quinta-feira, janeiro 31, 2013

Discos pe(r)didos:
Wire, A Bell is a Cup

Wire 
“A Bell is a Cup” 
Mute Records 
(1988) 

Com novo álbum de originais com edição agendada para o mês de março, os Wire são frequentemente apontados como um fruto do punk britânico e da sua discografia mais antiga costuma ser citado o trio de álbuns editados entre 1977 e 79 – Pink Flag (1977), Chairs Missing (1978) e 154 (1979) – podendo muitos desses retratos à la minuta reduzir a banda aos grandes feitos para angulosidade elétrica e contenção minimalista que então fez das suas canções peças claramente distintas entre os seus contemporâneos. Na verdade a obra dos Wire é bem mais vasta (no tempo e nos espaços musicais visitados) e, mesmo sendo esses três discos peças de justificada referência, neles não se esgotam as mais importantes contribuições que foram assinando na história dos últimos 35 anos de música. Por divergências internas optaram por entrar em modo de pausa na primeira metade dos anos 80, os seus elementos procurando em projetos a solo os destinos que se haviam tornado aparentemente impossíveis de conciliar como Wire. Voltaram a juntar-se em 1985, lançando primeiros sinais de novos rumos em The Ideal Copy (1987), aprofundando no álbum seguinte a relação mais próxima com as electrónicas, sem contudo abandonar a presença da matriz elétrica central à sua identidade. A Bell Is a Cup (na verdade com título completo A Bell Is a Cup... Until It’s Struck), o álbum de 1988 dos Wire dividiu opiniões. É um disco de horizontes largos, ciente de uma identidade que então contava já mais de dez anos de vida, mas igualmente interessado em explorar as potencialidades de novas ferramentas, nomeadamente as suas qualidades cénicas (e, para que não haja dúvidas, em nada se colava nem às escolas eletro pop que entretanto haviam surgido ou às emergentes correntes house que por aquela altura faziam uso bem distinto de novas máquinas...). É verdade que caberia a singles imediatamente posteriores a este álbum – nomeadamente Eardrum Buzz e In Vivo, ambos de 1989 – o sublinhar de uma via muito pessoal na abordagem aos modelos da canção pop com ainda maior presença electrónica, mas é dos jogos de nuances e contrastes que encontramos ao longo do alinhamento de A Bell Is A Cup, onde brilham momentos maiores como Kidney Bingos ou Silk Skin Paws – que encontramos o patamar capaz de cruzar ideias que faz deste um dos grandes discos (hoje algo esquecidos) dos oitentas, capaz de recontextualizar uma tradição pop nascida entre guitarras entre as marcas do seu tempo (e sem escorregar nas armadilhas dos sabores do momento). 25 anos depois A Bell Is A Cup espera uma possível reedição para (re)encontrar o lugar que merece na história indie da pop britânica dos oitentas.