quarta-feira, fevereiro 29, 2012

Outros ecos dos oitentas

Chamam-se Hooray For Earth e mostram entre as canções do álbum True Loves como é possível escutar outros ecos dos oitentas que não os sistematicamente visitados quando a coisa aponta nesse sentido. Aqui fica Sails, um dos temas do álbum que agora acaba de conhecer edição em territórios europeus. O teledisco é realizado por David Parker e Cole Schreiber.

Novas edições:
Peter Broderick, http://itsartshear.com


Peter Broderick
“http://www.itstartshear.com”

Bella Union
3 / 5

É americano, com berço no Oregon, se bem que muitos talvez o conheçam mais através do trabalho que em finais da década dos zeros começou a desenvolver com os dinamarqueses Efterklang, da experiência escandinava surgindo ainda uma relação com a independente sueca Kning Disk onde chegou a editar música instrumental. Peter Broderick é um músico que, tal como faz da sua carreira um espaço de geografia com horizontes largos, não parece muito interessado em fechar a sua música em compartimentos de género. Tanto que pelos caminhos que cruza no seu novo disco, ao qual chama http://www.itstartshear.com (sim, é um URL e conduz a um site do qual já falaremos), parte de um prólogo que parece coisa folk para na verdade centrar mais atenções em relacionamentos com o piano (que parecem mais eco de heranças de compositores contemporâneos, nomeadamente nos terrenos do minimalismo) ou as electrónicas. O disco é uma sucessão de quadros suaves, mas nem por isso frágeis, a afirmação de uma escrita complexa segurando as formas que vai apresentando. As canções de http://www.itstartshear.com são sobretudo feitas de pequenos acontecimentos que Peter Broderick arruma numa rede de caminhos que reconhece a variedade de ideias que em si contém mas que consegue, mesmo assim, entre elas encontrar uma ordem e corpo comum. O URL a que o título se refere não é senão um site onde podemos encontrar o bilhete de identidade de cada canção, a sua história, a letra, eventualmente imagens que a ilustram ou dela decorrem. Um complemento ao nada material que corresponde à frequente perda de noção de “capa” na era da música digital. Mas aqui, e tal como com a sua música, as ideias parecem mais interessantes que o resultado final que depois nos apresenta...

Martin Scorsese em destaque
hoje no Sound + Vision Magazine
às 18.30 na Fnac Vasco da Gama


Martin Scorsese está sob o foco das atenções na edição especial do Sound + Vision Magazine que hoje decorre, pelas 18.30, na Fnac Vasco da Gama. Os seus filmes estão no centro do percurso a abordar, no qual não faltarão referencias à sua relação com a música ou ao seu importante trabalho em defesa da memória do próprio cinema.

Entre Santigold e Joshua Reynolds


Esta é a imagem que em breve poderemos ver na capa do novo álbum de Santigold. Com o título Master of Make Believe, o disco tem edição agendada para 1 de maio. E, agora conta-se: era uma vez uma capa...



Um making of de uma imagem. É o que podemos ver no pequeno vídeo que se segue, onde acompanhamos o processo de criação da capa do novo álbum de Santigold. A cantora surge em quatro situações, seja sentada no “trono” central, como na figura das duas guardas que surgem ao seu lado e, ainda, no quadro que vemos ao fundo (criado por Khenide Wiley sob inspiração do retrato de um oficial pintado no século XVIII Joshua Reynolds). A fotografia é uma criação de Jason Smith.

Podem ler mais informação sobre a criação desta imagem aqui.


Joshua Reynolds (1723-1792) foi um dos grandes retratistas ingleses do século XVIII, muito admirado pelo rei Jorge III (que o tornou cavaleiro). Foi ainda o primeiro presidente da Royal Academy. Pintado em 1782, o retrato de Sir Banastre Tarleton (de 1782) terá representado a fonte de inspiração para a imagem que vemos ao fundo da capa do novo disco de Santigold.

Em conversa: Kevin Saunderson

Pioneiro do techno, Kevin Saunderson passou na última semana por Lisboa. E hoje deixamos aqui uma conversa com o músico, DJ e produtor que foi originalmente publicada na edição online do DN com o título 'Uma canção é sempre uma canção'.

É um dos mais reconhecidos pioneiros da música de dança feita com eletrónicas. É mesmo visto como um dos pais do tecnho... Como se vive com o peso desta herança? 
Continuei a viver a música. A música está no meu sangue. A música foi evoluindo por vários caminhos... Não foi difícil...

Qual foi o peso da tecnologia na evolução desta música? 
A tecnologia é decisivamente importante nesta música. Mas há um lado humano que devemos considerar. Porque o verdadeiro impacte desta música tem a ver com as emoções. E foi assim que as coisas evoluíram para lá de Detroit.

O que havia para fazer de Detroit o berço do techno? Porque nasceu esta música ali e não outra cidade? 
Aquele foi o tempo para aquela música nascer. Havia uma figura que seguíamos e que nos inspirou. Era um DJ de rádio [o DJ Charles Johnson] que conhecíamos como Electrifyin' Mojo. Era único. Tocava música de uma forma bem diferente do que era tradicional. Isso ajudou bastante. Mais que qualquer outra coisa.

