domingo, julho 28, 2013

Madonna, 1983

FOTO: Gary Heery
> do portfolio do álbum Madonna, 1983
Trinta anos depois do lançamento do primeiro álbum de Madonna, memórias daquela que ainda não tinha o cognome de Material Girl — este texto foi publicado no Diário de Notícias (27 Junho), com o título 'Quando Madonna apostou em… governar o mundo'.

A 15 de Abril de 1983, estreava-se nas salas dos EUA o filme Flashdance, realizado por Adrian Lyne. Com música de Giorgio Moroder, a sua aposta fundamental consistia em integrar no espectáculo cinematográfico as novas linguagens ligadas à popularidade da MTV. Criada dois anos antes, a “televisão da música” tinha gerado as condições para um novo modelo de comunicação musical: o teledisco.
Cerca de três meses mais tarde, a 27 de Julho de 1983 – faz hoje, precisamente, 30 anos –, surgia o primeiro álbum de Madonna (poucas semanas antes de ela celebrar o 25º aniversário, a 16 de Agosto). Chamava-se apenas… Madonna e, numa conjuntura de muitas transformações culturais e comerciais, veio a desempenhar um papel fundamental.
Quando saíu, dois dos respectivos temas, Everybody e Burning Up, já tinham sido lançados como singles, em boa verdade sem conseguirem grande impacto: nenhum deles chegou sequer a entrar no top (Hot 100) da revista Billboard. O certo é que, a pouco e pouco, Madonna começava a consolidar uma imagem e um estilo que, certamente não por acaso, tiveram no teledisco de Burning Up, dirigido por Steve Barron, um dos sucessos da programação da MTV no Verão de 1983.
A passagem pelos clubes noturnos seria decisiva. Aliás, era desse universo que Madonna provinha, ela que no início da década já integrara a banda The Breakfast Club, um dos muitos agrupamentos novaiorquinos apostados numa pop dançante com sintetizadores. Além do mais, a figura de Debbie Harry (Blondie) e o então já lendário CBGB (na Bowebry, Manhattan) eram, para ela, referências inspiradoras.
Quando olhamos para trás, dir-se-ia que dois dos vectores essenciais do universo de Madonna já estavam inscritos no seu ADN musical: um gosto visceral pela música de dança e um sentido de pose e imagem que passava por uma elaborada acumulação de rendas, pulseiras e crucifixos. A primeira sistematização desse look aconteceu no teledisco de Lucky Star, dirigido por Arthur Pierson, outro dos temas emblemáticos do álbum de estreia.
Lucky Star viria a ser o primeiro single de Madonna a entrar no top 5 da Billboard, mas é um facto que o tema Holiday, com o seu contagiante espírito de celebração (“It’s time for the good times…”), permanece como o símbolo mais exemplar do álbum. É significativo, aliás, que tenha integrado as suas principais antologias, The Immaculate Collection (1990) e Celebration (2009), além de ser regularmente retomado nas suas digressões. Em boa verdade, pode dizer-se o mesmo de várias das oito canções do álbum, incluindo Borderline, reinventada com uma sonoridade inesperada e agressiva, quase punk, em 2008, durante a “Sticky & Sweet Tour”.
Dos mais de 300 milhões de discos vendidos por Madonna ao longo da sua carreira, 10 milhões pertencem ao seu primeiro álbum (cerca de metade no mercado americano). Em finais de 1983, no programa televisivo American Bandstand, Dick Clark pediu-lhe que exprimisse os seus votos para o ano seguinte. “Governar o mundo!”, disse ela [video]. Não se enganou por muito.


>>> Site oficial de Madonna.