quarta-feira, agosto 31, 2011

Atribulações do corpo e da alma

Rodrigo Blaas é um espanhol que tem trabalhado no cinema de animação, tanto em Espanha como nos EUA, nomeadamente nos estúdios Pixar. A sua primeira curta-metragem como realizador — Alma (2009) — , é uma pequena pérola que, em cinco prodigiosos minutos, reencontra a vocação alegórica dos clássicos desenhos animados. Com uma presença forte no circuito dos festivais, transformou-se num peculiar objecto de culto.
O ano passado chegou a ser anunciada a possibilidade de Alma ser transformado numa longa-metragem, com chancela da DreamWorks, e Blaas de novo a dirigir: o projecto estaria integrado na colaboração de Guillermo del Toro com o estúdio, envolvendo também Trollhunters, seu primeiro trabalho de animação. Para já, aqui fica o admirável Alma.


>>> Site oficial de Alma.

Memórias do Muro de Berlim

23 de Agosto de 1961: espreitando o Leste, poucos dias depois da construção do Muro
(FOTO Werner Kreusch / Associated Press)
A recente passagem do cinquentenário do início da construção do Muro de Berlim (iniciada a 13 de Agosto de 1961) deu origem a uma dupla proliferação de fotografias: das comemorações e do seu tocante simbolismo e também dos primeiros tempos de perplexidade, dando conta da súbita e brutal cisão, não apenas de uma cidade, mas também de um povo e, em boa verdade, de um planeta. 'The Big Picture', o sempre notável blog fotográfico de The Boston Globe, reuniu três dezenas dessas imagens — vale a pena descobrir o portfolio.

13 de Agosto de 2011: homenagem aos que foram mortos ao tentarem fugir do Leste
(FOTO Sean Gallup / Getty Images)
9 de Agosto de 2011: Bernauer Strasse, onde passava o Muro
(FOTO Thomas Peter / Reuters)
>>> Wikipedia: sobre a Guerra Fria.

Uma canção para o Verão (4.20)


Pelo quarto ano consecutivo fizemos de Agosto palco para ouvir diariamente, no Sound + Vision, uma canção para o Verão. E terminamos a série de 2011 com uma memória de 1982. Trata-se de Lonely In Your Nightmare, tema do álbum Rio dos Duran Duran, com teledisco rodado no Sri Lanka (usado apenas no vídeo-álbum Duran Duran de 1983). Notem-se as afinidades de lugares (e até mesmo uma personagem partilhada) com os telediscos de Hungry Like The Wolf e Save a Prayer.

Uma ferida tem cura?


Dez anos depois, um olhar sobre os dez anos que passaram. Tem como título Rebirth e é um documentário que nos mostra como, ao longo dos últimos dez anos, foram mudando (ou nem por isso) cinco figuras cujas vidas foram profundamente marcaras pelos ataques do 11 de Setembro a Nova Iorque. Um adolescente que perdeu a mãe, uma mulher que sofreu queimaduras, um bombeiro que perdeu o seu melhor amigo, uma mulher cujo noivo desapareceu, um operário da construção que ficou sem um irmão... A câmara de Jim Whitaker visitou-os, uma vez por ano, desde os momentos que se seguiram aos atentados em 2001. Nick, que não é mais o adolescente que ficou sem mãe, confessa que são cada vez mais longínquas as memórias que dela guarda. E Tanya, a noiva que perdeu o noivo, encontrou novo parceiro, casou, mas não tirou da sua casa as fotos daquele com quem pensava viver a vida antes de 11 de Setembro... Ao mesmo tempo que ia somando estas confissões, o realizador olhou o espaço que acabou designado como Ground Zero e viu como, ao longo deste percurso, algo ali começou a renascer... Agora, e com música de Philip Glass, Rebirth chega às salas de cinema. Tem, de resto, estreia hoje mesmo, em Nova Iorque.

Imagens do trailer do filme.

Artigo no New York Times sobre Rebirth.

De regresso a África


Damon Albarn, a voz dos Blur, mas também o timoneiro de projectos como os The Good, The Bad and The Queen e Gorillaz, é um apaixonado pelas músicas de África. Em tempos havia já gravado um álbum no Mali. Agora foi em Kinshasa (capital da República Democrática do Congo) que fez surgir nova ideia, que brevemente ganhará a forma em disco. Com o título Kinshasa OneTwo, e apresentado sob o nome do projecto DRC Music (que a si junta o trabalho de Richard Russell, Dan the Automator, Actress, Kwes, T-E-E-D (Totally Enormous Extinct Dinosurs), Jneiro Jarel, Marc Antoine, Alwest, Remi Kabaka e Rodaidh McDonald), o disco será editado digitalmente a 3 de Outubro pela Warp Records. A ediçãoo física chegará em Novembro.
 


