sábado, julho 26, 2014

O cinema visto de Tavira

Biblioteca Muncipal Álvaro de Campos — TAVIRA
Como se vê cinema para além de Lisboa e Porto? Por vezes, a pergunta surge formulada de forma cruel: como não se vê cinema em Portugal?
Ou seja: continuam a existir muitos desequilíbrios entre litoral e interior, entre algumas cidades (e vilas!) e entre quase todas as regiões. Ora, como é óbvio, felizmente, os cinéfilos estão em todo o lado e querem... ver filmes! É disso que nos dá conta José Couto, de Tavira, referindo a dificuldade de, por vezes, encontrar um filme "digno de ser visto" — agradeço as suas palavras e também o facto de ter acedido a que publicássemos a nossa troca de ideias.

Olá, caro João,

Há algum tempo, o João escreveu na «Metropolis»: "onde estão os espectadores que queiram ser... espectadores?".
Pois eu, que vivo em Tavira, respondo com outra pergunta: gostaria muito de ser "espectador", mas como posso sê-lo se se passam semanas sem que nas cinco salas de cinema do centro comercial da cidade surja um único filme que considere digno de ser visto?
Adoraria ver, entre muitos outros, Her, Debaixo da Pele, Grand Budapest Hotel, O Homem Duplicado, A Imagem que Falta ou O Acto de Matar, porém, não consigo, pois esses filmes não são exibidos no Algarve — para tal, teria que me deslocar 320 km (para Lisboa)...
Portanto, como vê, não é pelo preço dos bilhetes, nem pelos filmes estarem na Internet (abomino ver filmes num ecrã de computador), que não sou o "espectador" de que fala...
Um forte abraço,

J. C.

Caro José Couto,

Só posso concordar consigo: a decomposição da rede tradicional de distribuição/exibição do cinema é um facto que, em Portugal, tem arrastado muitas e dramáticas consequências.

O texto que refere não pretendia mascarar esse problema fulcral. Aliás, melhor ou pior, tenho tentado ao longo dos anos reflectir sobre ele. Permito-me recordar três dos mais recentes artigos que escrevi sobre a pluralidade de questões que o assunto envolve:


O que estava em causa no meu texto na "Metropolis" era algo de mais básico. A saber: num mercado que nem sempre atende à procura dos seus espectadores, será que ainda há espectadores que queiram (e exijam) outros comportamentos do próprio mercado? A sua resposta positiva, e pela positiva, leva-me a pensar que nem tudo está perdido.
Obrigado, volte sempre,

J. L.