segunda-feira, agosto 05, 2013

Uma livraria que anda pela cidade

Este texto sobre a livraria móvel Tell a Styory foi originalmente publicado na edição de 2 de agosto do DN com o título 'Uma carrinha com livros traduzidos à procura de leitores pela cidade'.

Chama atenção à distância. É uma Renault Estafette branca e azul e está parada junto ao Jardim do Príncipe Real, entre os dois quiosques. Aproximamo-nos e o que poderia ser uma carrinha estacionada é afinal uma livraria. Chama-se Tell a Story e tem uma ideia central: livros de autores portugueses, mas em edições em língua estrangeira. “E essa é a nossa vantagem competitiva”, explica ao DN Domingos Cruz, advogado de profissão que é um dos três sócios desta livraria móvel que, por estes dias, e além deste local (onde em regra tem passado as tardes), passa também pela Estrela, Cais do Sodré, São Pedro de Alcântara ou Jerónimos.

A ideia nasceu da relativa falta de livros para enviar a amigos estrangeiros, conta Domingos. E porque não uma livraria? Juntaram-se então três amigos – antigos colegas no Pedro Nunes. E juntamente com Francisco Antolin e João Pereira (que é publicitário), Domingos encontrou um modelo de livraria móvel, cuja imagem foi trabalhada com uma agência de publicidade. “É uma ideia romântica, mas tem de ser paga”, deixa claro este sócio da Tell a Story que confirma a boa adesão do público comprador de livros à proposta que assim lançaram. Os portugueses, diz, sentem orgulho e alguns chegam mesmo a comprar livros. Mas os maiores compradores são os franceses, tanto que o ‘stock’ em francês se esvaiu mais depressa que o esperado.


Não faziam ideia de quem seriam os clientes. E todos os dias vão tentando adivinhar quanto se vende e em que língua. Têm neste momento títulos em inglês e francês esperam alguns em italiano para a próxima semana. Procuram refazer catálogo entre editores europeus. E entre os vários títulos em língua francesa que estão a caminho há uma edição, pela Gallimard, d’O Delfim de José Cardoso Pires.

Saramago, Lobo Antunes, Sophia, Fernando Pessoa, Aquilino, Eça, Almada... Os turistas passam, conversam, trocam ideias sobre livros... Levam postais. Um turista checo passou por ali há dias. Disse que ia fazer a rota dos Mosteiros. E sugeriram-lhe que lesse o Memorial do Convento de Saramago.

Os sócios da Tell a Story sabem que não têm ali uma galinha de ovos de ouro, mas desejam que as contas se paguem e que, pelo menos, haja dinheiro suficiente para investir em novos livros. O Príncipe Real é, para já, o local que mais lhes agrada. “Dez turistas no Príncipe Real valem mais que 50 nos Jerónimos”, isto “como apetência literária”, diz Domingos. Da “longa” negociação com a Câmara chegaram aos locais onde hoje vai parando a livraria, mas lugares como Sintra, Algarve ou Cascais estão num mapa de possibilidades futuras a estudar.