O que o atraía mais na música que ele apresentava? O seu apelo futurista? 
Era o som.... O som! Era aquele som que me atraía. Fazia pensar no que seria o futuro... Era muito sintético. Era um som que não era necessariamente uma música de dança. Era um som com uma forma diferente. Era definido por outras linhas, criava toda uma nova sensação...

Por algum tempo foi um fenómeno local. Mas como chegou depois ao resto do mundo? 
Era um som tão poderoso, tão único... Definiu novos caminhos para a música. Era DJ friendly... Abriu caminho a novas experiências

O apelo da canção, no caso dos Inner City [banda que Kevin Saunderson formou em 1987 e com a qual teve êxitos monumentais em 1988 ao som de Big Fun e Good Life], teve algum peso na globalização do techno
Foi mesmo muito importante. Abriu os ouvidos das pessoas e também das editoras discográficas.

Foi frustrante o quase silêncio que vos era votado antes dos Inner City? Já havia vários discos editados, mas a sua visibilidade não era de todo a mesma... 
Não seria exatamente frustrante porque nem era uma coisa pessoal. Para mim era música. E gostava daquilo que estava a fazer. E os discos até apareciam nas lojas... Mas não falaria de frustração.

O que mudou com os Inner City? 
Muita coisa, de facto. E foi muito rápido. Mas a coisa seguiu o seu caminho. Mas nunca deixei o contacto com os movimentos underground, que continuavam a existir. Mas a música era a que era e eu mantive-me o mesmo. Era importante ter mais visibilidade.

O final dos anos 80 foi marcante para a música de dança. Já havia música de dança antes. Até mesmo o disco. Mas porque só então ganhou o respeito transversal, visibilidade e volume de vendas que então mereceu? 
As coisas exigem tempo. Muitas vezes ouvimos uma faixa vezes sem fim e o tempo faz com que as coisas soem depois de maneira diferente. O tempo para a tecnologia evoluir, para o som evoluir... O disco ainda se ouvia muito, e eu gostava de disco... Mas era uma coisa muito sincopada... E sugeria sensações diferentes.

O cinema de ficção científica terá tido algum peso na abertura do interesse das pessoas a este som mais sintético? 
Não sei... Não creio que tenha tido. Para mim era mais o fazer daquelas canções com aqueles elementos. Trabalhar com caixas de ritmos e sequenciadores. E depois, ainda por cima, não havia regras. Eu não era músico, não sabia nada de solfejo... Mas sabia o suficiente para poder experimentar. Para me poder transformar num produtor. Porque sentia a música. E essa maneira se sentir abriu o caminho para explorar aquelas ferramentas, compreender aquilo com que estava a trabalhar, podendo assim fazer música com o que mais me inspirava. E soar como nada mais soava.

Ia a discotecas? Ou ouvia mais música na rádio? 
Ouvia mais música na rádio. Também fui ao Garage quando passei por Nova Iorque... Mas fui lá umas quatro ou cinco vezes. E em Detroit mal saía à noite. Pelo menos para clubes.

Quais foram os primeiros sons de música eletrónica que se recorda de escutar na rádio? 
Acho que foi nos inícios dos anos 80... Com os Cybotron [projeto de Juan Artkins e Rick Davis]. E foi por essa altura que comecei a ouvir também coisas como os Kraftwerk e New Order. Nem podia acreditar que se fazia música como aquela. Tão cool! Tão refrescante e relaxante ao mesmo tempo...

Mas nem toda a gente reagia assim. Houve um tempo em que a música electrónica era encarada com ceticismo por algumas pessoas... 
Eram pessoas com medo da tecnologia. Não a compreendiam. E chamavam-lhe nomes feios. Que não era música... Era uma reação de medo a algo que sentiam como uma ameaça. Mas era apenas música. Quando as pessoas dizem que a música não é como dantes lembro sempre que muita coisa aconteceu pelo caminho. Respeito as opiniões, mas a história faz-se assim. E, no fim, uma grande canção é sempre uma grande canção.

U2 + Frank Valli = Pet Shop Boys


Fechamos este mês dedicado aos Pet Shop Boys recordando uma entre as muitas versões de temas de outras vozes que chamaram assim à sua discografia. Combinando Where The Streets Have no Name, dos U2, com I Can’t Take My Eyes Out Of You, de Frank Valli, os Pet Shop Boys criaram uma canção que lhes valeu em 1991 o seu segundo maior êxito dos anos 90, superado apenas pela sua leitura de Go West, dos Village People, editado quase um ano depois.

terça-feira, fevereiro 28, 2012

Erland Josephson (1923 - 2012)

