quinta-feira, setembro 29, 2011

Mês Björk (29):
Pelo grande ecrã


Um percurso hoje pelo trabalho de Björk no cinema. Mas que não se esgota, ao contrário do que se possa pensar, em Dancer In The Dark...

Bastava vê-la nos telediscos que acompanhavam as suas canções para em si reconhecermos uma actriz em potência. Contudo, ao contrário do que vulgarmente se pensa, não coube a Lars Von Trier a “descoberta” das capacidades performativas de Björk para lá da música e dos palcos. Em 1990 o filme islandês The Juniper Tree, de Nietzchka Keene, tomava a cantora como protagonista de uma história baseada no conto homónimo dos irmãos Grimm. Björk veste aqui a pele de uma mulher cuja mãe foi acusada de bruxaria. Rodado em 1986 com um orçamento mínimo, o filme só conheceu estreia em 1990, quando finalmente foi concluído e logo depois apresentado em Sundance. Em 2002 uma edição em DVD deu-lhe contudo uma maior visibilidade mas, mesmo assim, longe das atenções do grande público.

Foi contudo através de Dancer In The Dark que Björk inscreveu o seu nome na história do cinema. Nem que, como então terá dado a entender, seja experiência a não repetir. No filme, que arrebatou a Palma de Ouro em Cannes (num festival que também distinguiu a cantora como melhor actriz), Björk vestiu a pele de uma operária fabril com um grave problema de visão. Uma sonhadora que, perante os momentos mais difíceis, liberta uma voz interior que se expressa na forma de canções com a grandiosidade cénica que o cinema musical tantas vezes experimentou, aqui usando em favor da imagem um dispositivo com inúmeras câmaras digitais que o realizador arrumou em volta de alguns dos décors (com particular efeito ao som de Cvalda, numa cena de canto e dança em plena fábrica)... Von Trier fez contudo de Selma (a personagem que entregou a Björk) um ensopado de desgraças, o acumular de situações pelas quais passa resultando num cenário de tragédia que nem a melhor canção (ou sonho) pode salvar.

O filme dividiu opiniões logo à passagem no festival de Cannes. A personagem de Selma se, por um lado, vive de uma certa verdade que uma não-actriz lhe confere, por outro afirma-se assombrada por tamanha sucessão de dramas que acabam por retirar à narrativa a carga convincente que de outra forma poderia sugerir. O melhor de Dancer In The Dark vem contudo da música que Björk criou para o filme, juntando os sons dos espaços onde a acção decorre às electrónicas e à presença de arranjos sumptuosos para orquestra. Assim nasce Selmasongs, um disco relativamente curto (porque limitado às composições usadas no filme) mas que guarda em si uma exposição clara das capacidades de Björk enquanto escritora de canções e nele apresenta uma mão cheia de grandes canções, uma delas contando com a presença de Thom Yorke, dos Radiohead (I've Seen It All, nomeada depois para o Oscar de Melhor Canção Original). E isto numa altura em que o desafio que colocava a si mesma se centrava mais na exploração da matéria que faz a composição e não na moldura formal com que as canções se apresentam.

Não terá sido exactamente o dar o dito pelo não dito, mas a verdade é que Björk regressou ao cinema depois de Dancer In The Dark. Porém, a bordo de uma experiência completamente diferente, num filme que talhou o seu caminho por outros circuitos e que a colocou perante um trabalho em tudo diferente do que havia protagonizado tanto no filme de Lars Von Trier como no mais distante The Juniper Tree. Realizado por Matthew Barney, o filme Drawing Restraint 9 é na verdade um momento entre uma sequência de obras que integram a série Drawing Restraint, assinada pelo artista que comandou as operações por detrás das câmaras. Estreado nos festivais de Veneza e Toronto em Setembro de 2005 e, mais tarde, com distribuição comercial, o filme centra muita das suas atenções em factos e imagens da cultura japonesa, ora recriando uma tradicional cerimónia do chá ora abordando a questão da pesca da baleia. Björk é figura-chave não apenas no que vemos no ecrã, como também enquanto autora da banda sonora, que teve então lançamento em disco.