quinta-feira, fevereiro 28, 2013

Quase canções, disco admirável

De que falamos quando falamos de canções? Talvez dessa harmonia suspensa em que voz e instrumentos, melodias fluidas e suas interrupções, nos ensinam a imaginar um ordem alternativa para o mundo das sensações e dos sentidos. Faz sentido, por isso, que este álbum de Joana Sá e Luís José Martins se defina através de um gesto aproximativo: Almost a Song (ed.: Shhpuma). São, de facto, cinco quase-canções trabalhadas por ela, em piano e algumas derivações, e por ele, em guitarra clássica e algumas electrónicas. O resultado possui a nitidez de uma geometria capaz de inventar os seus próprios parâmetros, envolvendo o fascínio radical de uma experiência que, sem pretensão nem auto-indulgência, viaja entre a experimentação jazzística e as sonoridades perdidas da infância (ouça-se o revelador Rock em Setembro). Admiravelmente elegante, elegantemente inclassificável — por certo um dos grandes discos da produção portuguesa dos últimos largos anos; e não é quase... é mesmo.