O seu nome é indissociável da obra de Ingmar Bergman: Erland Josephson, actor sueco, autor de poesia, contos e novelas, faleceu no dia 25 de Fevereiro — contava 88 anos.
Nasceu e morreu em Estocolmo. A amizade com Bergman começou nos tempos da sua adolescência, em finais da década de 30, quando trabalharam juntos em diversas produções teatrais. Em grande parte, o seu trabalho — e também a sua imagem de marca — confunde-se com a filmografia bergmaniana, a ponto de o actor ser muitas vezes visto como alter ego do cineasta. Exemplo máximo dessa "coincidência" é o admirável telefilme Depois do Ensaio (1984), com Josephson a assumir a personagem de um encenador teatral em que a personalidade de Bergman se projecta de forma ambiguamente autobiográfica [primeiro video: cena com Ingrid Thulin e Lena Olin]. Entre as suas colaborações, incluem-se Lágrimas e Suspiros (1972), Cenas da Vida Conjugal (1973), série televisiva que também teve uma versão cinematográfica [segundo video: cena com Liv Ullmann], Face a Face (1976), Sonata de Outono (1978), Fanny e Alexandre (1982) e o filme final de Bergman, Saraband (2003). Trabalhou ainda sob a direcção de Andrei Tarkovski, em Nostalgia (1983) e O Sacrifício (1986), e Theo Angelopoulos, em O Olhar de Ulisses (1995). Erland Josephson esteve de visita a Portugal, em 1996, para integrar o júri oficial do Festival de Curtas-Metragens de Vila do Conde.




>>> Obituário no New York Times.

Cannes sob o signo de Marilyn

No dia 16 de Maio começa a 65ª edição do Festival de Cannes, este ano com Nanni Moretti a assumir as funções de presidente do júri oficial. Para assinalar tão respeitável idade, o certame apresenta-se através de um cartaz com uma imagem festiva de Marilyn Monroe — isto no ano em que se assinalam 50 anos passados sobre a sua morte (a 5 de Agosto de 1962). A fotografia original tem assinatura de Otto Bettmann; a concepção gráfica é da agência Bronx (Paris).

>>> Site oficial do Festival de Cannes.

Luca Gudagnino filma Armani

Luca Guadagnino, o cineasta do admirável Eu Sou o Amor (2009), acaba de fazer um filme de 3 minutos para lançamento da colecção Primavera/Verão da casa Armani. Tem sido apresentado sob o signo de Hitchcock, mas possui um título roubado a Godard: One plus One — o resultado é pura e deliciosa sofisticação, cinéfila q.b.

Quem decide os Oscars?

Afinal de contas, quem são, de facto, as pessoas que decidem o essencial dos Oscars? Recentemente, o Los Angeles Times [em cima: capa da sua revista dedicada aos Oscars] estabeleceu uma estatística dos membros da Academia de Hollywood que é, no mínimo, desconcertante — este texto foi publicado no Diário de Notícias (26 Fevereiro), com o título 'Quem (não) vota nos prémios de Hollywood?'

Vale a pena recordar algumas vitórias bizarras nos Oscars dos últimos anos. Assim, por exemplo, em 1998, A Paixão de Shakespeare, pouco mais que um competente telefilme, obteve a distinção de melhor filme, deixando de fora o admirável O Resgate do Soldado Ryan, de Steven Spielberg (distinguido como melhor realizador); em 2002, Chicago, revisão banalmente retórica do género musical, foi eleito melhor do ano contra Gangs de Nova Iorque, de Martin Scorsese. Em boa verdade, tais discrepâncias não são de agora. Assim, por exemplo, quem se lembra desse musical muito académico que dá pelo nome de Oliver!, com realização de Carol Reed? Pois bem, arrebatou o Oscar de melhor filme de 1969, nada mais nada menos que o ano da obra-prima de Stanley Kubrick, 2001: Odisseia no Espaço (que nem sequer estava nomeado na categoria de melhor filme).
Escusado será dizer que seria banal arrogância supor que os mais de cinco mil mebros da Academia se devem submeter à “minha” (ou à “tua”) visão. Não se trata de discutir o problema no mero plano das escolhas, mas sim de colocar uma pergunta muito directa: afinal, quem escolhe?
O Los Angeles Times avançou recentemente algumas respostas, no mínimo, desconcertantes. Assim, o jornal realizou uma investigação no sentido de traçar o perfil demográfico dos quase seis mil membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, anualmente responsável pela atribuição dos Oscars. Não existindo nenhuma publicação oficial que dê conta de tal perfil, foram tidas em conta as características conhecidas de 5100 daqueles membros (cerca de 89% do total). Resultados: ficamos a saber, por exemplo, que mais de metade, 54%, têm mais de 60 anos e que 77% são do sexo masculino (isto para além de os brancos corresponderem a 94% do total). Claro que não faria sentido denegrir (ou elogiar, se fosse esse o ponto de vista) as escolhas da Academia em função destes números. Mas é inevitável questionar a sua representatividade. Quando mais de metade do colégio eleitoral da Academia já passou os 60 anos, o mínimo que se pode dizer é que lhe falta representatividade. E tanto mais quanto as muitas transformações da produção de Hollywood na última década (em especial a partir de O Projecto Blair Witch, lançado em 1999) têm sido, melhor ou pior, lideradas pelos mais novos.
Claro que o peso de muitos veteranos (lembremos os casos modelares de Clint Eastwood e Martin Scorsese que têm, respectivamente, 81 e 69 anos) é um factor nuclear da vitalidade criativa de Hollywood. Mas importa avaliar até que ponto os Oscars têm condições para reflectir de forma pertinente a pluralidade interna de uma indústria em que, do academismo ao experimentalismo, dos grandes estúdios aos independentes, continua a haver de tudo um pouco.

Da floresta ao mar...

