quarta-feira, novembro 26, 2014

Novas edições:
The Voyeurs

“Rhubarb Rhubarb”
Heavenly Records
3 / 5

Uma nova geração de bandas indie com passaporte britânico e berço na segunda década do século começa a dar o ar da sua graça, para já parecendo mais coleções de referências que, propriamente, líderes de uma qualquer (eventual) nova mensagem. Apesar de se apresentarem como The Voyeurs, a banda de que hoje falamos já tinha editado um primeiro álbum há dois anos, então com o mais extenso nome Charlie Boyer and The Voyeurs, o que não surpreende dadas as evidentes ligações a memórias da primeira “família” CBGB que ali se evocava, de Jonathan Richman com os Modern Lovers aos Television, numa coleção de canções que contou, na cadeira da produção, com a presença de Ewdin Collins. Agora, com nome reduzido a The Voyeurs, e azimutes das atenções devolvidos a este lado do Atlântico, apresentam um segundo álbum que, mesmo longe da linha da frente dos acontecimentos mais interessantes que os terrenos pop/rock deram a colher em 2014, não deixa de ser uma coleção de canções que sabem bem saborear e adivinham mesmo agradáveis momentos frente a um palco. Entre ecos do glitter rock e uma reconhecida admiração pela “fase berlinense” de Iggy Pop, mas sem esquecer ocasionalmente a força inspiradora de um Syd Barrett, as canções de Rhubarb Rhubarb fazem do disco um docinho com sabor retro, que se serve entre ecos do pastiche e sinais de personalidade que fazem da carteira de formas revisitadas um corpo com evidente unidade. Há uma voz que sabe vestir heranças clássicas da teatralidade ao serviço do rock’n’roll (como, por exemplo, Bett Anderson também o fez em tempos nos melhores dias dos Suede), um saber na gestão de sonoridades (que nunca perdem a nitidez dos respetivos sabores) e uma vontade em talhar hinos pop/rock capazes de animar uma pequena multidão. Há canções sobre violência doméstica ou sobre o que fica depois de uma noitada, quando o dia começa a regressar. Há guitarras em regime elétrico fuzzy e mellotron. São ainda primeiros passos em busca de algo. Que arrumam, de forma mais certeira que no álbum anterior, as linhas pelas quais se querem coser. Agora falta ver até onde a inspiração os poderá levar em cenas dos próximos capítulos.