segunda-feira, junho 06, 2011

José Sócrates + televisão + jornalismo

PABLO PICASSO
Mulher que chora, 1937
1. Na noite eleitoral de 5 de Junho, no seu discurso de assunção da derrota, José Sócrates foi confrontado com algumas perguntas que reflectem o pior que a televisão instalou no nosso país. A saber: o apelo constante ao conflito, a insinuação e, não poucas vezes, o insulto directo e sem pudor (houve mesmo uma "pergunta" sobre os processos judiciais que estarão para vir...).

2. Não tenhamos ilusões: semelhante estilo (ou a falta dele) transformou-se numa força dominante no interior das televisões. Outro exemplo da mesma noite: a "iniciação" da mulher de Pedro Passos Coelho em tais atropelos, com uma avalancha de repórteres a empurrá-la, literalmente, alguns deles ousando mesmo colocar-lhe perguntas sobre o que ia mudar na vida do marido... E se a senhora não tivesse conseguido dominar a ansiedade e gritasse qualquer coisa como "Não empurrem!", não tenhamos dúvida que haveria algum repórter, de olhar angelical, a garantir para as câmaras que a mulher do novo primeiro-ministro "não quis responder à comunicação social"...

3. Infelizmente, já nada disto surpreende. Surpreende, isso sim, a demissão da maioria da classe política que quase não reage a esta mercantilização mediática da política. Surpreende, acima de tudo, a indiferença de muito boa gente no interior da classe jornalística, não compreendendo (ou não querendo compreender) que este estado de coisas vai hipotecando a credibilidade do próprio jornalismo. Todo o jornalismo.