domingo, junho 28, 2015

Philip Glass, colheitas de 80


Através do catálogo da Music on Vinyl a obra de Philip Glass tem vindo a conhecer novos lançamentos em LP, ora apresentando neste formato registos antes apenas disponíveis em CD – como foi o caso das sinfonias Low e Heroes – ora reeditando alguns títulos que, na origem, chegaram a ter primeira vida em vinil, como o foi já o caso do álbum Solo Piano, um primeiro registo de peças de música instrumental que Glass apresentou originalmente em finais dos anos 80. Hoje focamos atenções em outros dois títulos que, tal como esse álbum de 1989, correspondem a uma etapa de ligação editorial do compositor com a editora CBS e que acolheu as suas primeiras experiências concebidas para o formato (leia-se tempo de duração do LP).

Esse é especificamente o caso de Glassworks, o primeiro esforço de composição de Philip Glass pensado em concerto para edição em disco e que foi, em 1982, a primeira gravação inédita que fez editar pela CBS (que antes havia reeditado Einstein on The Beach, originalmente um lançamento da Tomato Records).

Glassworks é um conjunto de seis peças que traduz, no quadro evolutivo da obra de Glass, o momento em que surge. Contextualizando vale a pena lembrar que tinha feito uma primeira abordagem a formas mais clássicas de orquestrar e utilizar o canto lírico em Satyagraha, encontrara (depois de North Star e Koyaanisqatsi) um espaço regular de trabalho no cinema e tinha no seu ensemble, com o qual começava a tocar mais vezes e em mais cidades, a sua principal plataforma de relacionamento das plateias que encaravam o seu nome como uma das revelações daquele tempo (apesar de ter obra desde meados dos anos 60).

As peças que gravou em Grassworks exploram precisamente a presença das características instrumentais e vocais do ensemble, num conjunto de peças que se relacionam em três pares: duas protagonizadas pelo piano, duas de profunda melancolia, duas de vibrante pulsão rítmica conduzida pelas electrónicas. Ao mesmo tempo Glass assimilava das experiências minimalistas dos anos 60 e 70 algumas características, delas partindo rumo à definição de uma nova linguagem que valorizava o uso da repetição e não escondia o encantamento pelos arpejos.

Glassworks é por isso o ponto de afirmação de um novo patamar, do qual evoluiriam muitas das ideias que ganharam forma noutras composições dos anos 80, entre elas a peça musical The Photographer, estreada na Holanda nesse mesmo ano.

Baseada na vida do pioneiro da fotografia Eadweard Muybridge (1830-1904), The Photographer assinala um momento de transição entre as heranças minimalistas, que entretanto moldara também a novas formas na música de Koyaanisqatsi, cruzando-as com as novas demandas entretanto reveladas no álbum de 1982, sobretudo evidentes em A Gentleman’s Honor, cuja versão cantada representa por sua vez um primeiro sinal de outra busca que, pouco depois o conduziria ao ciclo Songs From Liquid Days. Do conjunto de músicos que participaram na gravação de The Photographer será curioso referir que incluía, como maestrina do grupo de cordas, a hoje aclamada Marin Alsop (que entretanto, e à frente da Bournemouth Symphony, lançou já música de Glass pela Naxos).

Glassworks e The Photographer regressam com estas edições em vinil não apenas ao formato de LP (que conheceram nas suas vidas originais, respetivamente em 1982 e 83), mas também recuperam as suas capas originais, bem mais apelativas e marcantes que os booklets uniformes das edições mid price que nos últimos anos habitavam nos escaparates como únicos espaços de contacto com estas marcantes peças da obra de Philip Glass criadas no momento em que o mundo o começava a descobrir e aclamar como um dos grandes compositores de finais do século XX.

Este texto foi originalmente publicado na Máquina de Escrever