terça-feira, abril 16, 2013

Entre memórias e lojas de discos
com Teresa Lage

Iniciámos este mês no Sound + Vision a publicação de uma série de memórias pessoais sobre os espaços das lojas de discos. Hoje passam por aqui as palavras da Teresa Lage, da RFM, e coautora do livro 'Beatles em Portugal'. À Teresa um muito obrigado pela colaboração.


Ao contrário de muitos dos novos "hipsters" nunca gostei de discotecas pequeninas de discos de vinil. Talvez por ter nascido nos anos 60 num Portugal, onde, durante anos, as discotecas pequeninas e as lojas de electrodomésticos eram os únicos sítios onde conseguíamos comprar discos
Não é por isso de admirar que em 1977, aos 16 anos, na minha primeira visita a Londres, ao entrar numa megastore da HMV, me tenha sentido no paraíso. Uma loja gigante com discos novos, velhos, com andares dedicados aos diferentes estilos de música... Estantes só com discos dos Beatles... Um verdadeiro paraíso dedicado à música! Como se isto não bastasse essa loja ficava numa cidade forrada de posters de Elvis Costello onde a música parecia ser, estranhamente, mais importante que a política. Este era para mim, em 77, um mundo bem diferente do mundo de revolução que se vivia diariamente em Portugal.
Por cá, nos anos 70, os discos que nos chegavam eram poucos e desactualizados, às vezes com atraso de um ano. Para arranjar um album que descobrira há meses na revista Rock e Folk, tinha de, nos intervalos das aulas, manifestações e estados de sítio, percorrer, na avenida de Roma, as discotecas Sinfonia, Valentim de Carvalho. Mas, se quisesse mesmo aquele disco, o melhor era procurar na Audi Roma ou na discoteca do Carmo o LP importado... Ou pedir a alguém que fosse a Londres e, arriscando pagar mais direitos na alfândega, me trouxesse os "discos pedidos".
Hoje, as megastores que eram para nós um paraíso, estão a desaparecer substituídas por outros paraísos como a amazon, itunes e spotify... Mas para quem se apaixonou por aquelas lojas gigantes cheias de musica... o seu desaparecimento terá sempre o sabor de um paraíso perdido.