segunda-feira, outubro 12, 2015

3 séries de televisão

Muitas séries, cada vez mais séries... e também cada vez mais efeitos de repetição, formatação e falta de imaginação — este texto foi publicado no Diário de Notícias (9 Outubro), com o título 'Encruzilhada de séries'.

1. Dir-se-ia um efeito perverso de “duplicação”: o enfraquecimento do conceito de rentrée no mercado cinematográfico parece ter o seu contraponto numa rentrée de séries e mais séries... Mas a nova temporada não começou bem. Assim, o regresso de Empire (Fox Life) corresponde menos a uma revalorização dos respectivos elementos temáticos e mais à sua redução a um “formato”. É o resultado da “obrigação” de prolongar um sucesso, já não a partir de sólidas opções dramáticas e narrativas, mas apenas com a preocupação de repetir alguns elementos sintomáticos — o retrato dos bastidores da indústria discográfica transformou-se numa banal telenovela em que tudo passa muito depressa (que montagem desastrada...), apenas para fingir que está a acontecer alguma coisa.

2. Outro exemplo de rápida deterioração é Extant (TV Séries), agora na segunda temporada. O ponto de partida era bizarro e sugestivo — inexplicavelmente, uma astronauta (Halle Berry) regressava grávida à Terra depois de uma missão solitária de 13 meses no espaço. O certo é que, a pouco e pouco, os efeitos maneiristas foram-se sobrepondo a qualquer desenvolvimento minimamente trabalhado. É, hoje em dia, um vício corrente: fazer séries sem ideias narrativas, a não ser o “fingimento” que, idealmente, as tornaria semelhantes a algumas nobres referências cinematográficas.

3. Já não é uma novidade, mas continua a ser um caso exemplar de sofisticação televisiva: a série britânica Vera (Fox Crime), centrada numa inspectora de uma cidadezinha fictícia, Northemburland, combina a contundência do retrato social com um discreto e contagiante humor — a tradição dos policiais à maneira de Agatha Christie transfigura-se, assim, em cenários do presente. A composição de Vera pela admirável Brenda Blethyn constitui um trunfo decisivo, mas importa sublinhar a persistência de um gosto realista cujas raízes estão, como é óbvio na história do cinema britânico.