sexta-feira, maio 17, 2013

Cannes 2013: China


[ solidões ]  [ sexo ]

Zhao Tao, a faca, o sangue e aquele olhar vidrado que revelam o seu acto desesperado — poderia ser um momento típico de um vulgar filme de "artes marciais"; mas não: estamos perante um objecto de perturbante intensidade com o qual Jia Zhang-ke (Plataforma, O Mundo, 24 City) prolonga a sua visão crítica da história da China nas últimas décadas, desde as convulsões da Revolução Cultural maoísta. A estrutura em quatro histórias gera um efeito-"Magnólia" através do qual o realizador expõe a sua visão muito céptica de um país enredado nos equívocos e desequilíbrios do seu acelerado desenvolvimento económico. O título inglês — A Touch of Sin (à letra: "Um Toque de Pecado") — talvez queira sublinhar o facto de por aqui passar um caudal subterrâneo de culpas que tende a impossibilitar as mais rudimentares relações humanas.