quarta-feira, setembro 05, 2012

Nos 100 anos de John Cage


Assinalam-se hoje os 100 anos sobre o nascimento de John Cage (1912-1992). Tivesse o seu antigo professor Arnold Schoenberg levado a melhor e hoje tratávamos da memória de Cage como episódios na vida de um inventor. Isto porque, apesar de habitualmente reservado ao falar dos seus alunos e dos seus trabalhos, um dia, mais tarde, Shoenberg disse de Cage que não se tratava de um compositor, mas de um inventor. E acrescentou: de génio. Compreende-se o ponto de vista tendo em conta o trabalho conceptual que caracterizou muitas das obras e happenings criados por Cage. Mas, garantidamente, era um compositor e deixou-nos um legado que não se faz apenas de partituras e discos, como de todo um corpo de influências que podemos reconhecer entre nomes que vão de um Morton Fedlman, La Monte Young, Steve Reich ou Philip Glass a um Gavin Bryars ou Toru Takemitsu. Na verdade, aquelas palavras do velho mestre (que Cage muito admirava) lembram aquelas vozes que, nos anos 70, perante a emergência de uma nova música feita com sintetizadores clamavam que aquilo não era música. Eram máquinas...

Nos cem anos de John Cage podemos lembrar algumas entre as capas de discos que, desde os anos 50, fazem da sua música um espaço que assim correu o mundo. Para iniciados (sem desprimor, que não nascemos ensinados), nada como começar pela excelente coleção de gravações de peças orquestrais que Dennis Russel Davies registou com a American Composers Orchestra para um disco que, com o título The Seasons, a ECM editou em 2000. Composto em 1947 (numa altura em que trabalhava nas Sonatas e Interlúdios, peça que muitos identificam como a sua obra-prima), The Seasons foi a primeira composição orquestral de John Cage e serviu uma coreografia de Merce Cunningham, estreada em maio desse ano em Nova Iorque... O disco inclui ainda o célebre Concerto para Piano Preparado e Orquestra de Câmara, duas orquestrações diferentes para a Suite para Piano de Brinquedo e o simplesmente assombroso Seventy-Four, composição que data de 1992. Inventor?... Pois...


Aqui ficam algumas outras capas de discos com música de John Cage. Os interessados na sua obra estejam atentos aos escaparates das novidades, que o assinalar do centenário faz-se com uma mão-cheia de novas edições, entre as quais uma caixa de 5 CD lançada pela Wergo, editora com importante representação da obra de Cage no seu catálogo.

E aqui, a memória do célebre 4’33”. A obra pela qual muitos ouviram falar de Cage. E que julgam que conhecem, uma vez que consta que “é só silêncio”. Nada disso. E basta ver o vídeo (no link que abre este parágrafo), no qual o pianista David Tudor, que estreou a peça em 1952, para reconhecer que 4’33” não é apenas o silêncio lançado pela ausência de notas tocadas. Mas todo o som que fica ao seu redor na sala em que escutamos a peça. O simples levantar e baixar da tampa do piano, o lançar do cronómetro e a presença física de quem ali está são, afinal, desafios a essa mesma perceção do que é, afinal, o silêncio...