Hallo (featuring Tout Puissant Mukalo and Nelly Liyemge) pelo projecto DRC Music

Em pré-escuta, um dos temas do álbum.


Imagens de um trailer que apresenta este projecto.

Na baixa de Manhattan


É um dos edifícios maios imponentes da baixa de Mahattan, na verdade morando perto do local onde antes encontrávamos as Twin Towers. O nº1 da Liberty Plaza é uma torre de 54 andares e foi inaugurado em 1973. Vemo-lo se descermos a Broadway, a caminho do Battery Park, na esquina com a Liberty Street, a mesma que nos leva ao Ground Zero (hoje em reconstrução).

terça-feira, agosto 30, 2011

TV: Apple desiste de aluguer de episódios


A notícia passou mais ou menos despercebida: nos EUA, a Apple desistiu de alugar episódios de série de televisão através do iTunes (Variety). Em todo o caso, a sua especificidade justifica um breve momento de reflexão.
Haverá um valor muito concreto que ajuda a explicar o relativo insucesso de tal forma de venda: de facto, o preço por episódio (99c) acabava por se equivaler ao custo do mesmo episódio quando integrado na compra de determinada(s) temporada(s). Mas haverá também um factor psicológico a ter em conta. A saber: mesmo por preços convidativos, o download nem sempre substitui o acesso à globalidade de um produto e, mais do que isso, à sua posse efectiva. São sinais soltos, ao mesmo tempo sintomáticos e enigmáticos, cujos significados o futuro próximo ajudará a esclarecer.

Futebol & dinheiro

MARK ROTHKO
Sem título, 1953
Um dos fenómenos mais desconcertantes do futebol, e em torno do futebol, é a banalização social do seu dinheiro. Vivemos mesmo num país em que muitas vozes se levantam, ciclicamente, contra o dinheiro que se gasta, por exemplo, para fazer filmes... E ninguém diz nada sobre o dinheiro que circula pelo futebol.
Agora, por exemplo (e é apenas um exemplo entre muitos possíveis): ficamos a saber que o Sporting (e é apenas um clube entre outros possíveis) gastou 8,85 milhões de euros naquela que é a "contratação mais cara" da sua história. E a pergunta não é de onde vem o dinheiro ou quanto ele vai render (provavelmente haverá até, nesta história, sucedâneos economicamente interessantes). A pergunta é outra: porque é que os valores financeiros das práticas artísticas mobilizam a indignação moral dos puristas deste país e face ao futebol... todos se calam?
A questão, repare-se, não envolve nenhum idealismo pueril (do género: o futebol é "caro" e a arte é "barata"). Nada disso. A questão decorre do entorpecimento crítico do tecido social e do pensamento mediático. Ou seja: o dinheiro da arte é sempre dramático e polémico, mas o dinheiro do futebol é sempre festivo e neutro... Porquê?

Ceausesu: as imagens e os seus contextos


Uma imagem é sempre uma imagem + um contexto. O filme A Autobiografia de Nicolae Ceausescu aí está para o recordar — este texto foi publicado no Diário de Notícias (28 Agosto), com o título 'Revendo a ditadura de Ceausescu'.