Mais um teledisco para um tema do álbum de 2011 de Bon Iver (que muito simplesmente se apresenta com o título Bon Iver). Desta vez o tema escolhido foi Towers. Aqui fica o teledisco que surge com realização assinada por Nabil (que recentemente havia também realizado o pequeno filme que acompanhou Holocene).


Novas edições:
Hooray For Earth, True Loves


Hooray For Earth 
“True Loves” 
Memphis Industries 
4 / 5

O mapa indie parece estar a reconhecer o momento algo desinspirado (salvo as exceções, claro) que a música de guitarras tem vivido nos últimos tempos. E vão surgindo exemplos de casos em que aos sintetizadores (e demais artilharia electrónica) é conferido maior protagonismo em espaços de afirmação de descendências da cultura pop/rock (fação alternativa). Apesar de terem infletido o sentido da sua demanda num percurso de reencontro com ecos dos sessentas, os MGMT são cada vez mais um caso paradigmático dessa nova lógica, alguns dos temas centrais de Oracular Spectacular servindo de referencias que guiam novos talentos. Ainda recentemente encontramos nos escoceses Django Django um entusiasmante lugar de encontros entre uma pop contemporânea tão atenta à assimilação de elementos electrónicos (porém de escola mais próxima do que conhecemos nuns Hot Chip) com sabores mais remotos colhidos na memória do psicadelismo. Agora centremos atenções nos Hooray For Earth. Chegam de Nova Iorque (mas com pré-história em Boston) e contam já com um par de discos editados (um deles contando com a colaboração de Twin Shadow), porém sem sinais de terem chegado muito longe... Em 2011 um teledisco (com True Loves como banda sonora, canção que estabelecia eventuais afinidades com uns Late of The Pier) deu-lhes visibilidade maior em várias plataformas online. E, depois de editado nos EUA em finais do ano passado, o álbum True Loves conhece agora lançamento europeu através da atenta Memphis Industries. Trata-se de uma bela e sólida mão cheia de canções que, além de acreditarem nos valores da concisão (alinhamento de dez faixas, nem mais nem menos), apresenta expressões contemporâneas de fontes de inspiração menos habituais quando se evocam os oitentas, que vão das primeiras fases de uns Tears for Fears ou Talk Talk à memória ainda mais remota de uns New Musik (em Bring Us Together avançando pelo território menos gourmet de um power pop à moda de uns Go West). Pop luminosa, pungente, musculada, num disco que serve de seguro cartão de visita a uma banda que mostra interessantes novas formas de abordagem a ecos dos oitentas.

Son + Serengeti + Sufjan


Era uma colaboração que, mais dia, menos dia, acabaria por se concretizar. Sufjan Stevens vai assim trabalhar com Son Lux, num EP que contará ainda com a participação de Serengeti (que, tal como Son Lux, integra o catálogo da Anticon). Respondendo como S / S / S, o trio vai editar o EP Break & Claw, a 20 de março, pela Anticon. O disco inclui ainda a presença vocal de Sarah Worden dos My Brightest Diamond e de Doseone, dos Subtle and Themselves.

O sistema solar (em alta definição)


A história já foi contada. E bem contada, por Carl Sagan, no inesquecível Cosmos, série (e depois também livro) que ficou na história do documentarismo televisivo como um dos episódios mais marcantes da divulgação científica no pequeno ecrã (e é ainda hoje a produção da PBS, o canal público americano, de maior sucesso à escala global). Mas passaram mais de 30 anos desde que, a bordo da sua nave imaginária (e ao som da música de Vangelis), Carl Sagan caminhava entre os satélites de Júpiter, os abismos do Velles Marineris (em Marte) ou nos explicava a equação de Drake (que tenta avaliar o número possível de civilizações na galáxia). Ou seja, não só o conhecimento científico sobre o mundo em que vivemos e o universo em nossa volta aumentou significativamente, como temos novas imagens de mundos que nos dias de Cosmos ainda não tinham sido visitados por sondas com a capacidade de nos mostraram o que ali se escondia, assim como a tecnologia de efeitos visuais permite hoje completar o que o Homem já viu com recriações digitalmente criadas do que ainda está por ver ou que, em certos ângulos e movimentos de câmara, as nossas máquinas ainda não alcançaram.

Estes três podem ser os primeiros argumentos para abrir a curiosidade sobre Wonders Of The Solar System, a série que o físico Brian Cox apresenta e que resulta de uma co-produção da BBC com o Science Channel. Inicialmente exibida em 2010, a série propõe um panorama do nosso sistema solar em cinco episódios de 60 minutos cada. Não numa lógica de arrumação sistemática, planeta a planeta, satélite a satélite, mas antes cruzando informação de forma a mostrar como tudo, no fundo, está ligado a uma história conjunta, com características comuns e seguindo regras que o mundo da física pode explicar. E com o valor extra que s imagens de alta definição podem garantir a este tipo de documentários, a opção pelo Blu Ray em detrimento do DVD sendo aqui escolha mais que justificada.

