quarta-feira, novembro 18, 2015

Políticos portugueses: que cultura?

PAUL KLEE
Paisagem
1922
Discute-se o futuro governo de Portugal sem que a classe política dê o mais pequeno sinal de enfrentar uma questão básica. A saber: fazer política é sempre um acto cultural.
Há poucos meses, o facto de António Costa ter declarado a sua intenção de (voltar a) atribuir um ministério à área da Cultura suscitou uma discreta agitação — mas foi sol de pouca dura. Em boa verdade, transversalmente (o que não exclui eventuais excepções individuais), a classe política não tem qualquer visão cultural.
Entendamo-nos: ter uma visão cultural não é o mesmo que exaltar a figura A ou B, viva ou morta, e as suas proezas (ditas) culturais.
Ter uma visão cultural significa sustentar uma visão da sociedade portuguesa — e do mundo, hélas! — que envolva valores que estejam para além da presença mais ou menos gritada na antologia diária de soundbytes televisivos.
Onde está o político que nos diga alguma coisa sobre o modo como vivemos a difícil arte de viver? Onde está o deputado que ponha na agenda (do parlamento e da sociedade) a reflexão sobre a informação que temos, a televisão que vemos, as relações sociais que, com ou sem redes, nos fazem dialogar com o outro?
Onde está uma visão política que se defina, não de forma instrumental, mas visceralmente, como um programa cultural?