segunda-feira, janeiro 06, 2014

À descoberta de "Temporário 12" (2/2)

Um pequeno grande filme sobre a juventude como lugar de crise e renascimento: Temporário 12 foi uma derradeira e belíssima revelação de 2013 — este texto integrou um dossier sobre o filme, publicado no Diário de Notícias (30 Dezembro).

1 ]

Sabemos que as representações dominantes dos jovens estão no espaço televisivo: ou são militantemente superficiais, de acordo com os desgraçados padrões da actual MTV; ou vivem os seus amores num anedótico existencialismo sexual, mais cor de rosa que a imprensa dada a tais cromatismos. Paralelamente, sabemos também que muitas formas de informação televisiva tratam o cinema como se os “blockbusters” americanos (“bons” ou “maus”, não é isso que está em causa) fossem os únicos acontecimentos do mercado.
Há outra maneira de dizer isto: numa sociedade dita “da informação”, realmente empenhada em pensar os temas relacionados com a juventude, um filme como Temporário 12, de Destin Daniel Cretton, seria assunto de muitas manchetes, partilhas e discussões. Mais do que isso: o seu lançamento em plena época natalícia não poderia deixar de ser associado a um dos temas mais genuínos – a família como fundamental núcleo afectivo – da própria quadra.
Que não é assim, sabemo-lo bem. Sabemos, sobretudo, que a histeria em torno de algum penalty mal assinalado suscita mais investimento jornalístico (?) que a serena inteligência de um filme como Temporário 12. Não admira que o brilhante trabalho de Cretton escape, ponto por ponto, a qualquer formatação dos “jovens” e da “juventude”.
Reforçando a ideia de que muitos autores (americanos e europeus) estão a recuperar os valores de um elaborado realismo psicológico, Cretton propõe-nos uma viagem por uma instituição de acolhimento de adolescentes em risco que resiste a qualquer moralismo “sociológico”. No centro de tudo isso, convém lembrar, está a metódica revalorização do trabalho dos actores. E mesmo considerando apenas a composição da notável Brie Larson, convenhamos que já vimos muita gente ganhar Oscars por muito menos.