sexta-feira, julho 29, 2011

Tudo começa numa boa história...


O nome de J J Abrams começa, aos poucos, a ser um sinónimo de uma ideia de cinema capaz de assegurar bela bilheteira e, ao mesmo tempo, não deixar o espectador que comprou bilhete com a sensação de que pouco mais ganhou que as pipocas que comeu às escuras e o refrigerante que as acompanhou. Dele nasceu a ideia que gerou Lost, um dos mais interessantes fenómenos da recente ficção televisiva. E a reactivação de Star Trek no grande ecrã, a sua prequela representando mesmo, a par com o filme original (de 1979) de Robert Wise, o que de melhor a saga criada em finais dos sessentas por Gene Roddenberry alguma vez nos mostrou no grande ecrã.

De JJ Abrams voltamos a falar agora que às salas de cinema portuguesas chega Super 8. Um blockbuster com todos os ingredientes que a palavra possa sugerir. Mas, e acima de tudo, um filme que reactiva uma ideia de entretenimento com pés e cabeça, no centro de gravidade de tudo isto morando, por um lado, uma admiração antiga pelo cinema de Steven Spielberg (que aqui é produtor) e, por outro, e claramente elemento chave neste filme, uma boa história para contar.


A história sugere-se em poucas palavras (e não se conta mais, que assim não se estraga o efeito surpresa). Algures em finais dos anos 70, numa pequena cidade no Ohio um grupo de miúdos têm o cinema como passatempo. Fazem filmes em fita Super 8. Com argumento escrito, director de fotografia, realizador, actores e tudo... Tudo entre eles, claro. Uma noite decidem rodar uma cena junto a um apeadeiro. Aproxima-se um comboio... Dá-se um tremendo acidente. Mas a câmara Super 8 continua a rodar, captando não apenas o aparatoso momento como algo bizarro que se sucede. Não menos estranho é o que se segue. Da cidade desaparecem cães, pessoas e objectos de metal... Uma unidade especial intervém e tenta evacuar o lugar. Mas entre os pequenos cineastas há mais informação... Algo não bate certo. E vão tentar saber o que será...



Super 8 recupera assim uma ideia de cinema de aventuras que fez escola nos oitentas, firme contudo na vontade de construir uma narrativa que não se fecha no que poderia ser uma colecção de citações. O que não nos impede de, todavia, poder apontar três “clássicos” que, entre finais dos anos 70 e inícios dos oitentas, ajudaram a definir este mesmo espaço. E cujas memórias poderão ter passado entre as referencias que ajudaram a criar Super 8.



De 1977, Encontros Imediatos de Terceiro Grau é um filme de absoluta referência na obra de Steven Spielberg. Sem deixar de lado uma ideia de retrato de uma família desmembrada (a ausência do pai sendo mesmo uma das marcas das narrativas que nos mostrou nessa etapa da sua carreira), o filme aposta numa visão positiva do contacto entre humanos e extra-terrestres. Contrariando a tendência ensopada a medo e terror de tantos outros “encontros” que a ficção científica criou desde A Guerra dos Mundos de H.G. Wells, aqui é pela cor e pela música que seres de dois mundos se encontram. O filme, que conta com uma presença de grande protagonismo de François Truffaut no elenco, junta uma história brilhantemente contada a um trabalho de imagem notável, sob belíssima banda sonora de John Williams.



De 1982, E.T. – O Extraterrestre é outro dos filmes-chave nessa etapa da filmografia de Steven Spielberg. Novamente estamos perante um encontro imediato, os “aliens” que nos visitam deixando entre nós, esquecido, um dos seus. Cabendo ao pequeno Eliott (em mais um exemplo de família com pai ausente) a “missão” de o tentar salvar das equipas que o tentam levar para um laboratório... O tom é de diálogo, descoberta e companheirismo. O extra-terrestre está perdido, com vontade de regressar a casa, procurando, com os meios (e tecnologia) disponíveis, o possível para garantir o reencontro com os seus... É mais um caso de narrativa apurada, com principio, meio e fim (e por essa ordem), com outro dos mais notáveis momentos de colaboração entre Steven Spielberg e John Williams.



Mais esquecido que os dois filmes antes citados (está, na verdade, longe de ter deixado uma marca na história do cinema), Os Goonies são um bom exemplo do modelo de filme de aventuras da época. Estrado em 1985, foi realizado por Richard Dooner e teve Steven Spielberg como um dos produtores executivos. O filme conta a história de um grupo de miúdos que se vê lançado numa aventura com gente má, navios de piratas e tesouros. Divertiu uma mão cheia de plateias na altura mas está longe de ser um “caso” sério do cinema dos oitentas.