quinta-feira, junho 30, 2011

"Transformers 3": para matar o cinema


São várias as razões que podem contribuir para que o cinema morra de uma morte mais ou menos prolongada e angustiada. Lembremos três:
1 - uma (des)educação de base, isto é, eminentemente social e política, que menospreza o cinema e se entrega à formatação televisiva.
2 - uma cultura televisiva que celebra a vacuidade de telenovelas e afins, secundarizando tudo o que tenha a ver com a especificidade cinematográfica.
3 - um tipo de jornalismo, em que se incluem algumas formas grosseiras de crítica, que reduz o cinema a um fenómeno anedótico e pitoresco, apenas caracterizado pela acumulação arbitrária de efeitos especiais.

* * * * *

Claro que, para além de tais factores, outros há que se empenham no mesmo assassinato cultural? Que factores? Pois bem, alguns filmes!!! Transformers 3 é um desses filmes: uma avalanche de ruído (visual e propriamente sonoro) que menospreza qualquer gosto narrativo e que, ao longo de 150 minutos, mais não faz do que repetir a lógica pueril de gratificação instantânea do seu próprio trailer.
Como é que um espectador formado (?) apenas a ver filmes como este se pode alguma vez interessar por um épico de Griffith, um drama de Bergman ou uma comédia de Jerry Lewis? A resposta é simples: não pode. Porquê? Porque não sabe e, sobretudo, porque foi educado para não querer saber.

Para fazer a festa


Os Belle and Sebastian viram um dos temas do seu mais recente álbum de originais ser remisturado por Richard X... E eis que I Didn't See It Coming surge devidamente acompanhado por um teledisco com animação de Bruce Cameron, Matt Saunders e Lesley Barnes. A realização é também de Leslie Barnes.

Novas edições:
You Can't Win Charlie Brown, Chromatic


You Can’t Win Charlie Brown
“Chromatic”
Pataca Discos
4 / 5

O panorama da música portuguesa, departamento pop/rock e periferias, conhece de vez em quando, frequentemente entre vagas de silêncios, episódios que transpiram sorrisos que contrastam um uma certa falta de auto-estima que muitas vezes cruza um falar muito local sobre o que por aqui se faz... E é ao som dos You Can’t Win Charlie Brown que se assinala, neste momento, um caso que começa a conquistar a dimensão de raro entusiasmo. Já por aí andam há algum tempo (longe ainda de coisa veterana, é certa). Estrearam-se com um EP que cativou algumas atenções. Ampliaram a formação, expandiram o quadro de identidades. E chegam agora a Chromatic com uma mão cheia de canções que faz deste um dos melhores álbuns de estreia que o panorama local viu nascer nos últimos anos. Aqui há diálogos entre o dedilhar das cordas das guitarras e as electrónicas, entre ecos de heranças folk e vicvências urbanas, entre a placidez de uma voz que canta histórias e climas mais coloridos que noutros instantes sugerem a festa. No pequeno texto com que se apresentam no Facebook fala-se de referências como Sufjan Stevens, Nick Drake, Bon Iver ou Grizzly Bear. Podem juntar o nome dos Animal Collective (embora pareçam buscar um lugar que não o da lógica circular em clima tribal dessa que foi a mais influente das bandas da primeira década deste século). Chromatic é um disco que mostra uma banda confiante e entusiasmada. É um pequena paleta feita de cores e belas canções. Como lembramos das histórias da personagem criada por Schulz que dá nome à banda, aqui se cruzam melancolias e sorrisos. Aparentes opostos que a revista francesa Les Inrockputibles apontou ao elogiar o disco, juntando mais um instante ao momento de polegar lecvantado que, merecidamente, o grupo vive neste instante.

Um parque com história


É o pulmão do Greenwich Village. Não que seja o único espaço verde no mais aprazível dos bairros de Manhattan. O Washington Square Park não só é um belo jardim como respira histórias e vivências feitas de música, palavras e ideais. Nos anos 60 foi palco para inúmeras apresentações de músicos folk. E ainda recentemente, durante a campanha das últimas presidenciais, espaço para um comício de Barack Obama.