A cultura televisiva dominante ensina-nos todos os dias a menosprezar as imagens. Literalmente. Estamos, afinal, a falar de uma cultura que promove como emblema a estética grosseira dos “apanhados”, não apenas em registo cómico (?), mas também no dia a dia informativo. Assiste-se mesmo a uma profunda degradação de valores: um repórter que “apanhe” um político a sair de uma porta qualquer e lhe faça uma pergunta provocatória (a que só é possível responder com uma muito humana hesitação...) é mesmo visto como padrão do “heroísmo” jornalístico.
Esta miséria filosófica tem uma expressão prática muito concreta: cada imagem é tida como elemento “transparente” de uma cadeia de significações que a própria televisão controla e impõe. Ignora-se, assim, que uma imagem não é um elemento cândido de uma qualquer universalidade comunicacional. Que é como quem diz: a sua existência, percepção e sentido é inseparável do contexto onde está (ou foi) inserida.
Estreou esta semana entre nós um extraordinário filme romeno, A Autobiografia de Nicolae Ceausescu, de Andrei Ujica, cujo trabalho pode funcionar como uma salutar pedagogia contra esse tipo de imposturas televisivas (vale a pena ler a entrevista de Eurico de Barros ao realizador, publicada no DN de quinta-feira). O projecto é muito simples: retraçar a trajectória politica de Ceausescu, desmontando a pose e iconografia do seu poder ditatorial. Mas ao contrário do que é habitual em televisão (e, em boa verdade, em áreas significativas da produção documental), o filme não aplica nenhum dispositivo “exterior” para lidar com imagens de arquivo. Mais ainda: é todo construído com essas imagens (oficiais e de propaganda).
A proeza cinematográfica (e muito politica, hélas!) de A Autobiografia de Nicolae Ceausescu decorre de um gesto essencial: a deslocação de contexto das imagens. A metódica acumulação dos materiais de arquivo vai fazendo com que as imagens denunciem aquilo que, por princípio, tentavam ocultar: o esvaziamento dos discursos oficiais, a falsidade teatral das cerimónias públicas, a crescente rarefacção de espectadores nessas cerimónias, etc., etc. Nada disto é automático ou imanente. Nada disto resulta da vocação “informativa” das imagens. Tudo isto depende de uma laboriosa e subtil montagem e, no limite, da sábia criação de uma nova estrutura dramática.
Andrei Ujica celebra, assim, a verdade mais radical do mundo audiovisual (não por acaso também a mais recalcada pela maioria das regras televisivas). A saber: nenhuma imagem é objectiva. Tudo o que se faz com uma imagem remete para olhares, visões, leituras, interpretações, coisas pensadas e coisas por pensar. Que vemos, então, numa imagem? O mundo “reproduzido”? Vemos antes o mundo prolongado através de uma nova configuração dos seus elementos visuais. E isso remete para a responsabilidade de alguém. Sempre.

Uma canção para o Verão (4.19)


Mais uma canção para ir escutando enquanto os dias de férias ainda marcam a agenda deste Verão. Do trio Mixel Pixel, recordamos o teledisco que em 2008 acompanhou o lançamento do single Fake Girlfriend.

E o filme mais aguardado da rentrée é...


Perguntámos qual o filme pelo qual mais anseiam nesta recta final de 2011... E os leitores do Sound + Vision escolheram a adaptação das aventuras de Tintin, por Steven Spielberg, como o filme mais aguardado da rentrée. Mas muito perto, a apenas um voto de distância, ficou o novo filme de Woody Allen. Aqui fica então a votação final.

1º As Aventuras de Tintin: O Segredo do Licorne, de Steven Spielberg – 18%
2º Meia Noite em Paris, de Woody Allen – 18% (*)
3º La Piel que Habito, de Pedro Almodóvar – 13%
4º Restless, de Gus van Sant – 9%
5º Carnage, de Roman Polanski – 6%
6º Sangue do meu Sangue, de João Canijo – 5%
7º Contagion, de Steven Soderbergh; Drive, de Nicolas Winding Refn e Submarino, de Richard Ayoade – 4%
8º The Artist, de Michel Hazanavicius – 4% (*)
9º Habemus Papam, de Nanni Moretti – 3%
10º The Ides of March, de George Clooney – 2%
11º Cisne, de Teresa Villaverde – 2% (*)
12º Uivo, de Jeffrey Friedman e Rob Epstein – 1%
13º Poliss, de Maïwenn Le Basco – 0%

(*) Apesar do arredondamento à unidade sugerir um valor idêntico com o da posição acima na tabela, o filme teve menos voto(s) expressos.

O mundo de Chris Crocker


Com uma webcam “saiu” da sua casa, algures no Tennessee quando, em 2007, o vídeo “Leave Britney Alone” atingiu perto de dois milhões de views em apenas dois dias via YouTube... Quase quatro anos depois, Chris Crocker é o que podemos designar como uma “Internet celebrity”. Tem já uma série de discos editados (inclusivamente um álbum, lançado já este ano) e os seus vídeos mais populares estão devidamente assinalados na página que lhe é dedicada na Wikipedia. Agora entra em cena Me At The Zoo, um documentário que foca, através deste caso, uma nova forma de celebridade que a Internet promove. O filme está ainda em produção, decorrendo via Kisckstarter um processo de recolha de fundos que permita a sua conclusão.

Imagens do trailer do documentário aqui.

Entretanto podem acompanhar a evolução do projecto através da sua página no Facebook.