Wonders Of The Solar System começa por visitar o Sol e a forma como a sua presença e evolução marcam a história do sistema solar. Depois procura mostrar como o comportamento do movimento dos planetas afeta as características das suas paisagens e visita não apenas os anéis de Saturno mas também a sua lua Encelado. Num terceiro episódio Brian Cox sobe, num vôo especial, aos limites da atmosfera para reconhecer quão delicada é esta fina camada que envolve a Terra, caminhando depois numa “visita” a Marte e Titã. O quarto episódio aborda a vitalidade geológica de vários mundos do nosso sistema solar. Parte do Grande Canyon, no Arizona para estabelecer paralelos com o Valles Marineris em Marte. Passa depois pelo Kilauea, no Hawai, para nova comparação marciana, desta vez com o Monte Olimpo. Passa ainda por Io (para contemplar formas de vulcanismo bem distintas) e analisa ainda o efeito que Júpiter tem sobre os asteroides (alguns deles projetados sobre os planetas interiores como meteoritos). O quinto e último episódio procura refletir sobre a possibilidade de água e vida noutros lugares do sistema solar, começando com uma descida a dois quilómetros de profundidade no mar mexicano a bordo do submarino Alvin (para encontrar toda uma fauna bem diferente) e seguindo depois rumo a Marte e a Europa, levantando hipóteses que em breve poderão ter respostas mais concretas.


Vale a pena falar ainda do autor e apresentador da série. Brian Cox é um físico inglês na casa dos 40 anos. Tem um passado pop (foi teclista de duas bandas uma delas, os D:Ream, tendo mesmo somado uma mão cheia de êxitos em inícios dos anos 90) e ensina da Universidade de Manchester. Autor de outras séries (entre as quais a sequela Wonders of The Universe, de 2011), Brian Cox é um claro herdeiro da “escola” David Attenborough, o seu aventureirismo sendo evidente pela forma como não olha a limites para se deixar juntar, com a câmara, ao lugar que conta para a história que interessa mostrar, seja o limite de um penhasco monumental, o bordo de um lago de lava ou uma ilha de gelo em pleno glaciar... O seu entusiasmo ecoa também as memórias do encanto do grande divulgador que foi Carl Sagan. Talvez lhe falte a eloquência literária com que Sagan moldava Cosmos (e toda a sua obra em livro) à expressão de uma personalidade vincada que refletia os dotes de um comunicador invulgar. Mas convenhamos que não se sai nada mal... E tem nesta série uma belíssima equipa que garante aos programas qualidades técnicas na realização, captação e tratamento de imagem que explicam o sucesso que obteve e os prémios que alcançou.

O lado A que acabou no lado B...


Estava para ser o terceiro single a extrair do alinhamento do álbum Behaviour, mas acabou por ceder a vez a uma versão de Where The Streets Have No Name (dos U2), cruzada com I Can’t Take My Eyes Out Of You, que se transformou num dos maiores êxitos do duo nos anos 90. How Can You Expect To Be Takes Seriously, com nova mistura entretanto já criada para a projetada edição em single, acabou contudo no verso do single (todavia apresentado como um double A-side). Mas nos EUA teve direito a edição em nome próprio, juntando ainda mais remisturas e, em alguns formatos, outros temas que entretanto não haviam conhecido lançamento no mercado americano (pelo que a capa que abre o post se refere a essa edição).

segunda-feira, fevereiro 27, 2012

3 imagens dos Oscars

Star! Se é verdade que o cinema e o imaginário cinematográfico só têm sido empobrecidos pela celebração beata dos "efeitos especiais", não é menos verdade que, apesar de tudo, as estrelas resistem. E oferecem-nos a dimensão mais sofisticada do cinema, afinal coincidindo com a sua verdade mais humana — Angelina Jolie, por exemplo, apresentando os Oscars das duas categorias de argumento [International Business Times].

Uma estreia: Zachary nunca tinha frequentado estas vertigens de celebrações e festas, acabando por ter o seu baptismo de glamour hollywoodiano no dia dos Oscars. Foi na gala anual da Elton John AIDS Foundation (entidade humanitária que trabalha em projectos de prevenção da sida e também de combate aos estigmas sociais associados à doença) — o filho de David Furnish (à esquerda) e Elton John eclipsou todos os notáveis que com ele posaram [The Huffington Post].

"Nine is the new five": foi com essa frase irónica que Billy Crystal procurou superar a sensação de arbitrariedade decorrente do facto de se ter passado de cinco para dez filmes nomeados para o Oscar máximo e, este ano, para... nove. Afinal, o "9" resumia as peculiaridades da noite, com o próprio Crystal, renascido das cinzas de Hollywood, a apresentar a cerimónia pela nona vez — foi eficaz, competente, em alguns momentos brilhante, mas não bastará para transfigurar a crise conceptual que continua a assombrar a entrega dos prémios da Academia [AMPAS].

Oscares 2012: os vencedores

Terminada a entrega dos Óscares a soma dos prémios dá um empate a cinco estatuetas douradas, com o filme francês O Artista a vencer, contudo, algumas das categorias principais. A Invenção de Hugo, de Martin Scorsese terminou também a noite com cinco Óscares. 

