sexta-feira, março 30, 2012

Filmes pe(r)didos:
The Reflecting Skin, de Philip Ridley
por Daniel Barradas


Memórias de filmes afastados daquelas listas habituais que fazem a conversa de todos os dias. Filmes "perdidos". Ou se preferirem, "filmes pedidos"... Hoje lembramos The Reflecting Skin, filme de 1990 de Philip Ridley, que aqui é evocado por Daniel Barradas, designer e autor do blogue Actas do Pequeno Almoço. Um muito obrigado ao Daniel pela colaboração.

A criança espelho (no original The reflecting skin) estreou em Portugal no início dos anos 90, mas só o vi gravado da RTP2 numa cassete VHS alguns anos depois. É um filme visual e emocionalmente marcante que merecia ser mais conhecido.

The reflecting skin
foi a longa metragem de estreia de Philip Ridley enquanto argumentista e realizador em simultâneo. Com a chuva de prémios e aclamação critica que recebeu na altura, parecia anunciar a chegada de um novo ”autor”. Mas, por diversos motivos (distribuição, (não) edição em vídeo e inflexão de carreira de Ridley para se concentrar na literatura infantil e escrita teatral), esta pequena pérola cinematográfica acabou esquecida e o impacto artístico de Ridley está hoje quase limitado ao Reino Unido.

O filme conta a história de Seth, um rapaz que, crescendo nas profundezas da América rural, interpreta o mundo (os horrores) ao seu redor com base numa mistura de mitologias e crenças populares. Suicídios, abortos secretos, cancros e pedofilia (o lado obscuro de uma sociedade fechada onde nada é falado) tornam-se mais facilmente explicáveis com anjos, demónios e vampiros. E é precisamente essa interpretação errónea que leva o rapaz a cometer uma (in)acção que o torna, também a ele, num pequeno "monstro".

Ridley tem sido comparado a David Lynch mas há algo bastante diferente nas criações de Ridley (também nos seus livros e peças de teatro) que é o facto de a acção ter lugar na "realidade" e todo o aspecto fantástico provir das memórias, sonhos e fantasias das personagens. O fascínio/beleza/terror provem das acções de personagens que vivem mentalmente numa outra realidade que não aquela em que se inserem. Ou, melhor explicado e resumido numa frase do filme: ”A inocência pode ser infernal”.

The reflecting skin teve recentemente edição alemã em Blu Ray. A sua peça de teatro The Pitchfork Disney, de 1991, está actualmente em reposição em Londres.