Memórias de um velho cais


Parecem pequenas esculturas sobre as águas. E, de resto, um olhar atento pode nelas encontrar uma arrumação interessante de formas... Na verdade estas não são senão velhas estacas de um cais hoje desactivado nas margens do Hudson, com a paisagem de New Jersey pela frente. As imagens foram captadas junto do cruzamento da rua 14 com a 11ª Avenida, junto ao Cais 56.

segunda-feira, agosto 29, 2011

Tyler The Creator: revelação do ano na MTV


Com Yonkers, Tyler The Creator foi eleito Revelação do Ano (Best New Artist) nos Prémios MTV. Dirigido pelo próprio, com o pseudónimo Wolf Haley, o respectivo teledisco é uma pequena proeza de amarga introspecção, aliás prolongando a lógica da respectiva letra.


>>> Wikipedia: lista dos Prémios MTV 2011.

Uma canção para o Verão (4.18)


Continuando em busca de canções para escutar neste Verão, visitamos hoje um dos instantes do álbum de 2010 dos noruegueses Casiokids. Aqui fica o teledisco que então acompanhou Finn Bikkjen!, o segundo single extraído do álbum.

Uma história (contada em vinil)


Não é ainda “a” notícia mais esperada por muitos dos que tomam os Neutral Milk Hotel como uma referencia maior na história dos acontecimentos indie dos anos 90. Ou seja, ainda não é desta que sabemos se a banda gravará alguma vez um terceiro álbum ou se, a solo, Jeff Mangum o venha a fazer novamente... Mas para já o líder histórico do grupo acaba de criar um site novo para os Neutral Milk Hotel e anuncia a edição de uma caixa antológica em vinil que inclui a integral das gravações do grupo, juntando aos seus dois álbums (On Avery Island, de 1996 e In the Aeroplane Over The Sea, de 1998), os dois dez polegadas 10" (Everything Is, EP com faixas extra e Ferris Wheel on Fire, outro EP com oito temas acústicos inéditos), dois singles (Little Birds e You've Passed/Where You'll Find Me Now), um terceiro sete polegadas, mas este em picture-disc (Holland 1945/Engine) e ainda dois posters. A edição chega às lojas americanas a 22 de Novembro com um preço anunciado de 88 dólares. O site permite para já o donwload dos temas inéditos mediante o pagamento que cada um entender dar.

Podem consultar o site dos Neutral Milk Hotel aqui.

Rum e notícias, agora no grande ecrã


Chega este ano aos ecrãs uma adaptação ao cinema de Diários a Rum, romance de Hunter S. Thompson que nos devolve a cenários em Porto Rico, nos anos 50, numa história vivida entre jornalistas num pequeno jornal local e regada a muitos copos de rum. Realizado por Bruce Robinson, o filme conta no elenco com Johnny Deep, Amber Heard e Aaron Eckhart.



Imagens do trailer do filme.

Podem ler sobre o livro de Hunter S. Thompson aqui.

A linha verde


Era uma antiga linha férrea levantada acima do chão. Com história que remontava a 1934, ano em que abriu o serviço ao público na zona mais a Leste de Manhattan, o seu serviço manatendo-se até 1980. Desde então era uma estrutura abandonada, cruzando o panorama de uma sucessão de ruas... Até que em 1999 houve a ideia de a remodelar e devolver ao cidadão, as obras iniciando-se em meados da segunda década do novo milénio. Um primeiro segmento abriu em 2009. E este ano um segundo juntou-se-lhe. A High Line, como agora é conhecida, é uma espécie de jardim suspenso. Uma passadeira larga e longa, que parte da rua 30 e desce Manhattan, junto da 10ª avenida, até Gansevoort Street, abaixo da rua 12. Cadeiras de repouso e até um pequeno teatro moram hoje entra as comodidades de um dos destinos preferidos de muitos nova-iorquinos em dia de lazer.

A IMAGEM: Steven Meisel, 2011

STEVEN MEISEL
Prada (campanha)
2011

domingo, agosto 28, 2011

Monica, David e os outros

Mais um belo documentário da HBO: passou na RTP2 e reflecte um tocante humanismo — este texto foi publicado no Diário de Notícias (26 Agosto).

