segunda-feira, dezembro 15, 2014

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The Dø

“Shake Shook Shaken”
Get Down
( 4 / 5 )

Entre a Finlândia e a França, depois de um encontro há alguns anos por ocasião de um trabalho de gravação de música para cinema, assim se tem feito a carreira da dupla The dø. Desde então Olivia Merilahti e Dan Levy têm mantido um espaço de trabalho conjunto, tendo pelo caminho assinado uma discografia que acolhe agora um terceiro álbum de estúdio. Trabalhado, como é o método habitual entre os dois, com pontos de partida encontrados em ideias talhadas e registadas em separado, mais tarde cada um confrontando o outro com as respetivas sugestões e, daí em frente, caminhando em par até ao disco final, Shake Shook Shaken traz de novo, sobretudo, não apenas uma maior arrumação das ideias, como uma focagem de rumos no sentido de procurar um caminho próprio no muito fértil terreno da pop electrónica. Houve já quem tecesse comparações a soluções que evocam os primeiros álbuns dos (suecos) The Knife, assim como a La Roux (e eu aqui acrescentaria um afinar do ângulo ao que ouvimos no seu disco de estreia). Convenhamos que são azimutes que em tudo fazem sentido perante a cativante coleção de 12 canções que fazem do terceiro álbum dos The Dø um disco com potencial para os colocar num patamar de maior visibilidade, sem que para tal tenham tido de comprometer a personalidade da identidade que os trouxera até aqui. Há um evidente investimento na composição de melodias simples, assim como um cuidado claro numa clara disposição dos elementos cénicos em jogo. Explorando em alguns momentos uma relação com linguagens herdadas e assimiladas de ensinamentos colhidos na música de dança, o disco vinca contudo uma vontade em afirmar a procura de um lugar no mapa pop atual, evidenciando canções A Mess Like This ou Lick My Wounds um desencanto que é tempero que molda sob alguma melancolia o clima dominante, mesmo em instantes eventualmente mais efusivos. E é nesse caminho, entre almas doridas e as cores de electrónicas aparentemente luminosas, que Shake Shook Shaken se revela como uma das boas surpresas que a pop electrónica deu a 2014.