quinta-feira, setembro 05, 2013

"As Cinquenta Sombras": uma petição?...

* Esta senhora é a escritora E. L. James e esta imagem é retirada do seu site oficial. Devo dizer que conhecia o seu nome devido ao êxito da sua trilogia Fifty Shades/As Cinquenta Sombras. Sem mais: não li, não tenho opinião. O certo é que as notícias dos últimos dias levaram-me a visitar o referido site, começando por descobrir esta coisa espantosa: no cabeçalho do site, por baixo do nome da autora, surge a expressão "romance provocador" — agora é que me parece que não quero mesmo ler...

* Mas os meus estados de alma são irrelevantes. Acontece que James anunciou recentemente o par de actores (Charlie Hunnam/Dakota Johnson) que vai interpretar a versão cinematográfica do primeiro volume da trilogia, a ser dirigida por Sam Taylor-Johnson — o que me faz, pelo menos, querer ver o filme... Acontece ainda que tal notícia deu origem a uma petição na Internet, já com mais de 50 mil assinaturas, exigindo um outro par de protagonistas (Matt Bomer/Alexis Bledel).

* Que se está a passar? Ainda há poucas semanas soubemos de uma outra petição do mesmo género, no sentido de retirar a Ben Affleck o papel de Batman num novo filme... Dir-se-ia que nasceu um novo modo de cidadania, de uma histeria caricata e pueril, em que um indivíduo de qualquer parte do planeta se afirma por poder protestar (?) contra a escolha de um actor para um filme... Como???

* Por um lado, o valor clássico da espera cinéfila, o saborear silencioso da expectativa de espectador de cinema, tornou-se coisa ignorada por todos estes ansiosos militantes das petições; por outro lado, parece haver por esse planeta fora milhares de cidadãos (milhões?) que acreditam que o filme que imaginam (?) será melhor se for cumprido o... "seu" casting! Seria apenas patético se não fosse também a expressão trágica dessa ilusão, muito séc. XXI, segundo a qual o acto de colocar uma assinatura numa petição anedótica, porventura exigindo que Sylvester Stallone mude de ginásio, constrói um link "social" não se sabe bem com quem ou com quê...

* Chegámos, assim, ao universo da Internet como plataforma de protesto irrisório, celebrando a irrisão como suprema forma de partilha. Talvez que o leitor mais pragmático se limite a dizer que petições deste teor não passam de pequenos golpes publicitários, mais ou menos barulhentos e efémeros... E talvez tenha razão. Em todo o caso, fica a moral da história: no plano simbólico, assinar uma petição pode ter-se transformado num exercício cruel de conversão da solidão individual numa obscena ilusão de poder.