terça-feira, agosto 04, 2015

A comédia dos cartazes do PS

I - A agitação em torno dos cartazes do Partido Socialista (em particular, o que apresenta uma jovem a destapar alguma revelação transcendental...) está a ser comandada por quem tem mais poder. Que é como quem diz: pelo primarismo dominante nas redes (ditas) sociais que, em boa verdade, confundem a dinâmica de uma sociedade com a criação de links de muitas chalaças, mais ou menos polegarizadas...

II - É um facto: os cartazes são um desastre, quer na sua inanidade informativa, quer no seu infantilismo simbólico. Mas será que, ao longo dos anos, ninguém tem olhado para a miséria figurativa a que todos os partidos — de direita, esquerda ou de lado nenhum — têm sujeitado as nossas ruas e, de um modo geral, o nosso universo visual? Não seria esta uma boa oportunidade para reflectirmos um pouco sobre a indigência iconográfica a que chegou o exercício da política? Isto sem esquecer que todos os políticos gostam de dizer que vivemos numa "sociedade de imagens", por certo a maior parte deles sem alguma vez ter gasto 5 segundos para tentar compreender o que é que isso envolve... Televisivamente, por exemplo.

III - Um dado incontornável é este: a política, também a política, foi ocupada pela mais básica ideologia publicitária — neste caso, uma vez mais, com o contributo do PS e da sua militante pulsão suicidária. Aliás, é sintomático que a dois meses de um importantíssimo acto eleitoral não haja um único partido que tenha colocado na sua agenda de campanha qualquer discussão sobre a vida cultural portuguesa, em particular sobre a televisão como o mais poderoso instrumento de cultura no nosso quotidiano. No limite, a comédia dos cartazes do PS envolve a tragédia de uma cena política gerida por pessoas (publicitários incluídos) que confundem o pensamento da vida real com a administração das "imagens".