quinta-feira, setembro 12, 2013

Em conversa: The Knife (2)

Completamos hoje a publicação da versão integral de uma entrevista com Karin e Olof Dreijer dos The Knife, que serviu de base a um artigo publicado no DN. 

No vosso trabalho sempre houve uma reflexão sobre as imagens pensadas para server uma música, e mais que nunca com ‘Shaking The Habitual’... Tanto nas fotos promocionais como nos espectáculos. Uma teórica disse um dia 'we're always in drag'. Inspirou-vos este conceito? 
K - Foi a Judith Butler quem disse isso. As suas ideias sobre artes performativas explicam tudo. A noção de que estamos sempre a interpretar. Estamos a interpretar o género... Jogamos com esta ideia.
O – Estas teorias ajudaram-nos a compreender as coisas, e a viver. E a saber que é uma escolha. Posso escolher como me vestir, como andar e como falar. Apesar de isso estar condicionado por outras coisas no nosso background social. Isso é muito uma peresença no espectáculo que fazemos. Olhamos para a body language e a maneira como estamos em palco e como isso pode ser interpretado [performed é a palavra que usa] em vez de pormos apenas uma percuca e escolhermos uma roupa que pertence a outro género que não o que temos biologicamente. Pensamos sobre isso.

Sobre o concerto. O que apresentaram na Shaking The Habitual Tour descontrói a ideia do 'concerto' tradicional... 
O – Muita da teoria queer ajuda-nos a ter uma visão queer do género mas também do próprio espectáculo em si mesmo. Penso como tornar queer o contexto e o cenário. Para dizer algo que tenha uma mensagenm sobre género é bom penesar no modo em que o fazemos. Estes assuntos estão assim no meio da música. Há algo muito presente na indústria musical quando perguntamos porque as plateias dos concertos têm 15 a 20 por cento de mulheres… E a resposta mais comum é que não pensam em género, mas na boa música. Na qualidade da música. Ou no que é comercialmente lucrativo. Depois creio que se torna importante ver as qualidades artísticas do que fazemos e de como é que isso se tornou socialmente construtivo ao longo do tempo, questionando assim tudo isto. As coisas tornam-as assim mais interessantes, porque se questiona o que é que é mais autêntico. As nossas estratégias podem passar então a ser pegar em coisas que as pessoas digam que pareçam ser de mau gosto ou não normativas no contexto da música (como por exemplo tirar influências da Broadway, do vaudeville, cabaret, o teatro físico, a pantomima). Coisas às quais as pessoas reagem logo com um “não”

Preocupa-vos a demanda por uma noção de autenticidade?
O - Não sei se sei o que é autêntico. E não sei se já consegui alguma maneira de usar essa palavra num contexto correto. Geralmente acredito mais em solidariedade no mundo. Mas creio que a palavra autêntico não é usada de modo a fazer a pessoa que tem menos poder possa passar a ter ainda menos poder.

Foi importante o trabalho na ópera ‘Tomorrow in a Year’ como porta para chegar a ‘Shaking the Habitual’? Ou seja, enquanto a busca de uma música, uma expressão de criação que envolve também uma busca performativa, para no fundo explorer e desenvolver um tema?
O – Creio que nos inspirou a trabalhar de forma mais conceptual. Foi interessante poder começar por ler e depois fazer música a partir dessas teorias. Mas deu-nos oportunidade para lermos coisas de áreas que nos interessam. Eu não estava muito interessado na geologia ou na biologia... Mas foi bom ler Darwin. E foi bom trabalhar com Mount Sims e Planningtorock.
K – Falámos muito sobre a ideia do progresso através dos tempos. Sobre escalas do tempo. Sobre evolução e de como as coisas mudam ao longo de milhares de anos. Isso é muito interessante. E compreendi que nada é constante. Tudo é evolução, tudo é desenvolvimento. E isso acaba por nos dar força e coragem neste trabalho que fazemos, nestas lutas feministas e socialistas. As coisas estão sempre a mudar em relação ao tempo. Precisamos de novas abordagens. Não podemos ficar aborrecidos neste trabalho se acompanhamos o que está a acontecer, porque está sempre a mudar.

O vosso trabalho em vídeo, a presença da música em filmes, sugere que possa haver aí um interesse pelo cinema ainda por explorar…
K – Eu tenho num grande interesse pelo cinema. E talvez, se viver o suficiente, gostaria de trabalhar em cinema também.