Washington Square Park mora onde começa a 5ª Avenida e tem por base a rua 4. Em seu redor muitos dos edifícios pertencem hoje à NYU, a New York University.


Um aspecto geral do Washington Square Park em dia de acolher um evento. É frequente vermos muitos dos pequenos jardins de Nova Iorque a receber festas, concertos, encontros, sobretudo aos fins de semana.


Três olhares aqui em volta do Washington Square Park. O primeiro passando pelo arco que é talvez o seu mais característico ex libris. A imagem do meio corresponde a um dos edifícios da NYU.


O arco que domina a zona central do Washington Square Park abre passagem para o largo com o mesmo nome e define, à sua frente, a entrada na 5ª avenida. Criado à imagem do Arco do Triunfo de Paris, é a versão definitiva, datada de 1892, de um outro arco, em gesso, que ali fora levantado em 1889, a assinalar o centenário da tomada de posse de George Washington como primeiro presidente norte-americano.

Pelas ruas de Nova Iorque (6)

Manhattan
de Woody Allen (1979)


Um dos mais belos dos filmes de Woody Allen, Manhattan é um entre os muitos títulos da sua filmografia em que a cidade de Nova Iorque acolhe as suas histórias e personagens. A trama vivencial cruza-se aqui com uma série de olhares sobre a cidade, que vão da sequência que abre o filme à mítica cena ridada junto à Queensbroo Bridge. O famoso banco que a imagem registou já ali não está, o lugar agora acolhendo um espaço de estacionamento no início da rua 59. Mas uma rua abaixo (na 58, portanto), há um pequeno espaço de repouso entre casas, com um banco que quase faz a vez deste que Woody Allen imortalizou.

Lisboa entre as melhores cidades


Lisboa voltou a subir no ranking das cidades “mais habitáveis” do mundo que a revista Monocle apresenta todos os anos por esta altura. Depois de surgir classificada em 24º lugar em 2009 e de ter descido para 25º no ano passado, na edição deste ano Lisboa sobe para o 23º lugar. Este top, que avalia anualmente a qualidade de vida das cidades do mundo inteiro refere que os habitantes de Lisboa, em tempo de recessão “podem ser desculpados por nem sempre terem a disposição mais solarenge”. Fala-se de um panorama difícil para o comércio, mas com contraponto no bom clima. Refere-se uma subida de propostas ao ar livre, nomeadamente o reaparecimento dos quiosques e o mapa de novas esplanadas. O texto que apresenta o 23º lugar lisboeta aponta ainda o projecto de instalação de postos de carregamento para veículos eléctricos como outra das razões para a subida da cidade no ranking.

Helsínquia, a capital finlandesa, é este ano a melhor cidade do mundo, destronando assim Munique que, por sua vez, tinha há um ano tirado a posição mais alta da tabela a Zurique. O top ten inclui, depois de Helsínquia, Zurique (Suíça), Copenhaga (Dinamarca), Munique (Alemanha), Melbourne (Austrália), Viena (Áustria), Sydney (Austrália), Berlim (Alemanha), Tóquio (Japão) e Madrid (Espanha). A mais bem classificada das cidades americanas é Portland, no 18º lugar. Da Península Ibérica, além de Lisboa e Madrid está ainda classificada a cidade de Barcelona, em 14º lugar. Abaixo dos dez primeiros estão ainda referidas duas capitais europeias: Estocolmo (11º), Paris (12º).

Harry Potter, adulto


O filme final da saga de Harry Potter — Harry Potter e os Talismãs da Morte - Parte II (estreia: 14 de Julho) — tem uma magnífica frase promocional: "Tudo acaba". Não apenas porque nela se assume um redentor alívio, mas também porque o seu desejo de finitude contraria a lógica repetitiva de muitas sequelas. Em boa verdade, a frase consegue lidar com aquilo (o poder simbólico da morte) que os filmes contornaram sempre de forma mais ou menos pitoresca, saturada de pueris efeitos especiais.
Dito de outro modo: é no momento em que, finalmente, se revela capaz de integrar algo de friamente adulto (a certeza do fim) que Harry Potter nos abandona. What a pity... Como se prova, vivemos num mundo em que é perigoso crescer — o amor da infância desapareceu, dando lugar à infantilização militante.

quarta-feira, junho 29, 2011

Como se fosse um sonho


Depois da melancolia que assombrara o seu segundo álbum, os Noah and The Whale reinventaram-se ao som do álbum editado este ano. Life Is Life é o novo single. Aqui fica o teledisco.

