segunda-feira, março 11, 2013

"Grândola" por Linda de Suza

Vale a pena revisitar este registo (sonoro) da canção Grândola, Vila Morena, de José Afonso, tal como foi interpretada por Linda de Suza no Olympia, de Paris, corria o ano de 1983.
A sua simples existência diz bem da volubilidade dos símbolos históricos. Por um lado, tais símbolos adaptam-se (ou são adaptados) de modo mais ou menos perverso a cada contexto socio-cultural — no alinhamento do concerto, Grândola coexistia com temas como Avril au Portugal, Tiroli Tirola e Ó Malhão Malhão, cuja convocação pelos manifestantes de 2013 parece, no mínimo, pouco provável. Por outro lado, há uma ironia cruel que aproxima e afasta as "Grândolas" cantadas contra os membros do governo de Pedro Passos Coelho ou, há 30 anos, para uma plateia luso-parisiense: não que um evento se distinga por qualquer tipo de "razão" que desminta ou esvazie o outro — acontece que a imaginação simbólica é, não poucas vezes, mais ágil e menos ortodoxa que a ideologia, seja ela qual for, de quem se apropria dos próprios símbolos.
Dito de outro modo: a inusitada herança de Linda de Suza ensina-nos a compreender que a propriedade dos símbolos é assunto que a história não entende em termos notariais. Coisa difícil de aceitar para qualquer dispositivo ideológico, mesmo quando a liberdade se inscreve entre os seus valores de raiz. Honni soit qui mal y pense.