Distinguido no Festival de Tribeca de 2010 como melhor documentário, Monica & David, de Alexandra Codina, é um exemplo modelar de seriedade televisiva (passou domingo, dia 21, na RTP2). Nele se segue a trajectória de um homem e uma mulher afectados pelo síndroma de Down, filmando as atribulações íntimas, familiares e sociais de uma complexa vida em comum (a decisão de Monica e David se casarem afecta, de forma decisiva, todo o seu quotidiano).
Em boa verdade, o filme segue padrões convencionais: por um lado, registando diversas situações do dia a dia dos protagonistas; por outro lado, pontuando essas situações com pequenas entrevistas com os próprios, alguns familiares e outras pessoas que fazem parte da sua existência. Mas até mesmo num registo corrente é possível fazer a diferença. Porquê? Porque se recusam aqui os dois vícios mais banais deste tipo de produtos: não há nenhuma atitude paternalista em relação a Monica e David, como não há qualquer tentativa de “dramatizar” de forma gratuita aquilo que nos é mostrado.
A diferença não é pequena. De facto, com o triunfo da reality TV (e seus derivados “jornalísticos”), a televisão tende para uma grosseira instrumentalização do factor humano. Na prática, somos todos monstruosos e caricatos (como nos “apanhados”), salvando-se apenas os eleitos pela ideologia mediática dominante (os “famosos” e a infinita inanidade das suas poses e declarações). Monica e David estão vivos. E nós também, quando os olhamos com olhos de ver.

>>> Festival de Tribeca: entrevista com Alexandra Codina.

As primeiras imagens de "Tintin" (4/5)

Steven Spielberg durante a rodagem
As primeiras imagens de As Aventuras de Tintin: O Segredo do Licorne foram apresentadas à imprensa internacional num encontro num hotel de Paris — estes textos foram publicados no Diário de Notícias (20 de Agosto).

[ 1 ] [ 2 ] [ 3 ]

A gestação de As Aventuras de Tintin: O Segredo do Licorne foi longa e complexa. Em boa verdade, Steven Spielberg ambicionava filmar Tintin desde os tempos de Os Salteadores da Arca Perdida (1981). Foi, aliás, um texto crítico (francês) sobre este filme que o pôs na pista do herói criado pelo belga Hergé: o texto comparava sistematicamente a personagem de Indiana Jones a Tintin e Spielberg quis saber... quem era esse Tintin!
Por mais estranho que possa parecer, Spielberg era apenas um dos muitos americanos que nunca ouvira falar de Tintin: os seus álbuns nunca tiveram nos EUA o impacto que conseguiram na Europa e noutros continentes. O certo é que, ao descobrir os quadradinhos de Tintin, Spielberg rapidamente reconheceu uma riqueza visual e uma agilidade narrativa que faziam deles uma espécie de storyboard quase pronta a ser filmada.
O projecto começou por ser pensado em “imagem real”, mas foi sendo adiado em função de outras opções criativas de Spielberg que, em 2002, teve de renovar os direitos de adaptação. Por essa altura, começou a ganhar consistência a hipótese de fazer um filme de animação (à semelhança do que tinha acontecido na Europa, quer em cinema, quer em televisão).
Entretanto, a evolução das técnicas digitais gerou novas formas figurativas. A “performance capture”, em particular, criou uma via híbrida: filmar actores e, depois, tratar as respectivas imagens como se fossem matéria de animação. Spielberg optou por essa possibilidade depois de, em 2006, por sugestão de Peter Jackson, ter feito um teste com o actor Andy Serkis. Foi em Los Angeles, na presença de dois cineastas que já tinham aplicado a nova tecnologia: James Cameron (que estava a filmar Avatar) e Robert Zemeckis (Polar Express, Beowulf). Do diálogo com Jackson, acabou por surgir um projecto global de reconversão de Tintin ao cinema: três filmes baseados em Hergé, sendo o primeiro de Spielberg, o segundo de Jackson e o terceiro, em princípio, co-realizado pelos dois; o tratamento digital das imagens é feito na Weta Digital, estúdio de Peter Jackson sediado na Nova Zelândia.
As Aventuras de Tintin: O Segredo do Licorne inspira-se em três álbuns de Hergé: O Caranguejo das Tenazes de Ouro, O Tesouso de Rackham, o Terrível e, claro, aquele que o título refere (publicados entre 1941 e 1944). A estreia mundial vai ocorrer na Bélgica, a 26 de Outubro, surgindo no dia seguinte em vários países europeus (incluindo Portugal). O lançamento nas salas americanas ocorrerá na época natalícia, a 23 de Dezembro.

Dois retratos, segundo Delius


Ecos da vivência de dois lugares chegam-nos através das obras de Delius 
aqui gravadas pela BBC Symphony Orchestra, dirigida por Sir Andrew Davies. 
A edição cabe à Chandos.