Discos Voadores este sábado no Incógnito


Este sábado os Discos Voadores regressam ao Incógnito. A música começa a escutar-se depois da meia noite... E no comprimento de onda de sempre.

Novas edições:
Keren Ann, 101


Keren Ann
“101”
EMI
4 / 5

Tem ascendência israelita, holandesa e javanesa. Cresceu em Paris (onde deu os primeiros passos na música), mas acabou reclamada por Manhattan... Keren Ann tem discografia editada desde o ano 2000, tanto a solo como através do projecto Lady & Bird. Começou por cantar em francês, mas é em inglês que tem registado a etapa mais recente da sua obra, o novo 101 não fugindo por isso à norma. Tendo como cartão de visita o belíssimo My Name Is Trouble tudo poderia indicar que estaríamos perante um álbum pensado para um relacionamento com as electrónicas... A canção é, de facto, uma elegante trova pop, pincelada a teclas que acolhem a voz sempre tranquila de Keren Ann... Mas basta caminhar para lá da faixa de abertura (lançada antes do álbum como single de apresentação), para reconhecermos que outros são os destinos procurados por aqui. Se a pop marca presença, por exemplo, em Blood on My Hands ou Suger M**a, é contudo de uma eloquência baladeira que vive a o alinhamento de um disco que, acima de tudo, traduz um sentido de elegância. Já houve quem traçasse comparações com o recente (e muito recomendável, acrescente-se, Queen Of Denmark, de John Grant)... Há de facto em comum um gosto pela procura de uma ideia de moldura quase sinfonista, embora nunca sumptuosa, que acolha as canções, e um alinhamento que define percursos feitos de melancolia e tons menores. Canções como Strange Wether (com um piano na melhor escola Lennon), Song From a Tour Bus (que evoca mais de perto as experiências dos Lady & Bird), Run With You (em clima cinematográfica) ou Daddy You’ve Been On My Mind (que abre uma janela a ecos folk para voz e guitarra acústica) asseguram horizontes largos a um disco que confirma em Keren Ann como uma das grandes vozes reveladas pela França dos anos zero. Tudo isto, com cereja sobre o bolo na contagem decrescente que escutamos no tema-título, enumeração de números que passa por 90 isótopos estáveis... 79 episódios de Star Trek... 78 rotações por minuto, 49 noites de meditação... 35 soldados... 15 minutos de fama... 9 anéis de Júpiter... 7 dias da criação... 1 Deus...

Sound + Vision Magazine (2)

Foto: Flávio Gonçalves

Correu da melhor forma possível a segunda edição do Sound + Vision Magazine. Foi ontem ao fim da tarde, na Fnac Chiado. Como tema de abertura a recente actuação em Nova Iorque dos The Gift. Foi exibido o teledisco que acompanha o tema RGB e, presente na plateia, Miguel Ribeiro, elemento da banda, ajudou a completar o retrato. Nova Iorque foi, de resto, cidade visitada em algumas das outras escolhas de uma sessão em que foi ainda mostrado o teledisco de The Drowners dos Suede, chamando a atenção para a reedição dos álbuns da banda. As "escolhas" do mês foram, depois, as seguintes:

Discos
'Murder Ballads', de Nick Cave & The Bad Seeds (JL)
'Lupercalia', de Patrick Wolf (NG)

Livros
'Miral', de Rula Jebreal (JL)
'Sou Todo Ouvidos', de Joseph Mitchell (NG)

DVDs
'Nova Iorque Fora de Horas', de Martin Scorsese (JL)
'Somewhere', de Sofia Coppola (NG)

Brevemente anunciaremos aqui a data da edição de Julho.

