sexta-feira, setembro 30, 2011

Cantam (mas não encantam)


Foi há quatro anos. Depois de ensaiada uma ideia (bem sucedida, sublinhe-se) de encontro entre música e narrativa numa sequência de Em Paris, Christophe Honoré propôs em As Canções de Amor uma história de perda e redescoberta ao som de uma mão cheia de composições de Alex Beaupain, colocando, como mandam as regras dos velhos musicais, as canções nas vozes dos actores e as palavras cantadas na teia que define e explica, aos poucos, a narrativa que vemos evoluir no grande ecrã. O filme representou um verdadeiro acontecimento e tanto os actores como as canções e o olhar da câmara contribuíram para uma soma que fez do todo um caso notável do cinema do nosso tempo (sublinhando definitivamente Honoré como um dos grandes cineastas da sua geração). Quatro anos depois tenta repetir a ideia em Os Bem Amados. Mas com resultados completamente diferentes. Porque nem sempre uma boa ideia o é à segunda vez.


Mesmo com ingredientes diferentes e uma história distinta, são várias as semelhanças que encontramos entre As Canções de Amor e Os Bem Amados. Entre histórias e reflexões sobre o amor (a descoberta, a perda, o reencontro) cruzam-se personagens e canções. De absolutamente novo, uma narrativa que cruza épocas e lugares. Tudo começa na Paris dos sessentas, numa sapataria da moda. Passamos por Praga, no dia da “primavera” que os tanques soviéticos esmagaram. Com episódios seguintes entre Paris, Londres e Montreal, já nos noventas e na década dos zeros. No tutano da história mora uma mulher (interpretada por Ludivine Sagnier nos sessentas e por Catherine Deneuve mais adiante), o seu encontro com um médico checo (que na velhice é interpretado por Milos Forman), a filha que nasceu em Praga mas que cresceu em Paris. Desta última seguimos, já em adulta (numa excelente criação de Chiara Mastroiani) a sua inconstante e algo desafortunada vida amorosa. Perante um leque menos inspirado de canções de (novamente) Beaupain, Honoré conduz um melodrama de sabor clássico, com o 11 de Setembro algo metido "a martelo" numa altura em que a história passa por 2001... Alonga contudo excessivamente o desenrolar dos acontecimentos e só raras vezes a relação da história com a música gera instantes memoráveis. Não faltam belos enquadramentos, demonstrações claras da presença de um elenco de luxo. Mas com sabor a coisa repetida e requentada, Os Bem Amados em nada repete o encantamento de As Canções de Amor...


Imagens do trailer do filme