Entre finais do século XIX e inícios do século XX encontramos, em várias latitudes e longitudes, exemplos de retratos de paisagens feitos através da música. Do britânico Ferderick Delius (1862-1934) chegam-nos aqui dois olhares, um evocando uma passagem pelos Estados Unidos, o outro traduzindo sucessivos verões vividos na Noruega.

Appalachia (o título ecoa desde logo um velho nome índio para a América do Norte) recorda os dias em que Delius viveu na Florida e onde descobriu toda uma cultura ligada à população negra e, em concreto, velhos cantos dos dias da escravatura. Foi numa visita a uma fábrica de tabaco, na Virginia, que escutou uma canção que serviu de inspiração para uma obra orquestral, com coro e solista. De uma primeira versão, sem vozes, criada em 1896 partiu depois para uma segunda, à qual chamou Appalachia: Variations on an Old Slave Song, e que teve estreia na Alemanha, em 1904. Pela música correm ecos de uma ideia de música americana que encontrariam depois seguidores entre compositores ao serviço do cinema.

Mais longas são as experiências que desencadearam a escrita de The Song Of The High Hills, outro retrato para coro e orquestra, este contudo motivado pela sucessiva vivência das paisagens, gentes e lugares que o compositor conheceu na Noruega, onde esteve pela primeira vez em 1887, ali regressando inúmeras vezes em anos seguintes. Foi ali que contactou com outros jovens músicos escandinavos e conheceu Edward Grieg, que se tornou grande amigo e mentor seu. The Songs Of The High Hills nasceu da vontade em sugerir as impressões de uma noite de verão entre as montanhas da Noruega, ora retratando os tons imponentes da paisagem ora expressando uma certa melancolia que habita quem vive a solidão das grandes altitudes.

Em tempo de reencontros

Discografia Brian Eno - 31 
'Wrong Way Up' (álbum com John Cale), 1990



A colaboração entre Brian Eno e John Cale recua aos dias em que o primeiro produziu, em 1974, o álbum Fear, do segundo. Em 1990, um ano depois de novo trabalho de produção em conjunto, juntaram-se para uma aventura a dois, daí resultando o primeiro álbum de canções que Eno assinou desde os quatro históricos discos em nome próprio que editara nos anos 70. Wrong Way Up é um disco de partilha de protagonismo em todos os sentidos, da escrita à própria vocalização das canções. As electrónicas são aqui ferramenta central na construção de canções pop que são, no mínimo, perfeitas.

sábado, agosto 27, 2011

Sybil Jason (1927 - 2011)


Foi uma das "crianças-prodígio" do cinema americano da década de 30: Sybil Jason faleceu no dia 23 de Agosto — contava 83 anos.
A sua carreira começa a ter algum destaque na paisagem de Hollywood quando, em 1935, aos oito anos, protagoniza Little Big Shot, sob a direcção de Michael Curtiz (futuro realizador de Casablanca). O produtor Jack Warner viu nela a possibilidade de uma concorrência muito directa com Shirley Temple (nascida em 1928), na altura já um fenómeno de popularidade. Chegaram mesmo a trabalhar juntas em A Princesinha (1939) e O Pássaro Azul (1940), ambos sob a direcção de Walter Lang, mas o certo é que a carreira de Jason seria efémera: esses foram também os derradeiros títulos da sua filmografia. Vêmo-la aqui, cantando You're The Cure For What Ails Me, com Al Jolson, em The Singing Kid (1936), de William Keighley.


>>> Obituário em The Washington Post.

Serviço público de televisão?...

DAVID HOCKNEY
Number One Chair, 1985
Como se vai resolver a questão da privatização da RTP? Este texto integrava uma crónica de televisão publicada no Diário de Notícias (26 Agosto).

A privatização da RTP está na ordem do dia, abrindo a hipótese de novos e dramáticos desequilíbrios na vida (e, sobretudo, na economia) do audiovisual português. Entretanto, circula a pueril ilusão de que será possível encontrar um consenso político para definir “serviço público”. Como todos sabem, esse consenso nunca existirá. Além de que nenhum político terá a coragem (política, justamente) de dizer o mais simples: criando valores, influenciando comportamentos e promovendo padrões de pensamento, a televisão é o mais poderoso aparelho cultural dos nossos dias. O único, aliás.

As primeiras imagens de "Tintin" (3/5)


As primeiras imagens de As Aventuras de Tintin: O Segredo do Licorne foram apresentadas à imprensa internacional num encontro num hotel de Paris — estes textos foram publicados no Diário de Notícias (20 de Agosto).