Água sobre os telhados


Três olhares sobre a cidade... E basta uma breve passagem dos olhos sobre estas imagens para sabermos que estamos em Nova Iorque, tão característica que é a presença de depósitos de água sobre os edifícios da cidade. É já antiga a ordem que exige a sua presença em todos os edifícios com mais de seis andares, o seu objectivo sendo um assegurar o bom funcionamento da distribuição de água através da canalização dos vários andares, sem que tal exija uma ainda maior pressão na rede. As três imagens mostram depósitos de água na baixa de Manhattan, entre a Houston Street e a Bowery. Entre Greenwich Village e o East Village.

Pelas ruas de Nova Iorque (5)

Sou Todo Ouvidos
de Joseph Mitchell


Deve ser de perder conta o número de livros que tomam a cidade de Nova Iorque por cenário ou mesmo protagonista das suas atenções. A ter de escolher um primeiro para folhear e ler, passamos por Sou Todo Ouvidos, livro de crónicas assinado por Joseph Mitchell. São pequenos textos, que nos levam a caminhar por entre as outras faces da cidade, os bares menos falados, os aldrabões, os palcos secundários, as ruas menos iluminadas onde, acima de tudo, escutou histórias. Jornalista, com parte significativa do seu trabalho publicado na New Yorker, recorda aqui cenários da cidade que descobriu por alturas do ‘crash’ de 1929 e que viveu e descreveu em textos que publicou nos anos seguintes, alguns deles aqui reunidos. A sua é uma escrita rica em figuras, histórias e imagens, mas sob uma contenção que sabe, com pouco, dizer muito. Porque, dizia ele mesmo, ““não pode haver mais praga para um jornal que um jornalista que se põe a tentar escrever literatura”.

Podem ler mais sobre Joseph Mitchell aqui.

Um sapato e a sua dignidade


A imagem de um sapato excede a sua funcionalidade. E não se esgota na beleza que lhe possamos atribuir. Ou seja: a maneira como está fotografado garante (ou não) uma verdade que não é estranha à insubstituível dignidade da forma. Este integra um conjunto divulgado no site Fashionising e pertence a uma colecção do designer Alexander Wang — não é preciso usá-lo para reconhecermos uma promessa de ficção.

terça-feira, junho 28, 2011

Elaine Stewart (1930 - 2011)


Foi um dos símbolos do glamour de Hollywood na década de 50, em especial no melodrama e no género musical: Elaine Stewart faleceu no dia 27 de Junho em sua casa, em Beverly Hills — contava 81 anos.
De seu nome verdadeiro Elsy Steinberg, estreou-se em Marujo, O Conquistador (1952), uma comédia de Jerry Lewis & Dean Martin. O seu primeiro papel de algum relevo foi em The Bad and The Beautiful (1952), de Vincente Minnelli, com Lana Turner e Kirk Douglas, uma das obras-primas clássicas sobre os bastidores do cinema. Entre os títulos mais importantes da sua filmografia incluem-se Take the High Ground!/Como se Fazem Heróis (1953), comédia dramática de Richard Brooks, Brigadoon/A Lenda dos Beijos Perdidos (1954), referência mitológica do musical, de novo sob a direcção de Minnelli, e The Rise and Fall of Legs Diamond (1960), filme de gangsters com assinatura do mestre da "série B" Budd Boetticher. Trabalhou depois em algumas produções em Itália e também em séries de televisão (incluindo Perry Mason), acabando por se retirar em meados dos anos 60.

>>> Obituário em The Hollywood Reporter.

As madrugadas de "The Office"


A versão americana da série The Office está a passar na televisão portuguesa depois das 2 horas da madrugada: às 02h11, na melhor das hipóteses; nalguns dias, às 02h45 (TVI). Surpresa? Nenhuma. A ditadura da telenovela implica uma política brutal de marginalizações, desaparecimentos e ausências. Em todo o caso, sublinhemos a nossa singularidade cultural: somos o país que consegue tratar o mais popular dos géneros como se fosse telescola para universitários (e sonâmbulos). Entretanto, fica sempre bem proclamar que os críticos, esses perigosos intelectuais, não gostam de comédias... Tal como a pretensiosa NBC que, nos EUA, programa a mesma série às nove da noite. 

