competência técnica de execução, o filme reflecte as virtudes e limites de um realismo social que, em boa verdade, o cinema português sempre teve dificuldade em assumir.