[ 1 ] [ 2 ]

No mundo das imagens em movimento, a personagem de Tintin nunca teve o impacto dos seus álbuns originais. O certo é que, desde muito cedo, começaram a surgir as tentativas de recriar o universo de Hergé. E foi a televisão belga a lançar a proposta inicial, em 1959, com uma série de filmes de animação. A primeira tentativa cinematográfica surgiria pouco mais tarde, em 1961: As Aventuras de Tintin (título original: Tintin et le Mystère de La Toison d’Or), uma produção franco-belga dirigida por Jean-Jacques Vierne, com o jovem Jean-Pierre Talbot no papel principal; Talbot reapareceria ainda em O Mistério das Laranjas Azuis (1964). Chegaram mesmo a fazer-se longas-metragens de animação, como Tintin e o Lago dos Tubarões (1972), sempre com impacto comercial moderado.
Ainda em desenho animado, a tentativa mais ambiciosa é a série As Aventuras de Tintin (1991-92), uma coprodução franco-canadiana, concretizada com o apoio da Fundação Hergé: está editada no mercado português de DVD, numa caixa com 21 discos.

Pejic por Lacombe


Nascido em Tuzla (Bósnia), a 28 de Agosto de 1991, com nacionalidade australiana, Andrej Pejic transformou-se numa das referências mais emblemáticas da androginia no mundo da moda. Agora, podemos descobri-lo numa das quatro capas assinadas por Brigitte Lacombe para a edição de Setembro do New York Magazine.
Ironicamente, ou não, Pejic é o eleito do NYM como "modelo masculino do ano". Ou como o ser andrógino, mais do que baralhar os dados da identidade sexual, parece remeter-nos para uma paisagem primitiva, de estranha serenidade, por assim dizer anterior ao sexo. Para contemplar no silêncio que a própria imagem celebra.

* * * * *

Para revisitarmos musicalmente um pouco de tudo isso, sugere-se a revisão do magnífico teledisco dos Garbage, dirigido por Don Cameron, em 2001. Título: Androgyny.

sexta-feira, agosto 26, 2011

Prémio PEN/Pinter distingue David Hare


Dramaturgo, argumentista e realizador, David Hare foi distinguido o Prémio PEN/Pinter. Autor de peças como Plenty (1978), The Absence of War (1993) e The Blue Room (1998), possui uma obra multifacetada que, em cinema, já lhe valeu duas nomeações para o Oscar de melhor argumento adaptado, com As Horas (2003) e O Leitor (2008), ambos dirigidos por Stephen Daldry; recorde-se que Plenty foi dirigido em cinema, em 1985, por Fred Schepisi, com Meryl Streep no papel principal. Como realizador, estreou-se em televisão, com o seu argumento Licking Hitler (1978), tendo assinado depois várias produções cinematográficas, incluindo Wetherby (1985) e Strapless (1989); o seu filme mais recente, Page Eight (2011), tem como cenário o serviço secreto britânico (MI5).
O prémio PEN/Pinter homenageia a memória de Harold Pinter, sendo atribuído pela English PEN, entidade para a promoção da literatura e defesa da liberdade de expressão (pertencente à Internacional PEN). Comentando a atribuição do prémio, Lady Antonia Frasier, viúva de Pinter, declarou: "Durante a sua longa e distinta carreira, David Hare nunca deixou de abordar, temerariamente, o tema da política no seu sentido mais lato; a sua coragem, combinada com a riqueza do seu talento criativo, faz dele um digno vencedor do Prémio PEN/Pinter."

Uma canção para o Verão (4.17)


Hoje recuamos pouco mais de um ano no tempo para recordar o single que anunciou aquele que é ainda o mais recente álbum de Tiga. Aqui fica o teledisco que então acompanhou Shoes.

Uma homenagem aos Marretas


Os Marretas voltam a estar na ordem do dia, desta vez através de uma compilação de tributo que reúne uma série de versões assinadas por nomes do actual panorama indie (e arredores). Entre outros colaboram neste Green Album nomes como os de Andrew Bird, Sondre Lerche ou os Weezer. Como aperitivo serve-se o teledisco que acompanha o Muppet Show Theme, reinventado pelos Ok Go.



Imagens do teledisco do Muppet Show Theme, pelos Ok Go. Note-se, em alguns momentos, citações concretas a alguns outros telediscos desta banda.