A IMAGEM: Helmut Newton, 1983

HELMUT NEWTON
X-ray with chain, Paris
1994

"A Árvore da Vida": a galáxia da água



A certa altura, em A Árvore da Vida, impelido pela deambulação de um dos filhos, o filme mergulha, literalmente, na água. Passagem para o lado do sonho?... Seria uma explicação demasiado mecânica para um objecto que está para além (em boa verdade: aquém) de qualquer maniqueísmo do género. Desde logo porque, no interior da água, se "repetem" os elementos do lar: a criança, os móveis, uma porta, até mesmo o urso de peluche... Tudo se passa como se Terrence Malick filmasse o espaço familiar como uma derivação terrestre da imensidão da galáxia, existindo tudo tocado pela mesma imponderabilidade formal e, apetece dizer, aquática: tudo paira numa sensualidade em que tudo toca em tudo. Dir-se-á o mesmo das cenas em que a mãe corre e dança com os filhos: são felizes como peixes.

Ficção científica


John Maus em filme de ficção científica? É o que parece que vemos perante as imagens que acompanham Head For The Country. A realização do teledisco é de Jennifer Juniper Stratford.

Sound + Vision Magazine (2)
hoje às 18.30 na Fnac Chiado


É já hoje, pelas 18.30, no auditório da Fnac Chiado, em Lisboa. João Lopes e Nuno Galopim passam pelos discos, os filmes e os livros do último mês na segunda edição do Sound + Vision Magazine.

Novas edições:
Jay Jay Johansson, Spellbound


Jay Jay Johansson
“Spellbound”
Universal
3 / 5

Já vimos Jay Jay Johansson a caminhar por vários trilhos... Já foi voz de belas canções em clima herdado de espaços de placidez trip hop ao som de Whiskey, quando se revelou em 1996. Ou estrela pop feita de cor e apelo a electrónicas dançáveis, com maquilhagem electroclash, nos dias de Antenna (2003)... Spellbound mostra-o em busca de outros caminhos, a sua voz frágil (e invariavelmente melancólica) seguindo agora entre a presença de um piano, o dedilhar de uma guitarra acústica, pontuais percussões de alma jazzy e ocasionais arranjos convocando outros instrumentos. Não se trata contudo de um disco de jazz, os pontuais climas que visita nesses universos sendo antes transportados para territórios com afinidades com uma ideia de canção magoada, mas herdada de vivências pop, que revela frequentes linhas de afinidade com episódios anteriores na obra do músico sueco. De resto, a balada para voz e piano que escutamos em On The Other Side, a aproximação ao livro de estilo de um Nick Drake em Shadows ou a versão de Suicide Is Painless (original da banda sonora de M.A.S.H.) deixam claro que há horizontes vários a viver ao caminhar por Spellbound. Se a instrumentação é aqui o elo mais diferente face a títulos anteriores, na verdade estamos num terreno que traduz de certa forma uma familiaridade  (e o travo lounge de Blind ajuda em caso de dúvidas)... A forte personalidade da sua voz acaba, no final, por manter firme essas ligações, a alma de Spellbound afirmando-se como tudo menos um episódio de ruptura numa obra que gosta, como de resto já nos mostrara antes, de experimentar novas sensações.

Livros e mais livros...


É certamente a maior livraria de Nova Iorque e uma das maiores do mundo. Chama-se The Strand, usa o slogan “18 miles of books” como cartão de visita, e basta entrar pelo numero 828 da Broadway (no East Village, poucos quarteirões abaixo de Union Square) para reconhecer que estamos a entrar num pequeno mundo à parte feito de livros e mais livros.

São três andares, com arrumação por grandes áreas, convidando o visitante a ali passar algum tempo. Muitos dos títulos são usados ou sobras de colecções e os preços frequentemente bem convidativos.


A história da The Strand, ainda hoje um negocio familiar, cruza-se com a vida de alguns artistas que em tempos passaram pelo East Village, entre os seus antigos funcionários contando-se figuras como Patti Smith ou Tom Verlaine.

