terça-feira, maio 20, 2014

Cannes 2014: Cronenberg

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David Cronenberg tem dito que o seu novo filme não é exactamente sobre Hollywood... Convém referir que a acção se passa em... Hollywood e envolve pessoas que trabalham na indústria cinematográfica de... Hollywood. Mais do que isso: todos parecem obcecados pela vontade de reproduzir na sua/nossa actualidade as glórias passadas de... Hollywood. Isto sem esquecer que o cartaz, numa figuração que não corresponde a nenhum momento específico co filme, nos mostra o fogo a devorar o mais universal símbolo de... Hollywood.


Que se passa, entao? Cronenberg tem razão, claro — a razão da inteligência contra a razão do imediatismo. É também uma razão artística e conceptual que, no fundo, corresponde ao relançamento e reinvençao do mais visceral dos seus temas. A saber: o de que não existem sexos diferentes ou diferenciados, apenas relacoes incestuosas. Acontece que Hollywood pode ser o espelho e o espectro dessa vertigem, o que não impede que Maps to the Stars exista também como uma espécie de sequela -- ou, melhor, de gémeo assombrado e assombroso — de Dead Ringers (1988), esse filme sublime a que o tradutor português, num gesto de improvável lucidez, chamou Irmãos Inseparáveis. Enfim, se Cannes acontecesse apenas para mostrar Maps to the Stars, tanto bastaria para ficar na história.