Uma história contada em imagens


Há muitas formas de contar uma história. Até mesmo no espaço do cinema documental. E através de A Autobiografia de Nicolae Ceausescu encontramos um modo de relatar uma realidade histórica sem o recurso a entrevistas, nem mesmo palavras adicionais, apenas com o “texto” que podemos encontrar no contexto. Andrei Ujica, nome já com algum trabalho feito na área do cinema documental (é ainda professor de cinema na Alemanha e director do ZKM Film Institut) lançou-se a um trabalho daqueles que pedem mais braços que os que o corpo tem. Pegou numa mão cheia de velhas bobinas de imagens de arquivo dos tempos do regime de Nicolae Ceausecu, nelas encontrando as peças através das quais agora nos conta a história do ditador romeno.
A Autobiografia de Nicolae Ceausescu não é senão uma soma ordenada dessas imagens. Muitas delas criadas com intenções de propaganda, outras traduzindo ecos de acontecimentos oficiais, havendo ainda olhares sobre espaços da vida mais privada do ditador. Da sua ascensão ao poder à queda (que o mundo acompanhou pela televisão) no dia de Natal de 1989.


Imagens do trailer do filme

Um hotel numa esquina


Um dos mais célebres hotéis nova iorquinos mora na esquina da rua 59 com a 5ª avenida (que é o mesmo que dizer frente a um dos cantos do Central Park). Inaugurado em 1907, o Plaza Hotel tem na sua história nomes como, por exemplo, os Beatles, que ali ficaram quando pela primeira vez visitaram Nova Iorque, em 1964.

quinta-feira, agosto 25, 2011

Uma canção para o Verão (4.16)


Hoje recordamos os tempos da carreira a solo de Shara Nelson, a voz que muitos descobriram ao som de Unfinished Sympathy, uma das canções do álbum de estreia dos Massive Attack. Foi com Down That Road que a cantora apresentou o seu álbum What Silence Knows, em 1993. Aqui fica o teledisco.

Podem ver o vídeo aqui.

Harrison, segundo Scorsese


Mais um documentário musical a caminho, este com assinatura de Martin Scorsese. Com o título Living In The Material World, este filme sobre George Harrisson terá lançamento em DVD e Blu Ray em Outubro. Aqui fica o trailer:

Mahler para o século XXI


É um concurso que a Berliner Philharmoniker lança. Partindo do primeiro andamento da Sinfonia Nº 1 de Mahler, criar uma remistura. É apenas dada a gravação-base (disponível no site da orquestra) e a duração-limite das propostas. Até 30 de Setembro a orquestra recebe candidaturas e em Outubro são divulgados os resultados. Entre os prémios conta-se uma assinatura anual do Digital Concert Hall (o programa de concertos em directo, via Internet, da Berliner Philharmoniker) e a apresentação do tema vencedor no site da orquestra.

Podem acompanhar o concurso aqui.

Arte no coração da cidade


São ao todo mais de dois milhões de peças, divididas entre 19 departamentos, ocupando o espaço daquele que é o maior museu de Nova Iorque. Na 5ª Avenida, ocupando o espaço correspondente aos quarteirões entre as ruas 80 e 84, o Metropolitan Museum of Art oferece ao visitante uma das melhores colecções de arte do mundo, as várias etapas da história e as mais diversas geografias do mundo estando ali representadas.



Um primeiro olhar pelo departamento de egiptologia mostra, em primeiro lugar, a imponência de um velho templo que data já do tempo da ocupação romana. Construído no ano 15 a.C., o Templo de Dendur é um dos ex libris das colecções do Metropolitan Museum.



De passagem por outras salas dedicadas a memórias da própria história americana. Em primeiro lugar visitando uma sala projectada por Frank Loyd Wright. Em segundo vendo uma panorâmica que recria, num olhar de 360 graus, os espaços em volta do Palácio de Versalhes.



Num espaço do piso térreo, nas traseiras do museu, mais olhares sobre a memória americana, através de uma série de pinturas de paisagistas do século XIX. Em sequência, The Heart Of The Andes (1859), de Fredeick Edwin Church; The Rocky Mountains (1863), de Albert Bierstadt e Banks of The Longing (1894-97), de William Lamb Picknell.



Nesta sequência, alguns espaços entre as salas que apresentam obras do século XX. Nomes como Hopper ou Liechenstein estão entre os artistas representados. Wahrol ou Pollock também presentes.



Uma das alas recentemente remodeladas no museu é a que dedica o seu espaço à arte greco-romana. Aqui ficam três imagens deste departamento.