segunda-feira, janeiro 28, 2013

Novas edições:
Mark Eitzel, Don't Be A Stranger


Mark Eitzel 
“Don’t Be A Stranger” 
Decor 
4 / 5

Há um (novo) sentido de fragilidade na voz de Mark Eitzel que afinal torna ainda mais sólidas as canções de melancolia, perda e dúvida que habitam o alinhamento de Don’t Be A Stranger, talvez o seu melhor disco desde a etapa maior na história dos American Music Club quando, em inícios dos noventas, nos deram álbuns inesquecíveis como Mercury (1993) ou San Francisco (1994). A obra em disco de Eitzel em nome próprio é, na verdade, anterior ao seu relacionamento com a banda de São Francisco que dele fez uma das vozes de referencia do panorama indie norte-americano dos anos 90. Contudo, e apesar de uma certa continuidade, a sua obra a solo só ganhou fôlego em tempos de pausa na vida dos American Music Club. Seja quando saíram de cena por dez anos após San Franscisco, seja desde que, na sequência do lançamento de The Golden Age (2008) o grupo voltou a ligar o botão da “pausa” (restando saber se, afinal, foi antes um “stop”, como alguns rumores sugerem). Sem impacte maior Mark Eitzel apresentou depois Klamath (um álbum de originais, em 2009) e Brannan Street (juntando novos arranjos e também canções que acabaram fora dos seus discos a solo e de álbuns dos AMC, em 2010). E o silêncio que se seguiu só foi interrompido pela notícia de um ataque cardíaco que Eitzel sofreu em 2011, cabendo a Don’t Be A Stranger o papel de calar o silêncio com um novo (e magnífico) conjunto de canções. Sem a noção de abismo do álbum que Jason Pierce gravou via Spiritualized em 2008 (após ter corrido perigo de vida) nem o sentido de triunfo sobre a doença que exalava de Home Again, que Edwyn Collins apresentou em 2007 (depois da recuperação de duas hemorragias cerebrais), Don’t Be A Stranger é antes um disco que prefere traduzir as fragilidades (mais antigas, renovadas e reencontradas) de um ser assombrado pela dúvida e a perda, não necessariamente com agenda clínica por perto. A mais evidente marca física do mau bocado que passou revela-se – um pouco como no recente single de Bowie – na evidência de uma voz menos pungente, fragilidade que acaba defendida pela mestria da escrita de canções que, apesar do predomínio de uma instrumentação convencional (o que não menoriza a excelência do trabalho das guitarras), abrem ocasionalmente espaço a um mais elaborado trabalho de arranjos, sobretudo para o piano, coros e, pontualmente, cordas. A sugestão de ausência que a imagem da capa propõe mora na alma das canções que fazer desde um dos primeiros grandes discos do ano.