terça-feira, agosto 28, 2012

Novas edições:
Ariel Pink's Haunted Graffiti,
Mature Themes


Ariel Pink’s Haunted Graffiti 
“Mature Themes” 
4 AD / Popstock 
4 / 5

É sempre difícil aquele momento que vivem os músicos que definiram todo um percurso bem distante dos cânones, das regras que ditam o momento, da popularidade e até mesmo da mais vasta aclamação crítica e que, pela especial conjunção de algo que acontece (habitualmente um disco, um concerto, uma canção), dão por si no centro das atenções. Não é esse o momento difícil, se bem que o confronto de quem até então viveu o edificar de algo sem o peso de tantos olhares em si focados com essa “súbita” atenção não deve ser coisa de digestão fácil. O momento difícil chega na hora de dar o passo seguinte... Porque haverá mais almas à espera do novo episódio, e na sua maioria não serão aqueles rostos que até então, com uma certa familiaridade, lá tinham estado desde sempre... Na segunda metade da década dos zeros, os Animal Collective mostraram como é possível sobreviver e vencer esse “momento”, cativando uma maior multidão de admiradores sem que tal implique quaisquer cedências na definição do seu espaço. Não são caso único. E Ariel Pink parece estar a saber seguir semelhante caminho. Já por cá anda há uns anos (edita álbuns desde 2002), mas só com o anterior Before Today (de 2010), que assinalou a sua estreia na 4AD e colocou na capa a assinatura como banda – Ariel Pink’s Haunted Graffiti – o músico norte-americano deu por si nas boas do mundo, celebrado como um dos heróis indie do momento. Dois anos depois chega Mature Themes, o primeiro disco que criou sob expectativas maiores de quem nele reconheceu um nome a seguir com atenção (e convenhamos que o disco de 2010 nos dava motivos suficientes para o fazer). Como aconteceu a tantos outros criadores outrora mais dados a um certo caos e a uma mais livre existência lo-fi sem preocupações maiores de aprumo nas formas finais, um dos primeiros sinais de Mature Things revela uma casa um pouco mais arrumada. Com melhores resultados que os que temos escutados nos últimos discos de uns Of Montreal (que depois de arrumada a casa em Hissing Fauna Are You The Destroyer ainda não voltaram a brilhar da mesma maneira), Ariel Pink mostra contudo como é possível não perder a sua alma primordial de feições weird mesmo em cenário mais arranjado, o gosto pelo som revelando um continuado interesse na construção de canções repletas de acontecimentos (e sem afogar as suas heranças lo-fi), focando agora nas palavras as suas pulsões mais bizarras, que assim transforma em quadros, acontecimentos ou pequenas narrativas. A voz proeminente, a presença destacada de teclados analógicos (a mais evidente característica plástica do álbum) e evocações de temperos new wave - de uns Devo (Is This The Best Spot?) a uns Bauhaus mais coloridos (em Early Birds of Babylon) – Mature Themes é uma bela coleção de canções que mostram que a pop é um espaço bem mais vasto e criativo que o que os patamares mainstream do nosso tempo podem sugerir. O gosto pela citação tão característico em Ariel Pink não é esquecido, o belíssimo Symphony of The Nymph (um dos momentos mais irresistíveis do disco, com o irresistível tempero de teclados à la 70s) transportando nas entrelinhas ecos do velho Apache, celebrizado pelos Shadows. Já Baby, que fecha o alinhamento, é uma versão da canção da dupla Donny & Joe Emerson (coisa foleira, agora transformada em pequena pérola indie pop). Prova superada!