domingo, fevereiro 26, 2012

A (re)descoberta de 'Alfama'


Obras orquestrais de Joly Braga Santos em gravações pela Royal Scottish National Orchestra, dirigida por Álvaro Cassuto, em edição pela Naxos. Entre o alinhamento surge a estreia em disco de uma obra de 1956 que, depois da estreia, nunca mais fora tocada.

Uma descoberta. É verdade. Foi quando, recentemente, a Biblioteca Nacional recebia as partituras manuscritas originais de Joly Braga Santos (1924-1988) que o maestro Álvaro Cassuto reparou num nome que até então não conhecia... Alfama... Como recorda no booklet que acompanha este disco, não se lembrava de alguma vez escutado uma referência a uma obra de Braga Santos com esse nome. Rapidamente chegou à informação de que necessitava: era um bailado que havia composto por alturas do seu casamento, numa altura em que precisava de algum dinheiro. Escreveu-o rapidamente mas, após a sua estreia, deixou esta obra de lado, considerando-a não suficientemente digna para ser apresentada... E assim acabou, no papel, anos a fio, até que os olhos de quem conhece bem a sua obra reparou num nome, desencadeando toda uma sucessão de trabalhos que permitem agora a sua estreia em disco. Alfama, um bailado feito de uma série de pequenos quadros (longe da profundidade da sua escrita sinfónica, mais próximos talvez de um registo popular) que o maestro arrumou de forma a criar a suite que agora apresenta em primeira gravação, pela Royal Scottish National Orchestra.

Talvez o maior compositor de música para orquestra na história da música portuguesa, Joly Braga Santos é um nome discograficamente divulgado para lá das nossas fronteiras, sobretudo através de uma série de seis discos (com interpretações sob direção de Álvaro Cassuto) editados pela Marco Polo, etiqueta que integra a Naxos. Este novo disco, lançado pela Naxos, junta à suite Alfama a Abertura Sinfónica Nº 3 (de 1954), onde se reencontram ecos do Alentejo que não só habitam outros momentos da obra do compositor como são referencia importante na do seu antigo professor Luís de Freitas Branco e a belíssima Elegia em Memória de Viana da Mota (de 1948). O final do alinhamento junta outras duas obras orquestrais nas quais se nota o progressivo interesse de Braga Santos pelos caminhos que a música tomara no pós-guerra. As Variações para Orquestra (de 1976 e o mais interessante momento deste disco) e os Três Esboços Sinfónicos (de 1962) são importantes espaços de exploração de linguagens musicais de caminhos comuns à música europeia de meados do século XX e formam, com as suas últimas sinfonias, uma importante expressão pessoal dessas mesmas tendências.