terça-feira, abril 22, 2014

Novas edições:
Eels, The Cautionary Tales of Mark Oliver Everett

Eels
"The Cautionary Tales of Mark Oliver Everett"
E Works
4 / 5

Passaram apenas 14 meses desde a edição de Wonderful Glorious, álbum de pungente fulgor elétrico que afastou, por uns instantes, os Eels dos caminhos mais feitos de melancolia e baladas de infinita tristeza que afirmaram há muito Mark Everett - ou seja, E - como um dos grandes autores de canções nascidos (discograficamente falando) nos noventas. Com um título que deixa bem claro um foco de atenções autobiográfico, The Cautionary Tales of Mark Oliver Everett, devolve os Eels a terreno mais "habitual", propondo um conjunto de canções suaves e tristes, polidas nas formas, claras nas palavras e cuidadas em arranjos (que, como sucedeu já em outros momentos da discografia do projeto, revelam um saber clássico na utilização de cordas). Este é talvez o mais pessoal entre os vários mergulhos interiores que ao longo dos anos fomos acompanhando nos discos dos Eels. Feitas as contas este é o seu 11º disco de estúdio e talvez o esteticamente mais direcionado e bem arrumado da discografia de Mark Everett. O alinhamento abre com o instrumental orquestral Where I'm At e termina com a sua versão cantada, sob o título Where I'm Going, a meio do caminho surgindo o único evidente surto de luminosidade em Where I'm From, as três faixas definindo como que a base estrutural de um corpo que define assim os espaços do "eu" que se afirma e sobre o qual evolui depois uma belíssima coleção de baladas de grande aprumo tanto na escrita como na interpretação. Diz-se, num daqueles mais habituais lugares-comuns da música popular, que as almas tristes nos dão grandes canções. Talvez não seja a tristeza a única grande fonte de inspiração, mas o novo disco dos Eels faz da melancolia um momento encantador. E junta ao catálogo de Mark Everett mais um episódio bem nascido, fiel a uma voz e uma linguagem que há muito deixaram de causar surpresa. Mas que, uma vez mais, reconfortam na certeza de que continuamos a ter aqui um dos grandes autores do presente.