quinta-feira, setembro 18, 2014

Bergman x 17 (11)

A MÁSCARA (1966)
Grande acontecimento em DVD, depois da exibição em Lisboa e Porto (e mais algumas cidades): a edição de 17 filmes de Ingmar Bergman (1918-2007), a maior parte em cópias restauradas — razões de sobra para rever algumas imagens emblemáticas da filmografia do mestre sueco.

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É o filme que começa e acaba com o cinema. Literalmente: imagens simbolicamente fundadoras — desde a luz de um projector até à mão de um crucificado a ser pregada na cruz, passando pelo ecrã táctil experimentado por Jörgen Lindström (que víramos em O Silêncio) — lançam A Máscara numa vertigem em que tudo se vai duplicar, a começar, obviamente pelas duas personagens únicas (ou quase...), interpretadas pelas sublimes Liv Ullmann e Bibi Andersson. Ullmann é a actriz traumatizada que perdeu o uso da voz (ou dele desistiu), vivendo numa espécie de espera perversa da palavra dos outros, espera que Andersson, a enfermeira, preenche num misto de bondade e ansiedade que, no limite, vai colocar à prova todos os rituais de comunicação. E se tal duplicidade começa no título original, Persona ("pessoa" e "máscara"), o certo é que a sua intensidade se repete, ou melhor, repercute na postura cândida (?) do espectador, contemplando as imagens do ecrã como uma aparição de um universo alternativo onde, em última instância, se lhe deparam os sinais erráticos do seu próprio desejo. No limite, este é um filme sobre o espectador, sobre o impossível que o mobiliza e silencia.