Melhor Filme - 'O Artista'
Melhor Realizador - Michel Hazanavicius ('O Artista')
Melhor Atriz - Meryl Streep ('A Dama de Ferro')
Melhor Ator - Jean Dujardin ('O Artista')
Melhor Atriz Secundária - Octavia Spencer ('As Serviçais')
Melhor Ator Secundário - Christopher Plummer ('Assim é o Amor')
Melhor Argumento Adaptado - 'Os Descendentes'
Melhor Argumento Original - 'Meia Noite em Paris'
Melhor Fotografia - 'A Invenção de Hugo'
Melhor Direção Artística - 'A Invenção de Hugo'
Melhor Guarda Roupa - 'O Artista'
Melhor Caracterização - 'A Dama de Ferro'
Melhor Banda Sonora - 'O Artista'
Melhor Canção - 'Os Marretas'
Melhor Montagem - 'Millenium 1 - Os Homens que Odeiam as Mulheres'
Melhor Som - 'A Invenção de Hugo'
Melhores Efeitos Sonoros' - 'A Invenção de Hugo'
Melhores Efeitos Visuais - 'A Invenção de Hugo'
Melhor Filme Estrangeiro - 'Uma Separação' (Irão)
Melhor Documentário - 'Undefeated', TJ Martin, Dan Lindsay e Richard Middlemas.
Melhor Filme de Animação - 'Rango'
Melhor Curta Metragem de Imagem Real - 'The Shore'
Melhor Curta Metragem Documental - 'Saving Face'
Melhor Curta Metragem de Animação - 'Fantastic Flying Books of Mr Morris Lessmore'

N. G. :  A noite não podia ter sido coisa mais sem cor nem som... De resto, e salvo a conversa fiada de quem dava e recebia prémios (e ainda por cima sem um único discurso memorável ao longo de todo o serão), e o pontual episódio Cirque du Soleil, som (leia-se música ou algo mais que as palavras) foi coisa que mal se escutou. Com o Óscar de Melhor Canção reduzido a duas nomeadas, bem que podiam ter encenado a coisa, uma em jeito tropical, a outra em festim à la Marretas. Mas não... Valeu-nos a dupla Cocas/Piggy num camarote por breves instantes. E não fossem as pontuais intervenções de Billy Crystal e do hilariante filme inicial (parodiando instantes dos filmes nomeados), a gala teria sido candidata ao Óscar da mais anorética da história da Academia. A premiação gostou mais de distinguir um filme banal e ligeirinho, feito de clichés e condimentos mais para parecer que para ser, mas recordando de forma chauvinista a memória da própria Hollywood, que optar antes por celebrar uma outra forma de recordar a história do próprio cinema (leia-se, a que Scorsese evoca no bem mais interessante A Invenção de Hugo). De resto, nada que não se esperasse, tanto que raras foram as escolhas a fugir às tendências da premiações pré-Óscares que fizeram as notícias desde meados de janeiro. Com o “grande filme” de 2011 (ou seja, A Árvore da Vida) a zeros e outros momentos realmente maiores da história do último ano cinematográfico, a gala acabou com um encolher de ombros que quem, no fundo, já sabe que outra coisa ali não é de esperar...

J. L. :  O quadro ficou traçado a partir do momento em que As Aventuras de Tintin, de Steven Spielberg, não surgiu nas nomeações para melhor filme de animação (ou mesmo para melhor filme, tout court): aqui temos, afinal, uma indústria toda ela virada para os espectaculares avanços do digital (de que o 3D é a bandeira mais evidente) que não consegue, ou não sabe, celebrar o seu próprio vanguardismo tecnológico.
Por um paradoxo algo simplista, foi o ano da nostalgia. Não a nostalgia criativa de Spielberg (Cavalo de Ferro) ou Martin Scorsese (A Invenção de Hugo), mas a caricatura nostálgica de O Artista. Esperemos que, pelo menos, esta vitória francesa (ainda que apoiada no fulgurante sentido de marketing dos irmãos Weinstein) traga algumas mudanças à presença do cinema europeu no mercado dos EUA, de longe muito menos significativa que a dos americanos nas salas europeias. Ou será que apenas se vai reforçar o cliché segundo o qual os europeus são uns patetas alegres que confundem o business com a arte?... Digamos que o espalhafatoso discurso de agradecimento de Jean Dujardin deu uma boa ajuda para o reforço de tal cliché. Encore un effort...

Esta quarta-feira na Fnac Vasco da Gama
um Sound + Vision Magazine especial


Esta quarta-feira, uma sessão especial do Sound + Vision Magazine tem lugar na Fnac Vasco da Gama. Pelas 18.30, abordamos o universo de Martin Scorsese, da sua cinematografia à relação que esta tem criado com a história das imagens e da música. Vencedor de cinco Óscares, A Invenção de Hugo, mesmo falhando a premiação principal, não deixou de ser um dos filmes em maior evidência na 64ª atribuição das estatuetas douradas de Hollywood.

