domingo, outubro 30, 2016

Memória de Jaime Fernandes

FOTO: Rádio Renascença
A notícia da morte de Jaime Fernandes [DN] surgiu como uma daquelas informações que recebemos com um misto de espanto e incredulidade. Aos 69 anos, mantendo uma intervenção emblemática na RTP, como Provedor do Telespectador [Voz do Cidadão], sentíamos a sua presença regular como expressão de uma serenidade que, afinal, sempre pontuara os seus trabalhos, nomeadamente em programas de rádio como Rock em Stock e Som da Frente ou, mais recentemente, emprestando a sua voz à série da RTP sobre a música popular portuguesa, Estranha Forma de Vida [video: 1º episódio].
A voz, justamente. Se é verdade que a nossa relação com os outros passa pelas sonoridades que deles recebemos (e devolvemos), Jaime Fernandes possuía uma voz que, em público ou em privado, correspondia a uma postura de escuta e disponibilidade que envolve, a meu ver, um inestimável valor humanista.
Em termos pessoais, nunca fui próximo de Jaime Fernandes. Ainda assim, por motivos profissionais ou através de diálogos mais ou menos acidentais, penso nele como alguém com que tive o privilégio de me cruzar ao longo de quatro décadas, desde logo nos atribulados anos 70. Com ele, e para ele, um acontecimento tão particular como o aparecimento da banda sonora de A Última Valsa (1978) era, não tenho dúvidas, mais importante que as ondas de choque de qualquer diatribe da cena política — fica a tristeza de saber que, agora, essa cumplicidade só se renovará no plano imaginário.