sábado, fevereiro 08, 2014

Robert Redford, actor & realizador

Robert Redford é o protagonista do excelente Quando Tudo Está Perdido, de J. C. Chandor, interpretando o papel solitário de um homem à deriva no seu barco. Excelente pretexto para evocarmos a diversidade da sua carreira — este texto foi publicado no Diário de Notícias (5 Fevereiro), com o título 'Robert Redford, um actor que realiza filmes'.

Muitas vezes, o nome de Robert Redford surge envolvido num curioso equívoco: afinal, ele que foi um dos actores mais populares de Hollywood nas décadas de 1970/80, nunca ganhou um Oscar... É verdade, mas apenas se acrescentarmos que nunca ganhou um Oscar... como actor! De facto, tem uma estatueta dourada como realizador da sua primeira longa-metragem, o melodrama familiar Gente Vulgar (1980), com Mary Tyler Moore, Donald Sutherland e Timothy Hutton (isto para além do prémio honorário com que a Academia de Hollywood o distinguiu em 2002).
Figura emblemática de grandes sucessos como Dois Homens e um Destino (1969), de George Roy Hill, Os Homens do Presidente (1976), de Alan J. Pakula, ou África Minha (1985), de Sydney Pollack, Redfors tem sido, afinal, um metódico realizador de filmes. É dele, por exemplo, o notável Quiz Show (1994), retrato dos bastidores de um concurso de televisão que, baseando-se numa história verídica dos anos 50, mostra a impostura factual e moral que o mercantilismo televisivo pode envolver. É dele também Lions for Lambs (2007), entre nós chamado Peões em Jogo, narrativa subtil e perturbante sobre o envolvimento militar dos EUA no Afeganistão, neste caso com o próprio Redford a partilhar o protagonismo com Meryl Streep, Tom Cruise e Andrew Garfield (actual intérprete de “Homem Aranha”).
Para Redford, o gosto da realização vai mesmo a par da criação de condições de difusão ou trabalho para outros cineastas. A fundação do Festival de Sundance, em 1978 (que se realiza anualmente, em meados de Janeiro, em Park City, no estado do Utah), simboliza tal atitude: para além de se ter tornado um forum da produção independente (americana e não só), o certame viu a sua acção prolongada, três anos mais tarde, pelo Institute Sundance, entidade não lucrativa cuja prioridade é a criação de condições de financiamento de filmes de pequeno orçamento. Mais do que isso: o conceito inerente a tal estratégia estendeu-se à televisão e, desde 1996, existe um Sundance Channel.