domingo, fevereiro 17, 2013

Lojinha dos horrores (românticos)


Quem nos salva das comemorações compulsivas do calendário?... Não as televisões, por certo, sempre empenhadas em dar mais espaço à celebração do "pitoresco" e do "anedótico" do que a qualquer coisa minimamente interessante que mobilize a nossa insondável humanidade. Por isso mesmo, de vez em quando, nem que seja em nome da mais básica resistência (rima com inteligência), será útil cedermos aos prazeres benignos da pudica má língua. Deus nos ajude...
Deus e a Rolling Stone. Tomando como pretexto o Dia dos Namorados, a revista apresenta um modesto, mas esclarecedor, contributo, avançando com o mais original dos tops românticos. A saber: "20 canções de amor que não queremos voltar a ouvir".
É uma colecção de elaborados horrores em que, desde alguns patéticos fenómenos de popularidade até às estrelas mais planetárias, ninguém se salva. Por mim, confesso não poder disfarçar algum embaraço perante a presença de nomes que estimo, como Joe Cocker (You Are So Beautiful) ou Elton John (Can You Feel the Love Tonight). Mas também ninguém me prometeu contemplações ou ausência de crueldade — é como entrar num filme de Tarantino: convém não esperar que a Abelha Maia apareça a cantar o "Parabéns a Você"...
Sugere-se, por isso, uma deambulação atenta por tão delirante galeria onde cabe a apoteótica inanidade de Phil Collins (Groovy Kind of Love), o mini-esplendor de Céline Dion (My Heart Will Go On) ou ainda o grau zero da emoção de Bryan Adams ([Everything I Do] I Do It for You). Em todo o caso, permitam-me um toque mais pessoal, colocando no mais elevado pedestal da indigência a pose plástica e misógina de Chris de Burgh, interpretando o apocalíptico Lady in Red — como prova, aqui fica o registo ao vivo (sem que isso, entenda-se, me leve a assumir qualquer responsabilidade pela condição clínica de quem arriscar carregar no botão play).