segunda-feira, outubro 28, 2013

DocLisboa 2013 (dia 5)

12 de fevereiro de 2012. Uma performance de 40 segundos frente ao altar de uma catedral em Moscovo acabaria por fazer história. Encenada como um protesto ao apoio da igreja ortodoxa russa à reeleição de Putin, a acção acabaria punida com extrema severidade pelo sistema judicial russo, levantando vozes de protesto que ecoaram pelo mundo. Pussy Riot: A Punk Prayer, filme de Mike Lerner e Maxim Pozdorovkin que integra a secção Heartbeat do 11º DocLisboa (repete amanha às 16.30 no Cinema São Jorge), recorda não apenas a performance e as suas consequências sobre as ativistas que a desencadearam, mas serve também de pólo de observação sobre não apenas um regime cuja ginástica democrática parece ser coisa ainda dominada por séculos de tradição autocrática e a intolerância religiosa que entretanto ali parece ter florescido, como também sobre o papel que a mulher tem na atual sociedade russa.

Nadia, Masha e Katia são as três figuras do coletivo Pussy Riot que enfrentaram os tribunais e as suas sentenças, num processo que elas mesmas descrevem como uma encenação. O filme recorda as imagens da performance, mas acompanha sobretudo o julgamento e escuta opiniões, tanto junto dos que estão próximos destas três mulheres. Em entrevistas individuais, encarnam sempre a vivência no coletivo na terceira pessoa do plural. A “elas” devemos assim uma possibilidade de ver e poder refletir como este caso espelha o déficit democrático e a falta de respeito (e tolerância) para com ideias diferentes na Rússia atual.

O filme toma um partido. Tem um ponto de vista. Nada contra, acrescente-se. Demonstra o poder em potência destas formas de luta pela guerrilha performativa. E contribui para acentuar ainda mais a transformação destas ativistas em ícones de uma maneira de estar na vida pública do nosso tempo, agindo através da arte em favor de uma ideia. Se incomoda o poder, melhor ainda. Afinal não foi sempre essa uma das várias intenções da pulsão artística?