segunda-feira, setembro 09, 2013

A felicidade segundo Todd Solondz (1/2)

Todd Solondz, símbolo tenaz da produção independente americana, reaparece nas salas portuguesas com Diários de um Falhado, um melodrama sarcástico, mas não muito feliz.

Estreado no Festival de Veneza de 2011, revelado entre nós pelo Indie Lisboa de 2012, o mais recente filme do americano Todd Solondz chegou, finalmente, às salas portuguesas: Dark Horse, entre nós chamado Diários de um Falhado, é mais uma história, a meio caminho entre a comédia e o drama, em que o cineasta encena a existência de um “anti-herói” cujos sonhos são incomparavelmente mais delirantes que a tacanhez da sua existência quotidiana.
Não será por acaso, aliás, que os menos entusiastas da obra de Solondz [foto] – revelado no nosso mercado com Wellcome to the Dollhouse (1995) – consideram, por vezes, que há nele uma ironia, sempre à beira do sarcasmo, que menospreza a própria dignidade da condição humana de qualquer indivíduo. Como contraponto, podemos lembrar que Solondz não é apenas um retratista de personagens à beira da irrisão, mas sobretudo um crítico social que observa o modo como o conservadorismo familiar pode limitar, ou mesmo destruir, a identidade dessas mesmas personagens. O mais esclarecedor exemplo disso mesmo será Felicidade (1998), talvez o título mais conhecido da sua filmografia, com um elenco que incluía, entre outros, Philip Seymour Hoffman, Lara Flynn Boyle e Jon Lovitz.
Diários de um Falhado pode ser definido como um melodrama seduzido pela sua própria impossibilidade. Isto porque, aparentemente, o seu par central poderia viver uma história radiosa de felicidade, à boa maneira de uma tradicional história de amor: um e outro com trinta e tal anos, alheios a qualquer ilusão romântica, dir-se-ia que estão disponíveis para a partilha uma existência “normal”, sem sobressalto.
Acontece que Abe (Jordan Gelber) é uma espécie de menino traquinas em ponto grande, vivendo na dependência dos pais, enquanto vai gerindo a sua colecção de bonecos de super-heróis; por sua vez, Miranda (Selma Blair) mais parece um cobaia de todas as atribulações psicológicas que podem macular o cliché da mulher “livre & independente”… Solondz filma-os com o olhar frio de um cirurgião que contempla um tecido minado por uma bactéria anónima – para ele, as trocas sociais, tanto quanto a vida íntima, valem tanto quanto as máscaras que assombram as suas personagens.