Em tempos a The Strand chegou a ter uma segunda livraria, primeiro em Front Street (no South Sea Port), mais tarde ali não muito distante, em Fulton St (loja entretanto fechada em 2008). Hoje mantém contudo uma presença regular num quiosque no canto do Central Park definido pela rua 60 e a 5ª avenida.


A fama mundial que a livraria entretanto atingiu junta hoje à extensa oferta em livros (e é particularmente extensa e bastante completa, até mesmo com espaço para surpresas, a secção de cinema) uma zona de merchandising, com sacos e outros recuerdos da loja...

Podem consultar o site da livraria aqui.

Pelas ruas de Nova Iorque (4)

The Only Living Boy In New York
pelos Everything But The Girl (1993)


Na origem foi uma das canções reveladas pelo alinhamento do álbum Bridge Over Troubled Water, de Simon & Garfunkel (1970), por essa altura surgindo também no lado B do single Cecilia.

Podem ouvir aqui a versão original.


Corria o ano de 1993 quando os Eevrything But The Girl lançaram um EP que mostrava como tema central a canção The Only Living Boy In New York, versão de um clássico de inícios dos anos 70 da dupla Simon & Garfunkel. O single surgiu pouco depois integrado no alinhamento de Home Movies, uma antologia de canções dos Everything But The Girl. E fez-se acompanhar, desde logo, por um belíssimo teledisco realizado por Hal Hartley, visivelmente rodado num edifício na baixa de Manhattan.




segunda-feira, junho 27, 2011

O que são "os mercados"?

JOHN SINGLETON COPLEY
The Tribute Money
, 1782
Vivemos numa cultura da insinuação quotidiana, da suspeita automática, do apocalipse regular: o mais incauto protagonista está, por isso, sistematicamente sujeito à condição de acusado potencial, porventura de réu.
Basta ver o efeito massacrante das televisões: conseguiram pôr o país centrado na demonização do nome "Sócrates" (e não tenhamos ilusões: qualquer outro poderia, ou poderá, servir...) e agora, na ressaca jornalística de tudo isso, não havendo nenhum nome para consumir na fogueira mediática, tudo paira num ecumenismo do espanto e da contemplação. Das feiras inauguradas por ministros aos exames na escola, multiplicam-se os sinais de um futuro redentor...
Um dos dados mais espantosos deste sonambulismo (que, aliás, transita do tempo do governo anterior) é a continuada aplicação da expressão "os mercados" para descrever todos os nossos problemas — "os mercados", ponto final.
Assim, as televisões são capazes de enviar repórteres por montes e vales para os colocar em frente à pedra em que bateu a cabeça de "um-ciclista-que-acabou-por-morrer-afogado-no-riacho-que-passa-por-ali"... mas não parece haver nenhum empenho em colocar duas ou três perguntas (jornalísticas, hélas!). Por exemplo:
1 - qual a configuração geográfica, económica e política dos "mercados"?
2 - os "mercados" existem como entidades enquadradas por regras que decorrem do jogo político ou escapam às suas determinações?
3 - como definir humanamente (isto é, através de figuras humanas) as estruturas e o funcionamento dos "mercados"?
Perguntar isto não seria solução para nada. Implicaria apenas outra coisa que não a agitação alarmista ou especulativa em torno de muitos totems informativos. Implicaria, sobretudo, valorizar o desejo de saber, o menos cotado dos poderes que ainda nos assistem.

>>> Canção Money, dos Pink Floyd, do álbum The Dark Side of the Moon (1973):



Money, get away
Get a good job with more pay and you're okay
Money, it's a gas
Grab that cash with both hands and make a stash
New car, caviar, four star daydream,
Think I'll buy me a football team

(...)

