segunda-feira, dezembro 23, 2013

Bob Dylan: 16 telediscos

Eis a entrada que encontramos quando acedemos a video.bobdylan.com. Ou seja: a possibilidade de vermos um teledisco de Like a Rolling Stone. Um teledisco? Ou 16 telediscos? — este texto foi publicado no Diário de Notícias (20 Dezembro), com o título 'A lição de Bob Dylan'.

O mais extraordinário acontecimento televisivo deste ano é, provavelmente, um teledisco. Um teledisco? É verdade. E de uma canção composta há quase meio século, mais precisamente em 1965.
É bem verdade que as televisões generalistas se desinteressaram pelo panorama (sempre fascinante!) da produção de telediscos, enquanto a MTV está reduzida a empório do mais lamentável populismo “juvenil”. O certo é que estamos a falar de uma daquelas quatro ou cinco canções essenciais para definir as linhas de força da história do rock: Like a Rolling Stone, de Bob Dylan, tema de abertura do álbum Highway 61 Revisited.
Foi preciso chegar a 2013 para que Dylan encomendasse um teledisco para a sua lendária composição, sendo a realização assinada pelo israelita Vania Heymann (especialista nas áreas da música e publicidade, com apenas 27 anos de idade), com produção da Interlude.
Como descrever a experiência que nos é proposta? Pois bem, começando por dizer que não se trata de um teledisco, mas sim... dezasseis! Como vê-los? Fazendo zapping.
Que acontece, então? Na zona esquerda da imagem, além dos comandos habituais (volume de som, play/stop), encontramos duas setinhas que nos permitem... mudar de canal! Na prática, podemos ver o próprio Dylan a cantar ou ainda imagens de um canal de notícias, outro de desporto, outro de moda, ainda outro infantil... Com este admirável pormenor: em cada uma das emissões, os protagonistas apresentam-se na sua pose e gestos convencionais, mas estão todos a fazer playback de Like a Rolling Stone! [video/exemplo].


Por um lado, desfrutamos do privilégio muito pós-moderno do comando televisivo, construindo a nossa própria emissão; por outro lado, tudo se passa como se, na sua delirante variedade, as televisões não passassem de máquinas de repetição da mesma lengalenga... Com uma única diferença, claro: Like a Rolling Stone é tudo o que se quiser menos a apoteótica exaltação da redundância. Vale a pena descobrir esta serena lição sobre a ilusão da diferença e o triunfo da banalidade – sugiro uma visita ao site: video.bobdylan.com.