terça-feira, dezembro 03, 2013

Os melhores 10 filmes de ficção-científica
(7º e 8º)

Continuamos a apresentar uma lista dos dez melhores filmes de ficção científica que ao longo desta semana revelamos no Sound + Vision. Hoje apresentamos os filmes que surgem em oitavo e sétimo lugar.


7. Solaris 
de Andrei Tarkovsky (1972)

Um dos grandes clássicos do cinema de ficção cientifica dos anos 70 chegou do lado de lá do que era então a “cortina” de ferro, juntando um dos mais visionários autores do cinema russo à escrita de um dos mais importantes autores de literatura sci-fi europeia. Baseado em Solaris, romance que Stanislaw Lem havia publicado em 1961, o filme de Andrei Tarkovsky é um drama psicológico em grande parte passado a bordo de uma estação espacial, revelando um sentido de focagem nas personagens e no tempo pouco habituais nos universos do cinema de ficção-científica. Com música original de Eduard Artemyev (e uma peça de Bach), Solaris foi distinguindo em Cannes (em 1972) com o Grande Prémio do Júri e o FIPRESCI. Na URSS o filme esteve em cartaz continuamente durante mais de dez anos e adquiriu um estatuto de culto.

Com ponto de partida na Terra (com a visita de um psicólogo/astronauta a casa dos pais), o filme transporta-nos para as imediações do planeta Solaris, um mundo diferente coberto por um oceano que há muito está sob estudo. A estranheza de mensagens recebidas da estação espacial em sua órbita motivam a missão deste psicólogo, que ali encontra uma tripulação claramente “alterada” e pouco cooperante, um dos três elementos a bordo tendo-se suicidado. Mais estranho será contudo o reencontro com uma figura feminina que aparenta ser a sua mulher, falecida alguns anos antes...

Os universos da literatura de ficção cientifica não se cruzaram muitas vezes com os do cinema, representando a abordagem de Tarkovsky à escrita de Lem um dos mais importantes exemplos desses (raros) diálogos. Admirador da obra literária do polaco, Tarkovsky começou por redigir um argumento que centrava parte significativa da ação na Terra, a evolução do projeto conduzindo-o contudo a uma mais marcante presença dos espaços da estação espacial em órbita do planeta Solaris como cenário para uma história que, mesmo assim, procura focar interesses algo distintos dos que o livro propunha. Para Lem esta era sobretudo uma narrativa sobre a dificuldade (ou mesmo em ultima instância a impossibilidade) de comunicação – neste caso com extra-terrestres. Tarkovsky, mantendo linhas determinantes da narrativa intactas, procurou por seu lado a exploração mais profunda das personagens, em particular a do protagonista e da “presença” do reencontro com a sua mulher...


8. Moon
de Duncan Jones (2009)

A estreia nas longas metragens do realizador Duncan Jones (filho de David Bowie) colocou-nos perante o melhor filme de ficção-científica dos últimos anos (só mesmo o recente Gravidade, de Alfonso Curaón lhe chega perto). Exemplo maior de um registo minimalista e realista que começa a conhecer agora alguma expressão (além de Gravidade, Distrito 9 será outro exemplo), Moon reflete uma visão da ficção-científica como uma realidade que não se esgota no arsenal de efeitos especiais convocados à produção. De resto, com um orçamento de cerca de cinco milhões de dólares (coisa de dieta junto de tantas outras produções do género), Moon é um filme que, mesmo muito cuidado na imagem, vive mais das ideias que do aparato visual, aí nascendo mesmo uma identidade mais próxima das demandas habituais na literatura de ficção-científica que dos caminhos mais frequentemente visitados por este género nas suas expressões para grande ecrã nos tempos que correm.

A história que acompanhamos em Moon apresenta-nos a figura de Sam Bell (interpretado por Sam Roclwell), um astronauta solitário que se aproxima do final de uma campanha de três anos numa pequena base lunar associada a uma exploração mineira. Por companheiro Sam tem apenas o robot GERTY, cuja voz é criada por Kevin Spacey. Um acidente no exterior da base leva-o a encontrar, inesperadamente, um corpo em tudo idêntico ao seu, descobrindo ambos serem afinal clones de um Sam original num momento em que, subitamente, as comunicações da base com a missão de controlo ficam inoperacionais.

A procura de um sentido realista para as imagens, que tem como antepassado natural o clássico 2001: Odisseia no Espaço, e a exploração de um espaço de solidão, que transporta ecos do belíssimo Silent Running de Douglas Trumbull, fazem deste filme de Duncan Jones um sério herdeiro de referências maiores do género. Estreado em Sundance, valeu alguns prémios ao realizador, nomeadamente um BAFTA e duas distinções nos British Independent Film Awards.


Recordar aqui:
9º e 10 º lugares