terça-feira, outubro 28, 2014

Novas edições:
Foxygen

“... And Star Power”
Jagjagwar
3 / 5

As liberdades formais que o psicadelismo promoveu em finais dos sessentas e o apelo de visões cósmicas que desde a mesma altura começaram a marcar presença em vários destinos da criação musical têm seduzido músicos e melómanos a cada nova geração, os Stone Roses, Animal Collective, Of Montreal ou MGMT sendo apenas a ponta de um vasto icebergue de experiências, umas com maior visibilidade outras nem por isso. Tal como então a escrita entrava frequentemente em diálogo com uma carga cénica intensa, entre a arrumação e desarrumação emergindo ideias e visões. Bem mais interessantes que uns Allah-Las (que recentemente lançaram um segundo disco) os Foxygen são mais um nome a marcar presença nesta história que se continua a contar, partilhando com muitos contemporâneos seus um evidente interesse por escolas e referências que apontam aos sessentas e setentas, o seu álbum do ano passado tendo mesmo sugerido afinidades para com ícones maiores como Bob Dylan ou Lou Reed, não esquecendo nunca a genética californiana (afinal são da zona de Los Angeles), que ficava bem evidente no polido San Francisco que foi então cartão de visita do álbum. Um ano depois outros valores comandam o terceiro disco deste duo, uma maior ambição (visão?) levando-os a apresentar um álbum duplo com uma ordem interna conceptual, sugerindo patamares e caminhos, numa viagem que cruza tempos e sensações e que exige, logo de começo, uma disponibilidade de tempo para tamanha quantidade (e intensidade) de propostas. Tal como vimos nos MGMT pós-Oracular Spectacular, o sucesso de We Are The 21st Century Ambassadors of Peace and Magic é um disco que ostensivamente rejeita polir caminhos, oferecendo antes uma proposta mais aventureira (para quem a faz e quem a escuta, entenda-se). O álbum arranca bem, com as sugestões de “desarrumação” instrumental a amplificar a paleta cromática e o potencial sugestivo das canções que habitam a primeira parte do álbum. Há aqui mesmo algumas peças magníficas, como Flowers ou o pungente Cosmic Vibrations (e a canção fica à altura da sugestão do título), voltando a mostrar um saber na construção de baladas, como se escuta em Coulda Been My Love ou You & I. A suite Star Power, que fecha o lado 1 do primeiro LP é um pequeno monumento de formas nem sempre nítidas, mas que aos poucos se definem junto de quem escuta, a terceira parte (com a presença de Kevin Barnes, dos Of Montreal) revelando-nos mesmo um dos melhores frutos contemporâneos de todo este cardápio de referências. Pena que os Foxygen não tenham escutado o diálogo de Nick Cave com Blixa Bargeld no filme 20000 Days on Earth, onde o primeiro explica ao segundo que uma das maiores forças na escrita de canções é o “editing”, ou seja, o processo em que se decide o que fica e o que sai, ficando claro no discurso que a opção pelo corte do que está a mais é tida como valorizadora da forma final. Soubessem os Foxygen “cortar” o que está a mais (e o que está a mais é o segundo disco) e teriam aqui uma peça que mostrava como a desarrumação pode ser bem empregue na hora de dar forma final às canções. As duas partes finais do álbum, a que chamam respetivamente Journey Through Hell e Hang on To Love são um calvário para o ouvinte, o prazer de quem saboreou a escrita e gravação não passando de todo para o lado de cá do disco... Dava uma bela coleção de faixas escondidas para quem estivesse num mesmo estado de alma, por exemplo.