O blusão de Michael Jackson


Mais um objecto usado por uma grande estrela que atinge, em leilão, um preço astronómico — depois de um vestido de Marilyn Monroe, também o blusão de Michael Jackson no teledisco de Thriller foi vendido por um valor espectacular: 1,8 milhões de dólares (quase 1,3 milhões de euros). Como noticia a CNN, não se esperava que a venda pudesse ir além dos 400 mil dólares.
Esta inflação fala-nos, afinal, de quê? Do continuado papel mitológico de alguns eleitos (da música, do cinema, etc.) em quem delegamos uma espécie de nostalgia de grandiosidade e pureza? Sim, por certo. Além do mais, não haveria cultura popular sem alguma dessa nostalgia, sobretudo a que nos faz resistir à banalidade, à indiferença ou à simples mediocridade que, todos os dias, reconhecemos.
Mas há aqui também um sintoma muito do nosso tempo, indissociável dos valores da "fama" que dominam o nosso imaginário. Dir-se-ia que não nos basta o blusão do vampiro (aliás, lobisomem) Michael no fabuloso teledisco dirigido, em 1983, por John Landis. Precisamos de uma explicitação quantificada e quantificável desse valor. A partir de agora, o blusão não deixará de ser o vermelho do sangue, mas trará sempre agarrada uma etiqueta com um preço — o mercado é um estado de alma.

Foi você que disse "Footloose"?...

Está anunciado para o último trimestre de 2011 um novo Footloose: dirigido por Craig Brewer, o filme propõe-se refazer o título homónimo de 1984, realizado por Herbert Ross, protagonizado por Kevin Bacon e Lori Singer.
Poderá ser um extraordinário objecto de cinema?... Acreditemos que sim. Em todo o caso, antes de avaliarmos os resultados, vale a pena perguntar porque é que um grande estúdio americano (Paramount) decide, quase trinta anos depois, retomar uma das suas franchises?
1) Por causa do sucesso do musical inspirado no filme de Ross? Talvez, mas é um facto que a respectiva estreia ocorreu na Broadway já há mais de uma década (1998), além de que o novo filme se assume como remake do original.
2) Porque o primeiro Footloose é uma data incontornável na história do género musical? Temos sérias dúvidas... Mesmo não menospre-zando o sentido de espectáculo de Ross, e também o facto de Bacon (então com 26) se ter imposto como ícone popular, Footloose é uma das muitas tentativas "incompletas" para revitalizar o musical.
3) Enfim, porque Footloose constituiu um raro fenómeno comercial, susceptível de ser repetido, mesmo num contexto totalmente diverso? Nada disso... É certo que o filme conseguiu uma boa performance comercial, mas sem qualquer carácter excepcional, terminando o ano de 1984 em sétimo lugar no top dos mais rentáveis, com 80 milhões de dólares (cerca de um terço do valor acumulado pelo nº 1, O Caça-Polícias).
Que está, então, a acontecer? Um fenómeno que envolve algum desespero: uma espécie de aposta no "passado" para tentar compensar alguns vazios do presente... A política de remakes (que não esgota, longe disso, o cinema made in USA) serve para disfarçar a crise de histórias contemporâneas. Dito isto, só poderemos formular o voto de que o novo Footloose seja uma boa surpresa e contrarie o cepticismo destas linhas.

O desejo, segundo Anna Calvi


É uma das vozes estreates de 2011 e um dos nomes que o ano vai certamente recordar quando chegar a etapa das listas, lá para Dezembro... De Anna Calvi acaba de chegar novo single extraído do álbum de estreia, devidamente acompanhado por um novo teledisco. Aqui fica Desire. A realização é de Aoife McArdle.

Sound + Vision Magazine (2)
amanhã na Fnac Chiado


É já amanhã que tem lugar, na Fnac Chiado, a segunda edição do Sound + Vision Magazine. Os dois autores deste blogue falam, pelas 18.30, no auditório da Fnac Chiado, sobre os discos, os livros e os filmes que fizeram história este mês (e também alguns dos títulos que chegarão nas próximas semanas).

Podem ver aqui o registo em vídeo da primeira edição do Sound + Vision Magazine que ali decorreu em finais de maio.