Novas edições:
Shearwater, Animal Joy


Shearwater 
“Animal Joy” 
Sub Pop 
2 / 5

Durante algum tempo, e sobretudo pela visibilidade que Jonathan Meiburg ganhou nos Okkervil River, os Shearwater (na verdade com discografia que remonta a 2001) ganharam aquela atenção, mais curiosa que devota, de quem ali ia procurar o que o músico ia fazendo nos dias de folga... E certamente quem os escutou com atenção terá reconhecido que houve ocasiões em que Meiburg nos deu momentos mais gourmet por estes lados, recorde-se para isso o belíssimo álbum de 2008 Rook. Seguiu-se em 2010 o menos inspirado The Golden Archipelago e, ao mesmo tempo, a notícia de que Meiburg deixava os Okkervil River para se concentrar naquela que era a sua demanda pessoal através dos Shearwater... Não deixa contudo de ser curioso que, ao segundo álbum editado após o afastamento dessa outra força reconhecida no mapa indie, os Shearwater se afastem mais que nunca dos espaços essencialmente contemplativos, de alma frágil, que faziam de Palo Alto e, sobretudo, Rook, momentos de personalidade rara e vincada, procurando caminhos de maior intensidade que, de certa forma, os aproximam mais que nunca dos patamares por onde circulam os Okkervil River. É certo que em Animal Joy não abandonam a sua costela “verde” (o disco volta a ter o mundo natural sob o foco das suas atenções) e a voz e o piano continuam a conhecer um peso considerável na divisão dos protagonismos. Mas a presença das guitarras e de uma arquitetura rítmica mais evidentes que nunca sublinha as vontades de mudança. Pena depois que não só as canções não sejam de melhor colheita e que pareça, à medida que avançamos no alinhamento, que a banda perde personalidade a olhos vistos e em nada repete o requinte que dela fazia algo bem diferente ainda há poucos anos... Restam episódios como os que escutamos em Open Your Houses (Basilisk) ou Believing Makes It Easy, onde a voz de Meiburg encontra moldura mais adequada. Mesmo assim muito longe do que nos mostrava nos dias de Rook...

Para começar a ouvir o novo Rufus...

Chama-se Out Of The Game e é o título do novo álbum de Rufus Wainwight, a editar a 23 de Abril. Um primeiro avanço para ir descobrindo o som deste álbum que tem produção assinada por Mark Ronson aqui fica, com este Montauk:

 

Os Pet Shop Boys,
segundo Jorge Manuel Lopes


Em tempo que assinala a edição de nova antologia de lados B dedicamos especial atenção este mês aos Pet Shop Boys. E convidámos alguns amigos a contar-nos qual foi o disco da dupla Tennant/Lowe que mais os marcou. Hoje é Jorge Manuel Lopes, jornalista da Time Out, quem nos fala do álbum Introspective. Um muito obrigado ao Jorge pela colaboração.

Ao transpor a capa Benetton de Introspective, de 1988, dá-se de caras com Left to My Own Devices, e dentro desta mini-sinfonia reencontra-se, na produção, Trevor Horn. É um reencontro literalmente do outro lado dos 1980s, apesar de terem passado apenas três anos desde o fim do ciclo de obras-primas Nova Pop de Horn (ABC, Frankie Goes to Hollywood, Grace Jones, The Art of Noise, Propaganda). Introspective pertence já a outro mundo – os golpes ao piano e o ritmo de Left to My Own Devices são frutos da árvore house, I Want a Dog tem mistura de Frankie Knuckles, It’s Alright é uma importação directa de Chicago –, um mundo onde Trevor Horn passou de anfitrião conceptual a convidado de uma narrativa alheia. É também um mundo onde a relação nublada dos Pet Shop Boys com a pista de dança emprega uma moldura latina, a de Domino Dancing, que nunca foi por eles explorada com a frequência merecida. Com canções nunca abaixo dos seis minutos, Introspective deixa a tecnologia respirar e ter as suas conversas mesmo até ao fim. Como deve ser.

domingo, fevereiro 26, 2012

E as escolhas dos leitores
do Sound + Vision são...

Ao longo da última semana a votação decorreu no Sound + Vision. Agora aqui ficam os resultados das escolhas dos leitores do blogue:

MELHOR FILME:
A Árvore da Vida

MELHOR REALIZADOR:
Terrence Malick (A Árvore da Vida)

MELHOR ATOR PRINCIPAL:
Gary Oldman (A Toupeira)

MELHOR ATRIZ PRINCIPAL:
Meryl Streep (A Dama de Ferro)

MELHOR ATOR SECUNDÁRIO:
Christopher Plummer (Assim é o Amor)

MELHOR ATRIZ SECUNDÁRIA:
Jessica Chastain (As Serviçais)

MELHOR ARGUMENTO ORIGINAL:
Meia Noite em Paris

MELHOR ARGUMENTO ADAPTADO: 
A Invenção de Hugo

MELHOR BANDA SONORA:
Ludovice Bource (O Artista)

MELHOR CANÇÃO:
Man Or Muppet (Os Marretas)

O 11 de Setembro (não) está nos Oscars

Há que reconhecê-lo: os irmãos Weinstein continuam a ser mestres na arte do marketing em Hollywood. A sua promoção de O Artista (desde que o adquiriram, para distribuição, no Festival de Cannes de 2011) vai, quase de certeza, voltar a valer-lhes o Oscar de melhor filme. Mas será que só conseguimos ver & pensar o cinema americano contemporâneo a partir do espírito "competitivo" que a temporada dos Oscars impõe? — este texto foi publicado no Diário de Notícias (25 Fevereiro), com o título 'Para repensar as memórias do 11 de Setembro'.

