quinta-feira, dezembro 17, 2015

Hollywood sob o signo de "Star Wars"

J. J. Abrams
As notícias da ante-estreia, em Los Angeles, do novo episódio de Star Wars traduzem uma ideia básica: Hollywood está com o despertar da Força — este texto foi publicado no Diário de Notícias (16 Dezembro).

A Força está com os herdeiros de George Lucas? Podemos apostar que sim. De tal modo que a narrativa da primeira projecção oficial de Star Wars: o Despertar da Força, em Los Angeles, só podia ser a crónica de uma apoteose anunciada. O repórter do Los Angeles Times não resistiu a começar o seu texto em tom brincalhão: “A muito aguardada ante-estreia (...) realizou-se na segunda-feira à noite — e Hollywood apareceu em força (desculpem, mas já sabiam que tinha de ser)”.
Mesmo tendo em conta os padrões espectaculares da indústria americana e, em particular, dos estúdios Disney (proprietários da Lucasfilm, entidade produtora deste episódio VII e dos que se seguirão), a ante-estreia foi reconhecida como um evento de excepção pelos media americanos. Assim, foram realizadas projecções simultâneas nas três salas emblemáticas do Hollywood Boulevard — Dolby Theatre (palco habitual dos Oscars), TCL Chinese Theatre e El Capitan Theatre — para mais de cinco mil convidados. E se o aparato de segurança também pode caracterizar um acontecimento deste género, valerá a pena dizer que a polícia de Los Angeles mobilizou meia centena de agentes (tal como costuma acontecer em noite de Oscars).
Steven Spielberg
George Lucas e J. J. Abrams, respectivamente o criador da saga e o realizador do novo filme, foram as vedetas da noite. Em qualquer caso, Abrams (que tem entre mãos a produção de mais um episódio de Star Trek, agora com realização de Justin Lin) não deixou de agradecer a outro cineasta, também presente na ante-estreia, decisivo na sua escolha para dirigir O Despertar da Força — é ele Steven Spielberg.
Abrams e Harrison Ford (que retoma a figura heróica de Han Solo) foram os mais solicitados pelos fãs. Acompanhavam-nos os outros membros lendários do elenco, Mark Hamill (Luke Skywalker) e Carrie Fisher (Princesa Leia), a par da nova vaga de intérpretes: Adam Driver e Oscar Isaac, já relativamente conhecidos do grande público, e ainda os “novatos” Daisy Ridley e John Boyega, ambos nascidos em Inglaterra. Entre os convidados, estavam cineastas como Spike Lee, Michael Bay e Ava DuVernay, os actores Matthew McConaughey, Geena Davis, Rob Lowe, Sofia Vergara e Joseph Gordon-Levitt (vestido de Yoda, com o rosto pintado de verde), e ainda John Lasseter, director criativo da Pixar, Jeffrey Katzenberg, presidente dos estúdios de animação da DreamWorks, e o produtor musical Quincy Jones.
É bem verdade que, em pouco mais de 72 horas, o filme será conhecido por milhões de espectadores em todo o mundo — Portugal é um dos países em que a estreia ocorre na quinta-feira, com algumas salas a organizar sessões logo à passagem da meia-noite (dos maiores mercados mundiais, só a China esperará até 2016, com o lançamento agendado para 9 de Janeiro). De qualquer modo, a Disney solicitou aos meios de comunicação americanos um embargo até quarta-feira, esperando, em particular, não ter surpresas desagradáveis com a vida “social” nas redes da Internet. As primeiras reacções, nomeadamente no Tweeter, respeitavam o pedido da Disney, predominando um tom de inequívoco entusiasmo. Brett Morgen, realizador do recente documentário sobre Kurt Cobain (Cobain: Montage of Heck) surgiu como uma das vozes mais arrebatadas, rotulando o novo episódio de Star Wars como “o melhor blockbuster desde o original”.
Os grandes testes cinematográficos e industriais começam agora. Primeiro, trata-se de saber se há, de facto, uma renovação geracional na base de fãs da saga; depois, no contexto de Hollywood, está em jogo o investimento galáctico da Disney (que comprou a Lucasfilm por 4 mil milhões de dólares) e, em particular, a gestão do seu presidente, Robert Iger (acusado por alguns analistas de ter pago um preço excessivo). Nas páginas da Variety, publicação de referência da indústria do entertainment, especula-se sobre a possibilidade de O Despertar da Força superar as receitas globais de Avatar (quase 2,8 mil milhões de dólares): “Tendo em conta a reacção da multidão na segunda-feira à noite, a força foi, realmente, despertada.”