Novas edições:
Patrick Wolf, Lupercalia


Patrick Wolf
“Lupercalia”
Mercury Records
4 / 5

A coisa começou com uma carga quase épica. Chamar-se-ia Battle, um duplo álbum lançado em duas partes, a primeira na forma de The Bachelor (que escutámos em 2009), a segunda anunciando-se então para um futuro próximo sob a designação The Conqueror... Afinal não foi bem assim e, dois anos depois da promessa, a conclusão do díptico afinal tomou outro sentido e outro nome. Fará ainda sentido encarar os dois álbuns como díptico? Talvez não, a menos que a ideia de um vincado contraste, de uma justaposição de opostos, traduza num par de álbuns o quão diferentes The Bachelor e Lupercalia afinal se apresentam. Com um título que ecoa memórias de um antigo ritual de purificação, Lupercalia é um disco de paz encontrada. Uma paz que se expressa não apenas no desviar das linhas de tensão para outros comprimentos de onda, como se revela numa mais suave ordenação de ideias, inclusivamente aceitando uma redução de elementos em cena fazendo deste talvez o mais contido dos discos de Patrick Wolf. Não que se percas o sentido de grandiosidade cénica que sempre levou a algumas canções nem a fragilidade emocional que igualmente caminhou sempre entre temas dos seus discos. Lupercalia não repete a ousadia das visões dos diálogos entre electrónicas e ecos folk de Wind In The Wires (de resto é dos seus discos o que menos parece interessado em explorar a faceta folksy que por várias vezes já levou às suas canções) nem pisca o olho a dinâmicas mais ritmadas para pop e electrónicas que em temos escutámos em canções como Vulture ou Accident and Emergency (não evitando contudo em Together um delicioso piscar de olho a heranças disco à la Moroder). É antes um disco que parece querer estabelecer um patamar de síntese de ideias pop, conciliando electrónicas e orquestrações, grandiosidade e intimidade, cores e silêncios. Não será nunca “o” álbum de referência da sua discografia. Mas é um belíssimo disco que em tudo nele confirma um dos grandes autores pop do nosso tempo. Que o digam preciosidades como The City, Bermondsey Street ou Time Of My Life, alguns dos melhores instantes de um alinhamento onde, todavia, não há instantes menores.

À volta de Madison Square


Mora entre as ruas 23 e 26, entre a 5ª avenida e a Madison Avenue, a sua mais famosa esquina, ocupada pelo Flatron Building, desenhando-se onde a Broadway cruza a 5ª avenida. A Madison Square, que acolhe a meio o Madison Square Park é um dos espaços desafogados e verdes abaixo do Central Park e acolhe, com regularidade, eventos festivos.

O nome deve-o a James Madison, quarto presidente dos EUA e um dos autores da constituição norte-americana.


Três olhares em torno de Madison Square. No primeiro mostrando o Flatron Building. No segundo, observando o topo dourado do New York Life Building. E, no terceiro, a muito característica forma da torre do Met Life Building.


São várias as estátuas de estadistas e figuras de relevo da nova nova iorquina que podemos ver em torno do Madison Square Park. Nesta imagem a estátua de William H. Seward, secretário de estado nos dias de Abraham Lincoln e o responsável pela compra, em 1867, dos territórios que hoje correspondem ao Alasca.


Um olhar por edifícios residenciais que podemos encontrar na rua 23, na base da Madison Square. À direita, na imagem, o recentemente inaugurado One Madison Park, um condomínio com 50 andares.

Pelas ruas de Nova Iorque (3)

New York New York,
por Frank Sinatra (1979)


É uma das mais célebres das canções que conhecemos na voz de Frank Sinatra. Originalmente composta para a voz de Lisa Minelli, para o filme com o mesmo título realizado em 1977 por Martin Scorsese, a cação teve na versão de Sinatra, gravara em 1979, um êxito à escala global. E tornou-se num dos maiores hinos cantados à cidade de Nova Iorque.

Podem ver uma actuação de Sinatra, aqui.

Björk: primeiros (novos) sons


Aos poucos vamos conhecendo detalhes e, agora, sons, daquele que é o novo projecto de Björk. Com o título Biophilia, o álbum sairá em Setembro, o seu lançamento adivinhando-se num formato inovador, na forma de aplicações para novos suportes... Primeiros sons chegaram este fim de semana, na forma de Crystalline, que será muito provavelmente o primeiro single do novo disco. Podem escutar aqui.