Primeiro na Miramax, agora na Weinstein Company, os irmãos Weinstein (Harvey & Bob) são os grandes estrategas do marketing dos Óscares. Entre as suas proezas incluem-se os prémios de melhor filme para A Paixão de Shakespeare (1998), no ano de O Resgate do Soldado Ryan; Chicago (2002), no ano de Gangs de Nova Iorque; e O Discurso do Rei (2010) no ano de A Rede Social. Além do mais, este ano, O Artista, distribuído pela Weinstein Company, vai por certo bater a concorrência de Scorsese, Spielberg, Mallick...
Oportunidade perdida para a Academia distinguir o filme mais visceralmente americano dos nove candidatos: Extremament Alto, Incrivelmente Perto [trailer], notável adaptação do romance de Jonathan Safran Foer que abre todo um novo espaço de narrativa e pensamento para as memórias do 11 de Setembro. Stephen Daldry, o realizador, saíu-se bem da última vez que esteve nos Oscars, com O Leitor (2008), que valeu a estatueta de melhor actriz a Kate Winslet... mas O Leitor era distribuído pela Weinstein Company.


>>> A estreia portuguesa de Extremamente Alto, Incrivelmente Perto está marcada para 1 de Março.

É mais logo à noite...


Em dia de entrega dos Óscares não fazemos uma bolsa de apostas. Antes uma lista de escolhas. Ou seja, os nomes que fosse nossa a decisão, deveriam ganhar as estatuetas.

N. G.: Fosse a lista de nomeados uma outra lista e as escolhas seriam certamente outras. Que quem merecia o Oscar de Melhor Atriz era mesmo Jessica Chastain (em A Árvore da Vida)... E que o filme de Malick devia, pelo menos, estar ainda nomeado para Melhor Montagem e Mistura de Som... Que Clooney deveria ter mais nomeações por Os Idos de Março que por Os Descendentes... Que uma categoria de Melhor Filme de Animação sem As Aventuras de Tintin é coisa ou de distração inexplicável ou de má vontade que não faz sentido. Que há mais e melhores canções que as (apenas) duas nomeadas (coisas de regras que impedem que Masterpiece, de Madonna, que ganhou o Globo de Ouro, possa até concorrer)... Podíamos ficar aqui horas a fio... Enfim... A Academia é a que sabemos que é: 94% brancos, 77% homens, com média de idade nos 62 anos (sendo que abaixo dos 50 anos são apenas 14% dos votantes)... Ou seja, filmes mudos, a preto e branco e ensopadinhos em clichés ligeiro, parecem ser mesmo coisa de ementa para os clientes da casa, certo? A menos que haja surpresas...

Aqui fica uma lista de nomes que mereciam vencer as estatuetas. Uma escolha pessoal, portanto, partindo dos nomeados (e não do universo de hipóteses onde, em muitos casos, outros nomes acabaria por escolher)...

Melhor Filme – A Árvore da Vida
Melhor Realizador – Terrence Malick (A Árvore da Vida)
Melhor Ator Principal – Brad Pitt (Moneyball)
Melhor Atriz Principal – Michelle Williams (A Minha Semana com Marilyn)
Melhor Ator Secundário – Christopher Plummer (Assim é o Amor)
Melhor Atriz Secundária – Jessica Chastain (As Serviçais)
Melhor Argumento Original – A Melhor Despedida de Solteira
Melhor Argumento Adaptado – A Invenção de Hugo

Melhor Fotografia – A Árvore da Vida
Melhor Direção Artística – A Invenção de Hugo
Melhor Guarda Roupa – A Invenção de Hugo
Melhor Montagem – A Invenção de Hugo
Melhor Caracterização – A Dama de Ferro
Melhor Banda Sonora – As Aventuras de Tintin
Melhor Canção – Os Marretas
Melhor Montagem de Som – Drive
Melhor Mistura de Som – A Invenção de Hugo
Melhores Efeitos Visuais – O Planeta dos Macacos

Nas restantes categorias não vi filmes suficientes para poder fazer escolhas...

J. L.: Confesso que tenho alguma nostalgia dos filmes (raros, é certo) que conseguem arrebatar esse mítico quinteto de Oscars que, por assim dizer, resume um grau de absoluta excelência: filme + realizador + actor + actriz + argumento. O último a conseguir tal proeza foi O Silêncio dos Inocentes (1991).
Este ano, tendo em conta as nomeações, já sabemos que a proeza não se vai repetir... Num plano exclusivamente subjectivo, sinto-me tanto mais desamparado quanto um dos filmes que poderiam ambicionar tal performance — Jovem Adulta, de Jason Reitman — teve... zero nomeações.
Direi, então, que gostava que a América do cinema se reencontrasse com as dimensões mais nobres do seu património narrativo. Ficando-me por aquelas cinco categorias (e considerando apenas os nomes disponíveis nas nomeações), aqui fica uma hipótese utópica:

Melhor Filme – Extremamente Alto, Incrivelmente Perto
Melhor Realizador – Steven Spielberg (Cavalo de Guerra)
Melhor Actor – Brad Pitt (Moneyball)
Melhor Actriz – Rooney Mara (Millennium 1)
Melhor Argumento (adaptado) – Nos Idos de Março